Skip to main content

Full text of "Veritas"

See other formats


REVISTA 

PONTIFICIA  UNIVERS1DADE  CATÓLICA 
DO  RIO  GRANDE  DO  SUL 


DOM  VICENTE  SCHERER  —  Discurso  sobre 

liberdade  de  enslno  . 3 

| 

DR.  OLYNTHO  SANMARTIN  —  Arte  Mo¬ 
derna  .  9 

j  P.  CARLOS  BORROMEU  C.  PP.  S.  —  Um 

perfil  intelectual  de  nossa  época  ....  18 

PROF.0  HILDEGARD  HILTMANN  —  Le  test 
de  pyramides  des  couleurs  et  les  résul¬ 
tats  cliniques  obtenus  .  23 

IR.  IGNACIO  JOSÉ  —  El  Idioma  Español  .  .  38 

IR.  ELVO  CLEMENTE  —  Lobo  da  Costa  ! 

Satírico  .  53 

PROF.a  RUTH  CABRAL  —  Monografía  da 

Profissao  de  Técnico  em  Educacao  .  .  65 

PROF.a  BETTY  B.  B.  FORTES  —  Dionisio  ¡ 

Fuertes  Álvarez  .  77 

PROF.  IR.  JUVÊNCIO  —  Fixacao  de  dunas  84 

Bibliografía  .  94 


ANO  II!  —  Marco  de  1958 


N.°  1 


VERITAS 

Publicaçâo  Periódica-T rimestral 
EXPEDIENTE: 


Diretor-responsável 

Irmào  José  Otáo 


Secretario 

Irmào  Elvo  Clemente 

i 


Comissâo  de  Redacao 

3 

Prof.  Irmào  Faustino  Joào 
Prof.  Antonio  César  Alves 
Prof.  Francisco  da  Silva  Juruena 
Prof.  Des.  Celso  Afonso  Pereira 
Prof.  Manuel  Santana 
Professôra  Elsa  Helm 


ADMINISTRAÇÂO 

Pontificia  Universidad0  Católica  do  RGS  —  Praga  Dom  Sebastiáo,  2 

PÔRTO  ALEGRE  (Brasil) 


Prero  anual.  .  Cr$  100  00 

Número  avulso  . .  Cr$  30,00 

Exterior  .  $2  dó^res 

Professóres  e  alunos  da  Univ.  assinatura  anual  Cr$  50,00 


Formas  de  pagamento:  Vale  postal,  va’or  declarado  ou  che¬ 
que  pagável  em  Porto  Alegre. 


—  Rúa  Cons.  Travassos,  518  — 


gráfica  polaco 


Fone  2-45-23 


PONTIFICIA  UNIVERSIDADE  CATÓLICA 
DO  RIO  GRANDE  DO  SUL 


TOMO  III 


1958 

PORTO  ALEGRE  (RGS) 


BRASIL 


Digitized  by  the  Internet  Archive 
in  2018  with  funding  from 
Princeton  Theological  Seminary  Library 


https://archive.org/details/veritas3119unse 


DISCURSO  DO  SR,  ARCEB1SPO  METROPOLITAN O 
POR  OCASIÂO  DO  SEU  ll.?  ANIVERSARIO  BE 
SAGRAÇÂO  EPISCOPAL  —  23-2-1958 

A  Direçâo  da  «VERITAS»  so  honra  cm  publicar  o  moimmental 
discurso  de  S.  Ex.  a  Rev. ma  D.  Vicente  Scherer,  cm  defesa  da 
educaçâo  crista  e  do  ensino  particular 


A  tribu  o  a  esta  solenidade,  com  palavras  empregadas  em  recen¬ 
te  documento  por  Pió  XII,  a  significaçao  de  um  «testemunho  de 
unidade  e  de  caridade».  Testemunho  de  unidade  das  forças,  das  ini¬ 
ciativas,  das  vontades  e  dos  coraçoes  em  torno  da  pesso'a  do  Bispo, 
como  penhora  de  ortodoxia  na  doutrina  e  de  fecundidade  na  açâo; 
testemunho  de  caridade,  compre :nsáo,  amor  fraterno  que  necessà- 
riamente,  na  familia  diocesana  crista,  manifestam  e  caracterizam  a 
presença  e  o  espirito  de  Deus.  Nao  é  como  «príncipe  da  Igreja»  que 
apraz  ao  Bispo  ser  definido  e  tratado,  mas  como  Pastor  e  Pai,  que 
nâo  conhece  preocupaçoes  e  alegrías  outras  que  o  bem  espiritual  e 
material  das  ovelhas  de  Cristo  confiadas  à  sua  solicitude,  à  sua  vi- 
gilância  e  ao  seu  govêrno.  Aos  presentes,  pois,  e  a  todos  que  bon¬ 
dosamente  se  associaram  a  êste  expressivo  testemunho,  principalmen¬ 
te  ao  generoso  intérprete  dos  sentimentes  da  coletividade  católica, 
a  segurança  do  nosso  sincero  reconhecimento. 

Acrescentou  o  Santo  Padre  às  palavras  citadas  que  «para  o  Bispo, 
responsável  pelo  apostolado  em  sua  diocese  e  pela  doutrina  que  nela 
se  ensina,  todos  os  esforços  devem  convergir.  Faltando  esta  inser- 
çâo  profunda  nos  empreendimentos  comuns  da  Igreja  em  tal  re¬ 
gido  em  tal  meio,  o  ministério  particular  arrisca-se  bem  depressa  a 
perder  sua  fecundidade  sobrenatural,  como  um  rio  desligado  de 
sua  nascente  nâo  tarda  em  secar».  (Carta  ao  Cardeal  Feltin,  25-3- 
1957). 

TRIGO  El  JOÏO 

Consola-nos  sobremodo  o  exuberante  florescimento  das  obras 
de  religiâo,  de  apostolado,  de  assistência  e  caridade  que  o  zêlo  e  a 
generosidade  do  clero  e  de  leigos  operosos  por  tôda  parte  promovem 
e  aperfeiçoam,  dominados  pelo  amor  de  Cristo,  obedientes  aos  apelos 
da  Igreja,  angustiados  pela  miséria  moral  e  espiritual  dos  esqueci- 
dos  de  Deus  e  pela  penuria  económica  dos  abandonados  pela  justiça 
social  dos  homens. 


4 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


Mas,  observamos  igualmente  a  açâo  destruidora  das  forças  da 
negaçâo  e  do  mal.  O  ateísmo  também  entre  nós  conta  com  apóstolos 
e  evangelistas  que  desdobram  atividade  tenaz  e  articulada  que,  sob 
ésse  aspecto,  a  muitos  de  nós,  apáticos  e  comodistas,  poderia  servir 
de  exemplo  e  incitamento. 

Na  sementeira  do  trigo  da  verdade  e  da  virtude,  segundo  a  pa¬ 
rábola  do  Senhor  (Mt.  13),  surpreendemos  o  adversário,  o  «inimicus 
homo»,  que,  na  calada  da  noite  ou  até  sem  disfarces,  à  plena  luz  do 
dia,  vai  passando  e  espalhando  o  joio  e  a  cizánia  da  falsa  doutrina. 

ORIENTAÇAO  MATERIALISTA  DE  ORIENTADORES  DE  ENSINO 

Queremos  hoje  referir-nos  a  um  grupo  poderoso  que,  —  impÓe- 
se-nos  a  renovada  denúncia  à  consciência  católica  e  crista  do  País  — , 
instalado  no  Ministério  da  Educaçâo  e  Cultura  do  Rio  de  Janeiro, 
está  promovendo  nao  só  o  laicismo  do  ensino  mas  também  a  laici- 
zaçâo  e  o  materialismo  da  vida.  Sistemáticamente  pro'cura-se  reali¬ 
zar  um  plano  de  orientaçâo  materialista  e  ateísta  do  ensino  nacional 
e  se  move  urna  campanha  ardilosa  contra  as  escolas  particulares,  em 
favor  do  monopolio  estatal  do'  ensino.  Os  patrocinadores  désse  pro¬ 
grama  de  açâo  apres entam  e  defendem  urna  doutrina  de  desenvolvi- 
mento  nacional  inspirada  e  baseada  na  mesma  filosofía  em  que  se 
abeberou  Carlos  Marx  para  elaborar  as  teses  fundamentáis  da  sua 
interpretaçâo  materialista  da  historia  e  a  sua  teoria  económica,  viga 
mestra  do  comunismo. 


MONOPOLIO  ESCOLAR 

O  Sr.  Prof.  Anísio  Teixeira,  a  figura  mais  destacada  do  referido 
grupo,  apresenta  a  escola  pública,  universal  e  gratuita  do  Estado 
como  remédio  para  os  males  da  educaçâo  do  Brasil  (Educaçâo  nao 
é  privilégio,  1957).  Em  artigo  publicado  em  CAPES,  boletim  infor¬ 
mativo  da  Campanha  Nacional  de  Aperfeiçoamento  de  Pessoal  de 
Nivel  Superior,  afirma:  «Obrigatória,  gratuita  e  universal,  a  educa¬ 
çâo  só  poderia  ser  ministrada  pelo  Estado.  Impossível  deixá-la  con¬ 
fiada  a  particulares,  pois,  estes  somente  podiam  oferecé-la  aos  que 
tivessem  posses  (ou  a  protegidos)  e  daí  operar  antes  para  perpetuar 
as  desigualdades  sóciais  que  para  remové-las»  (n.s  48,  1956,  pg.  3). 
Corn  desprêzo  soberano  e  preconcebido,  o  Professor  fala  do  ensino 
ministrado  pela  Igreja  na  Idade  Média  (A  Educaçâo,  pg.  24). 

A  mentalidade  hostil  ao  ensino  particular,  dominante  em  certas 
esferas  oficiáis,  ficou  evidenciada  igualmente  no  recente  congela- 
mento,  pela  COFAP,  das  anuidades  escolares. 

EDUCAR,  DIREITO  DA  FAMILIA 

Mas,  a  voz  da  natureza  e  da  razáo,  o  consenso  unánime  dos  povos, 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


5 


as  leis  positivas  de  todos  os  Estados  civis  democráticos,  o  ensino  da 
Igreja,  proclamam  concordemente  que  a  educaçâo  dos  filhos  é  um 
dever  natural  de  quem  lhes  deu  a  vida.  O  direito  de  educar  decorre 
da  própria  geraçâo  dos  filhos.  Depois  que  estes  atingiram  seis  ou 
sete  anos,  a  familia  nécessita  de  urna  escola  para  dar-lhes  formaçâo 
completa.  A  escola  deve  ser,  pois,  considerada  um  prolongamento  e 
um  aperfeieoamento  da  familia.  E  os  pais,  confiando  os  filhos  à  esco¬ 
la,  nao  podem  renunciar  ao  seu  direito  inalienável  de  educar  mas  sᬠ
mente  o  delegam,  na  medida  reclamada  pelo  bem  dos  filhos  e  da  co- 
letividade. 


OS  MESTRES,  MANDATARIOS  DOS  PAIS 

Realmente,  se  a  educaçâo  dos  filhos  é  um  direito  natural  e  in- 
tangível  da  familia,  as  pessoas  associadas  a  esta  obra  educativa,  mes- 
tres  e  dirigentes  dos  institutos  escolares,  sao  mandatários  e  repre¬ 
sentantes  des  pais.  E  como  a  escola  tem  essencialmente  urna  funçào' 
educativa,  escolher  urna  determinada  escola  significa  preferir  urna 
certa  forma  de  educaçâo  escolar:  informada  de  especiáis  principios  pe¬ 
dagógicos,  moráis  e  religiosos.  Decorre  dai  um  primeiro  e  fundamen¬ 
tal  aspecto  da  liberdade  escolar:  a  livre  escolha  da  escola  por  par¬ 
te  dos  pais.  Os  direitos  da  familia  sao  anteriores  e  superiores  aos 
do  Estado  e  da  comunidade  política  que  se  constituí  pela  uniáo  de 
familias  existentes  antes  déle. 

Nao  reivindicamos  o  direito  de  educar  sámente  para  os  pais 
católicos;  aos  adeptos  de  qualquer  crença  e  mesmo  ás  familias  pagas 
assiste  êle  igualmente,  com  fundamento  nas  razóes  apontadas.  O  mono¬ 
polio  estatal  do  ensino  é  um  violento  atentado  a  prerrogativas  insu- 
primíveis  da  familia. 


A  PALAVRA  DOS  PAPAS 

Multiplicaram  os  Sumos  Pontífices  nos  últimos  setenta  anos  as 
manifestaçoes  do  seu  magistério  sobre  éste  ponto.  Aínda  há  poucos 
meses,  em  novembro  do  ano  findo,  Pió  XII,  falando  ao  l.°  Congresso 
Internacional  das  Escolas  Particulares  da  Europa,  insistiu:  «Um  Es¬ 
tado  que  atribuí  a  si  exclusivamente  a  tarefa  da  educaçâo  e  proíbe  aos 
particulares  ou  aos  grupos  independentes  de  assumir  nesse  setor 
responsabilidade  própria,  manifesta  urna  pretensáo  incompatível  com 
as  exigencias  fundamentáis  da  pessoa  humana.  Assim  a  idéia  da 
liberdade  escolar  é  admitida  por  todos  os  regimes  políticos  que  re- 
conhecem  os  direitos  do  individuo  e  da  familia»  (Oss.  Rom.  13-11-57). 

O  MONOPOLIO  E  OS  REGIMES  TOTALITARIOS 

O  monopolio  estatal  do  ensino  é  tese  essencialmente  totalitária 
e  antidemocrática.  Nos  países  satélites  da  Rússia,  os  dirigentes  so- 


6 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


viáticos  iniciaram,  cm  todos  êtes,  a  supressâo  dos  direitos  politicos  c 
a  perseguiçâo  religiosa  com  o  fechamento  das  escolas  da  Igreja.  Hi¬ 
tler,  desde  1935,  movimentou  a  tremenda  máquina  publicitária  do 
nazismo  contra  as  escolas  confessionais,  até  su  a  total  extinçao.  Mus¬ 
solini,  em  1929,  preparou  o  golpe  destruidor  do  ensino  particular  na 
Itália  e  foi  esta  a  ocasiâo  que  motivou  a  publicaçâo  da  monumental 
encíclica  de  Pió  XI  «Divini  Illius  Magistri»,  verdadeira  Carta  Mazna¬ 
da  educaçâo  crista  da  juventude. 

A  socializaçâo  dos  meics  de  produçâo,  postulado  básico  do  comu¬ 
nismo,  estabelece  e  firma  a  tiranía  económica  do  Estado  sobre  os 
cidadáos  e  trabalhadores;  espoliaçâo  pior,  em  certo  sentido,  vem  a 
ser  a  socializaçâo  ou  monopolio  do  ensino,  porque  escraviza  as  inte- 
ligéncias  ao  Estado  que  pretende  impor  aos  súbditos  a  opiniáo  de 
alguns  poderosos  do  momento  sóbre  o  sentido  e  a  orientaçâo  da  vida. 

TENDENCIA  GENERALIZADA 

Observamos  que  em  toda  parte,  nao  só  nos  países  totalitários, 
os  povos  como  os  individuos  acham-se  em  nossos  dias  constantemen¬ 
te  ameaçados  pelas  tendencias  crescentes  do  Estado  moderno  de 
impor  a  sua  dominaçâo  absoluta  em  quaisquer  setores  da  vida  e  das 
atividades  humanas.  O  pcrigo  de  tornarem-se  totalitários  constituí 
tentaçâo  permanente  dos  governso  em  nossos  tempos.  Ésse  totalita¬ 
rismo  está  dentro  da  lógica  do  materialismo  e  da  negaçâo  da  vida 
espiritual.  E’  um  método  muito  cómodo  para  o  govérno.  Mas,  nao 
corresponde  à  justa  concepçâo  do  hornera  e  menos  aínda  ao  con- 
ceito  cristáo  do  Estado . 

Se,  pois,  negamos  ao  Estado  o  direito  ao  monopolio  escolar,  que 
erradamente  ele  se  reivindica,  temos  a  certeza  de  dar  urna  contri- 
buigáo  preciosa  e  talvez  decisiva  à  vida  cultural  do  nosso  povo,  ao 
seu  livre  desenvolvimento  democrático  no  sentido  mais  verdadeiro 
da  palavra.  Na  defesa  da  liberdade  escolar  a  luta  dos  católicos  de- 
verá  ser  decidida  e  sem  treguas.  O  sr.  Anísio  Teixeira  e  seus  cola¬ 
boradores  pretendem  possuir  um  sistema  ou  método  educativo  pró- 
prio,  que  nao  é  seguramente  o  que  preconiza  e  aplica  a  Igreja. 

GLORIAS  E  FALDAS  DO  ENSINO  PARTICULAR 

Nao  tem  fundamento  a  campanha  de  descrédito  que  alguns  fun- 
cionários  do  Ministério  da  Educaçâo  movem  contra  a  escola  livre  ou 
particular.  Haverá  certamente  deficiências  e  abusos.  Mas,  porven¬ 
tura  nao  existem  éles  nos  estabelecimentos  oficiáis?  As  repetidas 
exortaçoes  de  Pió  XII  e  inúmeros  documentos  episcopais  demons¬ 
trara  vivamente  quanto  a  Igreja  se  preocupa  com  o  aperfeiçoamento 
do  ensino  católico  e  a  atualizaçâo  dos  métodos  didáticos. 

Centenas  de  milhares  de  pais  e  máes,  em  todo  o  territorio'  na¬ 
cional,  fazem  pesados  sacrificios  para  enviar  os  filhos  aos  insti- 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


7 


tutos  educativos  fundados  e  mantidos  pela  Igreja  ou  outras  enti¬ 
dades  particulares.  Pensam  éles  sobre  o  ensino  livre  de  modo:  di¬ 
ferente  do  Sr.  Prof.  Asisto  Teixeira  e  seus  companheiros .  Acusam 
estes  o  ensino  livre  de  mercantilismo  e  promotor  ou  conservador 
de  desigualdades  sociais.  A  generalizaçâo  é  inteiramente  injusta. 
Concordamos  em  que  aquéles  que,  ao  abrir  um  estabelecimento  de 
ensino  procuram  montar  um  negocio  rendoso,  nao  devem  obter  pro- 
teçâo  do  Estado.  Mas,  os  abusos  sao  exceçôes.  Quem  nao  observa 
que  eventuais  economias  ou  lucros  dos  colégios  católicos  sao  apu- 
cados  em  beneficio  do  próprio  ensino,  isto  é,  em  prol  das  obras  de 
formaçâo  dos  futuros  mestres,  ou  na  ampliaçâo  des  estabelecimen- 
tos  e  na  construçâo  de  outros  novos? 

ALUNOS  RICOS  E  POBRES 

Seráo  as  escolas  particulares  para  os  ricos?  Nos  estabelecimen- 
tos  públicos  estudam  pessoas  abastadas  da  mesma  forma  como  nos 
colégios  particulares .  O  Minitério  da  Educaçâo  e  Cultura,  como'  é 
indeclinável  obrigaçâo  de  jutiça  distributiva  do  Estado,  auxilie  com 
suas  verbas  as  aulas  particulares  para  que  se  possam  manter  ho¬ 
nestamente  e  as  taxas  escolares  seráo  diminuidas  ou  abolidas.  Em 
muitas  ótimas  escolas  do  interior,  os  pais  pagam  a  contribuiçâo  ín¬ 
fima  de  vinte  cruzeiros  mensais  ao  professor  primário  particular 
que  nao  aufere  do  ensino  o  mínimo  indispensável  para  sua  decente 
subsistência.  muitos  professóres  municipals  vivem  ñas  mesmas  pre- 
cárias  condiçoes.  E’  urna  clamorosa  injustiça  que  o  Estado  comete 
obrigando  os  pais,  que  desejam  urna  escola  informada  de  determi- 
nacoes,  principios  educativos,  a  pagar  duas  vêzes  a  taxa  escolar, 
urna  vez  contribuindo  para  os  impostos  comuns,  com  que  sao  man¬ 
tidos  os  estabelecimestos  públicos  de  ensino,  e  outra  vez  atendendo 
ás  justas  exigéncias  da  escola  particular  em  que  os  filhos  estudam. 

APREENSÓES  E  ESTRANHEZA 

Os  ataques  velados  e  abertos  que  partem  do  Ministérió  da  Edu¬ 
caçâo  contra  o  ensino  livre  nos  suscitam  graves  apreensóes  e  aler- 
tam  a  consciéncia  crista.  Devemos  estar  a  postos  para  a  defesa  de 
urna  das  prerrogativas  mais  caras  e  imprescritíveis  de  um  povo 
livre.  Neste  ensejo,  em  nome  da  populaçâo1  católica  do:  Rio  Grande 
do  Sul,  interpretando  sem  dúvida  também  o  pensamento  dos  adep¬ 
tos  das  religióes  evangélicas,  com  o  devido  respeito,  manifestamos 
a  nossa  estranheza  diante  do  fato  de  que  o  Sr.  Presidente  da  Re¬ 
pública  e  o  Sr.  Ministro'  da  Educaçâo  nâo  tenham  tomado  decisivas 
providências  para  impedir  o  agravo  que  se  está  cometendo  aos  di- 
reitos  da  imensa  maioria  dos  cidadáos  brasileiros,  que  se  conser¬ 
van!  fiéis  à  fé  tradicional,  e  em  geral  ao  direito  fundamental  dos 
pais  à  escola  de  sua  preferéncia. 


8 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


EXCELENCIAS  DA  EDUCAÇÂO  CRISTA 

A  educaçâo  crista,  que  a  Igreja  preconiza  e  exalta,  enriquece  a 
vida  intelectual  com  conhecimentos  técnicos  e  cientificos,  enrija  o 
corpo  pela  cultura  física,  mas,  principalmente,  fortalece  a  vontade, 
forja  caracteres,  purifica  e  enobrece  o  coraçâo,  desenvolve  e  ali¬ 
menta  urna  sadia  vida  de  fé  e  de  piedade.  Urna  escola  sem  ideal 
superior,  urna  pedagogía  sem  alma,  um  ensino  sem  preocupaçâo  edu¬ 
cativa,  seria  um  jardim  sem  sol,  um  lar  sem  fogáo,  urna  lareira  sem 
chama,  um  coraçâo  sem  amor,  um  corpo  sem  alma,  urna  fonte  sem 
jorro  de  água  cristalina,  um  canteiro  sem  flor,  urna  rosa  sem  matiz 
e  perfume.  O  efeito  e  o  resultado,  intencional  ou  nâo,  se  as  falhas 
nao  forem  sanadas  em  outros  ambientes,  seria  um  pernicioso  atro- 
fiamento  da  obra  educacional,  urna  subnutriçâo  afetiva,  um  depau- 
peramento  espiritual  da  criança  e  do  jovem,  a  caminho  para  a  des- 
cristianizaçao  do  povo  e  o  bolchevismo  económico  e  moral.  Deus 
preserve  o  Brasil  da  perda  do  seu  mais  opulento  patrimonio,  a  alma 
crista  dos  seus  filhos. 

O  PAO  E  A  PALAVRA  DE  DEUS 

No  evangelho  déste  domingo,  o  primeiro  da  Quaresma,  escuta- 
mos  as  palavras  com  que  o  Salvador  repeliu  o  tentador:  «Nao  é  só 
de  pao  que  vive  o  homem,  mas  de  toda  palavra  que  sai  da  boca  de 
Deus».  A  escola  dará  ao  educando'  nâo  somente  o  páo  da  instruçâo, 
o  aprendizado  de  noçôes  e  conhecimentos,  a  habilidade  profissional; 
ao  páo  natural  do  enriquecimento  intelectual  e  da  preparaçâo'  téc¬ 
nica,  é  preciso  acrescentar  q  páo  do  espirito,  a  formaçâo  da  vontade 
para  a  vida  da  graça,  segundo  a  palavra  que  sai  da  boca  de  Deus. 
Para  os  individuos  e  os  povos  é  éste  o  caminho  do  progresso,  da 
justiça,  da  felicidade,  do  triunfo  e  da  gloria. 


4 


ARTE  MODERNA 

OLYNTHO  SANMARTIN 

A  chamada  Arte  Moderna  num  sentido  generalizado  onde  a  cul¬ 
tura  na  sua  substancia,  foi  perturbada,  quer  na  poesia,  na  prosa,  na 
música’  na  estatuária  e  na  pintura,  deu  margem  a  urna  longa  dialé- 
tica  e  choques  de  opinióes  que  até  hoje  perduram. 

Felizmente,  entre  nós,  a  poesia  aquietou-se  e  vive  sua  trajetó- 
ria  inexpressiva  como  corolário  evanescente  do  grupo  paulista  que 
aínda  conserva  um  aroma  consagrador  por  ser  o  marco  histórico 
de  urna  falange  pioneira.  Vai,  contudo,  marchando  para  a  categoría 
do  saudosismo. 

A  prosa  nao  encontrou  possibilidades  para  criar  novos  padroes, 
e  estagnou-se  ñas  primeiras  investidas  desarticuladas  enquanto  que 
a  música,  corn  suas  interpretaçoes  delirantes  vai  salpicando,  rara¬ 
mente,  o  mundo  inviolável  da  harmonia  clássica. 

Já  a  escultura  e  notadamente  as  artes  plásticas,  persistem  na 
sua  tentativa  demolidora  bascada  em  teorías  que  no  metamorfismo 
da  transladaçâo  para  a  tela,  cai  no  vácuo  da  inestética  sistemática. 

Náo  sao  necessários  conhecimentos  especializados  para  preco¬ 
nizar  que  nos  moldes  apresentados  jamais  a  pintura  moderna  como 
arte  dominará  a  arte  humanista  que  desde  a  antiguidade  aos  nossos 
días  vem  evoluindo  e  se  plasmando  como  cultura  aprimorada. 

Um  acervo  de  ordem  genial  nao  poderá  ser  destruido  nem  di¬ 
minuido  por  um  sistema  onde  a  cultura  e  a  razáo  sao  eliminadas  ab¬ 
dicando  de  qualquer  intervençâo  emocional  humana. 

Enquanto  certas  modalidades  apresentam  motivos  racionáis,  o 
cubismo,  jogando  as  formas  geométricas  com  o'  quadro  visual,  deu¬ 
nos  o  resultado  de  coisas  espantosas  que  o  surrealismo  mais  avan- 
çou  de  um  modo  herético. 

Sobre  ésse  tema,  um  ilustre  homem  de  letras  atualmente  em 
Londres,  em  resposta  a  urna  carta  que  lhe  escrevi  abordando  a  arte 
moderna,  escreveu-me  extensa  epístola  que  considero  um  depoi- 
mento  de  alta  importancia  cultural,  principalmente  como  documen- 
tário  crítico  e  de  que  passo  a  transcrever  a  parte  que  intéressa  ao 
assunto,  aínda  que  para  isso  nao  esteja  credenciado. 

«E’  urna  impertinéscia  desvairada  insistir  nesse  deslize  teórico: 
da  pintura  moderna. 

«A  sua  legitimidade  nao  chega  a  promover  conflito,  tal  é  seu 
primarismo  frustrado. 

«Na  própria  música  clássica  que  aplaca  a  ferocidade  dos  ani- 


10 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


mais  bravios,  ouvinclo  certas  composiçoes  modernas,  por  certo  qu* 
há  de  multiplicar  a  furia  das  feras.  A  irracionalidade  é  urna  prova 
da  triste  observaçâo.  E’  a  desintegraçao  da  harmonia  tomando  o 
rumo  da  alucinaçâo.  Todo  êsse  borbulho  sem  expressáo  auténtica, 
cai  pela  indigencia  filosófica . 

«Com  isso  nao  estou  pensando'  no  renascimento,  na  herança  da 
antiguidade  clássica,  no  rigor  dos  cánones  académicos,  mas  apenas 
na  infantilidade  como  se  pretende  jogar  e  adulterar  urna  táo  alta 
virtude  que  o  génio  humano  conseguiu  edificar  no  convivio  do 
mundo. 

A  prosa  literária  moderna  mal  chegou  a  nascer  e  pereceu. 
Subsiste  apenas  numa  tendéncia  de  obscenidade.  A  poesia,  sem 
significaçâo,  é  diluida,  sem  que  alguém  déla  tome  conhecimento . 
A  música  tem  claros  e  escuros  predominando  sempre  os  escuros.  A 
escultura  e  pintura,  fácil  e  de  forma  quase  vil  de  ser  exercida,  per- 
sistem  no  seu  malogro.  E’  urna  arte  que  ficará  na  historia  como 
arte  falida,  semelhantes  a  alguns  nomes  quinhentistas  que  pela  sua 
mediocridade  daquela  época,  hoja  sao  lembrados  com  chacotas. 

A  beleza  emociona  sempre,  seja  ela  rústica,  bárbara  ou  nobre, 
dentro  da  natureza  ou  concebida  p  =  l0'  génio  do  homem.  Basta  que 
haja  qualquer  manifestaçâo  de  conteúdo  espiritual  para  despertar 
os  sentidos  da  emoçao.  O  próprio  artificio,  quando  elaborado  com 
fundo  estético,  fixa-se  como  módulo  emocional. 

Tudo  o  resto  é  frió,  vulgar,  massa  convencional  informe,  coisa 
morta,  inexpressiva,  sem  caráter  e  sem  vestigios  de  cultura.  A  arte 
moderna  de  profundo,  só  conserva  a  pequenez.  A  dialética,  meu 
amigo,  que  em  torno  désse  surto  passageiro  que  tenta  conturbar  o 
espirito  de  urna  geraçf  o  incauta,  nao  passa  de  teorías  sem  lógica, 
trivialíssimas,  concitando  o  homem  à  prática  de  mediocridades  la- 
mentáveis. 

O  que  por  ai  se  vé  lembra  um  esquife  diante  de  oradores  pane¬ 
gíricos  que  falam  ao  morto,  dando  a  ilusáo  aos  circunstantes  de 
que  o  corpo  inerte  os  ouve  em  siléncio,  agradecido. 

Quanta  banalidade  rotulada  de  arte  provocando  sorrisos  íntimos 
dos  próprios  autores. 

Na  impossibilidade  de  criar  nova  técnica  artística,  porque  o  re¬ 
nascimento  alcançou  o  limite  da  genialidade  estética,  contenta-se  a 
nova  escola  a  tentar  destruir  o  que  é  indestrutível,  tornando'  im- 
perfeito  o  que  deve  ser  e  é  perfeito,  monstruoso  o  que  é  belo  por 
forças  irremovíveis  da  natureza. 

E’  a  parodia  grotesca  dos  ideáis  da  especie  humana  como  se  a 
eternidade  pudesse  ser  limitada  e  explorada  num  devaneio'  turístico. 

Quer  estabelecer  justificativas  numa  retórica  de  bases  trans¬ 
cendental  para  que  o  equilibrado,  o  que  é  percebido  pelos  sentidos 
seja  tortuoso,  inverídico,  falso  ñas  premissas  fundamentáis  e  vazio 
no  planejamento  da  sua  própria  esterilidade.  O  sol  será  visto  como' 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


11 


um  retângulo  negro,  a  nolle  uma  massa  luminosa.  Inversâo  total  e 
absoluta  das  realidades  normáis. 

O  que  vemos,  o  que  encontramos  ai?  Apenas  um  cataclismo 
artístico,  um  amontoado  de  incongruéncias  que  nao  emocionara  mas 
que  fazem  rir,  que  nao  atraem  mas  que  conduzem  ao  anedotário 
picaresco,  que  nao  lembram  museus  mas  fazem  pensar  nos  hospi¬ 
cios.  E  com  isso  o  mundo  artístico  se  diverte. 

Nao  repare,  meu  amigo,  éste  conceito,  mas  quero  ser  franco' 
ñas  minhas  convicçôes:  Digo-lhe  que  a  arte  moderna  é  um  embuste 
primário,  estética  cínica . 

Será  isso  tudo  evoluçâo,  liberdade,  fuga  ao  classicismo  para  al- 
cançar  uma  estética  mais  apurada,  mais  genial? 

Nao  posso  admiti-lo  nem  mesmo'  como  absurdo.  E’  apenas  uma 
queda,  um  recuo  todo  decorativo  para  a  vulgaridade,  para  o  infe- 
riorismo  essencialmeste  obscuro,  dissimulado  por  uma  fantasia  au- 
daciosa  e  ludibriadora  convertía  em  ascensáo  divinizada.  Pura  mis- 
tificaçâo.  Mito  sem  conteúdo,  sem  harmonía,  tanto  em  sua  imagi- 
naçâo  como  na  sua  plástica  e  suas  bases.  Rudimentarismo  que  fere 
a  sensibilidade  onde  a  ciencia  alcançou  seu  ponto  máximo,  enquan- 
tb  que  a  arte  tenta  alcançar  seu  ponto  mínimo.  Eis  o  contraste. 

Falta-lhe  humanismo,  nao  apresenta  sequer  um  matiz  de  ló¬ 
gica  artística,  originalidad©  mental. 

Há  modernistas  de  classe  e  os  que  nâo  possuem  classe  alguma 
mas  que  na  fatura  ostensiva  da  obra  nao  se  destinguem  porque  nao 
existem  linhas  características.  Tudo  é  uniforme,  plano,  vazio.  Co- 
nhecem-se  os  de  classe,  nâo  pela  obra  feita,  que  é  lugar  comum, 
mas  pelos  conhecimentos  revelados  individualmente. 

E’  o  artista  que  o  denuncia.  E  éste  artista  onde  foi  haurir  seus 
conhecimentos,  sua  cultura,  seu  humanismo?  Ñas  velhas  escolas,  nos 
bancos  académicos,  dos  grandes  mestres,  no  classicismo,  na  fonte 
da  verdade  e  autenticidad©  artística. 

Depois  désses  estudos  fundamentáis  é  que  deriva  para  as  fan¬ 
tasias  de  uma  anatomía  mirabolante  de  tolices .  Deriva  para  essu 
conduta  por  consciéncia  apenas  para  tornar-se  extravagante  e  atrair 
sobre  si  a  atençâo  estupefata  do  público.  E’  um  negocio  que  surge 
aparente,  porque  entre  urna  multidáo  de  normáis,  o  anormal  que 
aparecer  entre  éles,  se  distingue  sempre  e  a  curiosidade  se  movi- 
menta. 

Ora,  caro  amigo,  se  o  classicismo,  tornou-se  indispensável  para 
a  formaçâo  cultural  do  futuro  modernista,  como  poderá  ésse  mesmo 
modernista  a  posteriori,  ultrajar  o  clássico  se  todo  o  seu  egocen¬ 
trismo,  o  colorido  sensorial,  é  puramente  clássico  e  déle  se  valeu  e 
o  hauriu  tongamente  para  poder  ser  o  que  é? 

Nada  me  induz  a  contaminar-me,  porque  tudo  é  instintivo  e  es¬ 
pontáneo,  com  o  que  nos  deixaram  de  sublime  as  artes  plásticas  e 
a  estatuária  do  pré-renascimento.  Com  o  advento  renascentista,  a 
genialidade  latina  converteu  sua  obra  artística  em  epopéia  eterna. 


12 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


Mas  nem  sempre  a  arte  é  beleza  pura .  Estabelecer  a  frcnteira 
dessas  duas  imensas  magias  da  vida,  nâo  cabe  a  postulados,  a  pre- 
concdto.  Há  uma  realidade  consistente  que  domina  o  convencio¬ 
nalismo. 

A  humanidade  que  rosnou  no  período  da  pedra  lascada,  certa- 
mente  viveu,  pela  própria  inconsciencia  da  beleza  hoje  classificada, 
horas  de  selvagem  emoçâo.  Sentir  a  beleza  sem  ccmpreendé-la,  sem 
identificá-la,  é  o  paradoxo  das  realidades  vivantes. 

Estou  me  tornando  eufórico  com  fluidos  de  ostentaçâo  erudita, 
mas  desojo  aínda  externar  num  momento,  algumas  idéias  sobre  éste 
tema. 

Se  quiséssemos  convergir  para  o  ángulo  de  urna  análise  pro¬ 
funda  veríamos  que  a  nova  escola  nao  chega  siquer  a  ser  intuiçâo. 
O  método  é  o  nebuloso,  o  descontinuo  e  inorgánico,  despido  total¬ 
mente  de  objetividade  artística.  E’  um  esfôrço  doloroso  contra  a 
justa  sensibilidade  humana.  Nâo  forma  volume  nem  patrimonio  mo¬ 
ral,  apenas  provoca  crítica  pela  seriedade  que  pretende  ostentar. 

E’  uma  puríssima  simulaçâo  com  os  caracteres  daquela  que  Teo- 
frasto  táo  bem  definiu  há  quase  23  sáculos  e  ciue  acabou  converten- 
do-se  hoje  em  charlatanismo  pomposo.  O  próprio  ideal  é  negativo, 
de  excelente  impericia  concepcional  numa  insensibilidade  estacio- 
nária . 

Falta-lhe  aínda  a  vivencia,  a  substáncia  de  sentido  universal, 
o  espirito  que  nâo  só  o  classicismo  exige  mas  a  ética  e  a  moral  e 
que  se  sobrepôem  às  extravagáncias  individualistas.  Nâo  possui  al¬ 
ma,  girando  em  torno  de  fórmulas  reflexas. 

O  instinto  artístico  é  uma  norma  que  tem  por  finalidade  criar. 
Mas  o  que  será  a  criaçâo?  E’  um  esfôrço  mental  onde  se  manifesta, 
com  todos  os  requisitos  determinados  pela  boa-cultura,  a  concepçâo 
objetiva.  Nunca,  porém,  será  um  improviso,  uma  invençâo  sem  co- 
ligaçâo  de  idéias . 

O  modernismo  improvisa  sempre  e  se  há  idéia  é  exatamente 
esta  de  conseguir  o  máximo  do  ilógico,  do  inverossimil,  do  defor¬ 
mado,  do  incompreensível,  numa  confusa  terminología  de  escolas 
difícil  de  distingui-las.  Tudo  há  de  causar  mau  estar,  sofrimento 
e  muita  obstinaçâo.  E’  claro  que  sesta  categoría  nâo  se  classificam 
os  moderados,  que  na  pintura  e  escultura  e  na  própria  música  e 
poesía,  mantêm  a  linha  profunda  de  tudo  o  que  é  natural.  O  super- 
ficialismo  e  a  plástica  de  urna  arte  anedótica  faz  de  uma  possibili- 
dade  artística,  uma  realidade  morta  sem  aquela  riqueza  interior  pre¬ 
conizada  por  Hegel.  E’  ésse  plasma  de  virtuosismo  capaz  de  dar 
sobrevivéncia  e  alcançar  a  posteridade  da  historia  artística,  que  mais 
falta  ao  modernismo. 

Nâo  passa  de  uma  degradaçâo  com  as  facetas  de  uma  pusilani- 
midade  que  mais  a  inferioriza.  Devemos  ser  francos,  meu  amigo, 
e  compreender,  porque  a  liçâo  é  muito  elementar,  que  para  acei- 
tarmos  essa  diabólica  anatomía  precisaríamos  criar  um  mundo  no- 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


13 


vo  habitado  por  aquelas  figuras,  com  aquela  colossal  natureza  caó¬ 
tica,  para  assim  fixar-lhe  o  caráter,  o  estigma  de  urna  arte  fantas¬ 
magoría,  e  assim  deixaria  de  ser  transitoria,  fútil,  arbitrária  e  sem 
significaçâo  em  tôdas  suas  dimensoes. 

Ai  a  sensibilidade,  o  talento,  o  engenho  nao  seriam  aviltados 
e  o  sentimento  e  vitalidade  seriam  adereços  sem  importancia. 

Se  contemporáneamente  o  clássico  é  para  os  corifeus  modernis¬ 
tas,  simples  copia,  urna  imitaçâo  co'mum,  será  sempre  urna  imitaçâo 
dificil  de  executá-la  que  só  raros  artífices  a  conseguem.  O  moder¬ 
nismo  nâo  passa  igualmente  de  urna  mediocre  imitaçâo  solidária 
entre  si  com  a  evidente  vantagem  de  ser  fácil,  trivial,  que  tanto 
pode  ser  exercida  por  um  génio  como  por  um  néscio  porque  a  cul¬ 
tura  nao  exerce  funçâo  alguma  na  obra  surrealista. 

Para  justificar  as  observaçôes  dessa  nova  arte  plástica,  seus 
mentores  imaginaram  enfeitá-la  com  artefatos  metafísicas  classifi- 
cando-se  gnosticismo  estético  que  só  os  taumaturgos  poderáo  com- 
preendé-la  porque  seus  autores  admitem  sua  existéncia  mas  in  foro 
conscientiae  déla  nada  entendem. 

Se  formos  admitir  de  que  a  teoria  está  certa,  teríamos  que  ad¬ 
mitir  também,  para  a  interpretaçâo  do  mundo  cósmico,  novas  leis 
para  favorecer  seus  principios,  e  chegaríamos  a  essa  conclusáo  de- 
soladora  de  que  o  cosmo  reje-se  por  leis  que  nunca  existiram,  ro¬ 
lando  assim  na  vala  comum  do  artificial,  do  inconsciente,  da  fraude, 
da  fábula  artística,  de  tudo  o  que  é  falso  e  falho  de  senso  e  sabor 
intelegível . 

Caso  houvesse  um  fundo  estético'  plausível,  o  surrealismo  como  o 
cubismo  do  principio  do  nosso  século,  o  expressionismo  e  mesmo  o 
abstracionismo,  com  certa  boa  vohtade,  seriam  dignos  de  exame. 
Mas  o  que  se  encontra  é  exatamente  essa  aridez,  essa  estática,  ésse 
encanto  amorfo,  fuga  de  atracáo,  de  integridade  sentimental  que 
sao  inatas  no  homem.  Tal  arte  nao  pode  ser  apresentada  a  quem 
vive  neste  mundo,  que  só  conhece  éste  mundo,  que  se  abeberou  da 
cultura  déste  mundo'  ainda  que  destendida  por  diferentes  épocas  e 
civilizaçôes. 

Embora  considerando  a  idéia  surrealista  de  querer  aproximar 
o  quadro  especial  às  evidéncias  reais,  seria  louvável  fazé-lo,  porém 
com  arte  e  nâo  acredito  e  ninguém  sériamente  o  admitirá,  que  isso 
seja  conseguido  com  o  processo'  até  hoje  empregado.  Isso  seria 
conseguido  por  meio  de  símbolos  executados  com  muita  arte,  nunca 
corn  borróes  e  imagens  truculentas  que  dilaceram  o  espirito.  Ésse 
problema  caberia  própriamente  à  literatura,  nunca  à  plástica  dis¬ 
forme  . 

A  geometría,  afinal,  foi  a  responsável  pela  criaçâo  dessa  mor¬ 
fología  cabalística  que  Picasso  lançou  aos  ares  para  ser  colhida  por 
qualquer  criatura  que  quisesse  tornar-se  artista.  Poderíamos  resu¬ 
mir  o  fundamento  do  cubismo  e  derivaçoes  ampliadas,  de  que  tudo 
nâo  passa  de  urna  fórmula  filosófica  capaz  de  formar  um  cía  que 


14 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


somente  entre  seus  adeptos  deve  ser  praticado  e  o  seu  entendimien¬ 
to,  por  um  principio  de  coerência,  de  ve  existir  como  puro  conven¬ 
cionalismo  porque  nada  há  de  esséncia  capaz  de  comportar  expres- 
soes  estéticas  humanas.  A  própria  certeza  do  arrazoado  é  conven¬ 
cional  num  aturdimento  insensato,  ende  o  raciocinio  funciona  in¬ 
versamente.  E’  evidente  a  incapacidade  ele  atender  as  imposiçoss, 
às  solicitaçoes  do  espirito.  A  exegese  é  apenas  um  testemunho  que 
lhe  dá  alentó  porque  sem  ola  tu  do  seria-  um  ensaio  banal  sem  a  me¬ 
nor  significaçâo  real,  sem  resposta  às  perguntas  circunstanciáis. 
Pura  fragmentaçâo  de  entusiasmos  que  deseo nhecern  sua  própria 
genese.  Sente-se  como  está  desprovida  de  sensacoes,  de  extase,  de 
excelsitude,  como  urna  falsificaçâo  do  pcssível  para  atingir  o  caos 
do  impossível.  Sua  maior  preocupaçào  é  a  do  excídio,  que  lembra  o 
desesperado  que  na  impotencia  de  criar  se  contenta  em  destruir . 

Nao  se  trata  de  um  fenómeno  evolutivo1,  mas  de  urna  revoluçâo 
discricionária  ende  a  formaçao  biológica  do  homem  é  fulminada  co¬ 
mo  se  intelectualmente  ésse  ato  de  rebeldia  dependesse  da  vontade 


de  grupos  inconformados  com  a  obra  da  natureza. 

O  essencial  é  romper,  destruir,  desintegrar  a  imagem  visual 
que  a  natureza  soberanamente  nos  premiou,  para  estabelecer  outra 
desconhecida  que  os  sentidos  normáis  repelem  in  limine  por  faltar - 
Ihe  tôda  a  razáo  humanística  como  se  contudo  isso  coubesse,  ao 
menos  a  idéia  de  urna  sucessâo  ou  evoluçâo  quando  a  linha  mestra 
exige  «'decomposiçâo  irracional»  dos  expressionistas  e  «destruiçâo 
analítica  racional»  dos  cubistas,  conforme  esclarece  Cirlot. 

Exprime  táo  pouca  seriedade  que  a  classificaçâo  de  interpreta- 
çoes  e  práticas  técnicas  tanto  se  assemelham  pela  sua  falta  de  con- 
teúdo,  que  o  movimento  de  Zurich,  levando  a  teoria  de  roldao,  ficou 
em  evidencia,  nao  um  propósito  revolucionário  mas  urna  tendéncia 
de  completa  anarquía  sem  nem  um  respei^o  à  divina  arte. 

Nao  podemos  conceber  que  ñas  esferas  celestiais  ou  no  fundo 
da  consciencia  do  homem  que  pratica  o  surrealismo,  sámente  exista 
o  monstruoso  sem  vestigio  algum  daquela  beleza  que  o  mundo'  onde 
vivemos  nos  mostra  a  cada  passo.  O  surrealismo,  essa  metáfora, 
essa  experiéncia  teórica,  pura  invençào  para  criar  coisas  potencial¬ 
mente  contrárias  às  forças  imanentes  da  natureza  que  nos  cerca,  po- 
derá  pensar  e  até  realizar  formas  geométricas  estapafurdias  mas 
nunca  com  o  rótulo  de  arte.  Simples  aríezanato  sui-generis  onde 
a  sensacáo  da  beleza,  a  emoçâo  da  harmonia,  sao  sumáriamente  ex¬ 
cluidas.  E’  apenas  a  arte  da  «boa  vontade/  isto  é,  resignaçâo  em 
aceitá-la,  santificando-a  a  um  modo  gnotíscita,  num  halo  de  mis- 
tério  laical. 


Nao  devemos  também  argumentar  com  o  fato  de  alguns  mes- 
tres  do  renascimento  terem  deixado  em  suas  obras  sinais  surrealis¬ 
tas,  quando  é  lícito  compreender  a  verdade  da  análise  de  que  a  teoria 
modernista  surgiu  a  posteriori  a  consagraçâo  daqueles  mestres  po- 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


15 


dendo,  assim,  intencionalmente,  adotá-la  aos  motivos  encontrados 
na  arte  passada. 

A  própria  intençao  é  vacilante,  precária,  um  mito  que  se  con¬ 
torce  em  dispnéia  e  anseia  em  corporificar- se  mima  escola  objetiva 
onde  lhe  falta  o  absoluto  oxigénio  de  sobrevivencia.  O  mundo  cós¬ 
mico  nao  é  brutal,  nem  grotesco  e  nao  possui  figuras  humanas  e 
paisagens  que  se  dizem  nossas,  isto  é,  que  se  movimentam  a  o  nosso 
redor,  que  nos  dáo  sensaçôes  e  vida  tumultuária  e  simultáneamente 
harmoniosa . 

André  Breton,  o  inventor,  se  assim  o  podemos  chamar,  da  pin¬ 
tura  exotérica  e  outros  feitos  literários  que  iriam  atingir  música 
e  a  literatura,  sem  conseqüéncias  plausiveis,  quis  com  seu  «auto¬ 
matismo  psíquico  puro»  inverter  os  fatôres,  destruindo  a  realidade 
para  substituí-la  por  outra  filosófica  representada  na  pintura.  Ai 
é  que  se  encontra  o  impraticável  como  objetivo  artístico  onde  falta 
persuasáo,  idéia  psicológica,  espirito  documentário,  sabor  de  uni- 
dade  e  etxensáo  universal,  de  possibilidades  e  bases  sólidas  de  eter- 
nizar-se  no  tempo  e  no  espaço. 

A  preocupaçâo  inicial  foi  a  do  sensacionalismo  sem  preoeupar- 
se  com  a  estabilidade  da  nova  doutrina  e  sua  possível  proliferaçâo. 
A  proliferaçâo,  no  entanto',  nao  foi  alcançada,  quer  num  prolonga- 
mento  espontáneo  quer  mesmo  em  surtos  toreados  provocados  e  pla¬ 
ne  jados. 

O  estilo  anárquico  desprovido  de  justa  posiçào,  cores  e  outros 
elementos  de  substancia  vital,  criou  um  autorealismo  que  é  o  seu 
tremendo  equívoco  estético.  Sentindo-se  livre,  pelo  «automatismo» 
acabou  instituindo  leis  pelas  quais  se  apresiona.  E’  assim  urna  dou¬ 
trina  contraditória,  insubsistente  e  inoperante .  Sua  prática  nao 
quer  dizer  existéncia,  por  ser  inocua  como  objetivo  artístico  me¬ 
recedora  de  atençâo. 

Que  arte  é  esta,  mesmo  sendo  estratosférica,  que  tem  por  lema 
odiar  a  perfeiçâo,  ridicularizar  o  ideal  e  desprezar  a  razao?  E  aínda 
que  se  ordene  a  valorizacáo  do  primitivismo,  da  arte  dos  loucos, 
como  se  os  loucos  fóssem  criadores  de  urna  possível  arte?  A  euforia 
doutrinalícia  é  sempre  irracional,  como  o  desconhecido .  Será  que 
no  cérebro  do  ho'mem  existe  o  mundo  cósmico  capaz  de  exteriorizó¬ 
lo  numa  mancha  de  tinta?  Que  nova  classe  de  semi-deuses  quer 
impor-se  quando  manda  substituir  a  capacidade  pela  vontade? 

Evidencia-se  urna  efusáo  de  palavras  tentando  extrair  a  sín- 
tese  pitórica  imaginada. 

Por  tôda  a  parte  há  manifestaçâo  de  total  desumanizaçâo.  Um 
artista  que  vé  as  avessas  todas  as  coisas  da  vida,  que  subverte  in¬ 
tencionalmente  a  realidade  das  emoçôes,  nâo  pode  ser  normal,  de 
raciocinio  elementarmente  justo.  E’  a  distorçâo  e  a  deformaçâo  pre¬ 
meditadas  num  processo  equacionado  de  trivialismo  mórbido.  Arti¬ 
ficio  puro.  Nao  vai  além  de  um  convencionalismo  internacional  ar- 


16 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


bitrário  que  os  críticos  entenderá  regulamentar  com  retórica  tam- 
bém  artificial . 

Senao  vejamos,  caro  amigo.  Quem  ve  as  normas  estéticas  de 
um  modo  substancialmente  contrarias  aos  difames  da  razáo  que  é 
urna  lei  natural  imutável  da  criatura  humana,  todo  éle  deve  ser  um 
contraste  radical  nas  sensaçoes  espirituais  e  fisiológicas.  O  amargo 
será  doce  e  o  doce  amargo,  a  dor  prazer  e  o  prazer  sofrimento,  o 
calor  frió  e  frió  calor.  Vestir-se  é  andar  nu  e  assim  todos  os  fenó¬ 
menos  biológicos  constituiráo  um  organismo  fabuloso . 

Por  que  seráo  apenas  os  sentidos  estéticos  que  se  subvertem? 
Haverá  leis  específicas  que  regem  essa  classe  de  emoçôe?  Um  mons- 
tro  será  urna  imagem  celestial  para  o  biótipo  de  tais  sensibilidades? 
E’  o  homem  que  se  deturpa  no  supremo  valor  da  personalidade . 

O  próprio  cérebro  nao  deve  localizar-se  no  cráneo.  A  unifor- 
midade  física  deve  existir  nos  moldes  da  sua  espiritualidade,  para 
comprovagáo  da  arte  apresentada  como  coerente. 

Devo  dizer-lhe  que  nao  alimento  nenhuma  prevençâo  com  éste 
surto  deplorável  a  que  um  grupo  de  exaltados  querem  arrastar  essa 
arte  apócrifa  em  detrimento  da  legítima  arte.  Apenas  isso.  Nem 
mesmó  me  cabe  discutir  obras  técnicas  de  alguns  franceses,  o  pró¬ 
prio  impressionismo  e  em  alguns  casos  o  abstracionismo  que  nao 
apresenta  o  espetáculo  grotesco  do  cubismo  onde  nao  há  vestigios 

de  natureza  e  depois  o  subrealismo'  onde  os  problemas  de  forma  e 

plástica  sao  exclusivamente  formalistas  com  o  aparato  de  manifes- 

taçôes  vivazes  de  metafísica.  Nem  sequer  há  retraçôes  de  equilibrio 

sensorial  e  o  sentido  é  o  de  regressismo  a  urna  idade  rudimentar, 
ás  cambalhotas,  de  acórdo  com  o  que  decidirem  os  congresso's,  ten¬ 
tando  convencer  o  mundo  normal  daquilo  que  éles  próprios  nao 
estáo  convencidos,  conforme  conceituava  um  antropologista  italiano 
do  século  passado  sobre  os  advogados. 

Nada  se  encontra  de  estéticamente  sugestivo  e  quand o  isso  nos 
parece  surgir,  é  que  o  artista,  sem  o  perceber,  caiu  na  realidade 
clássica,  com  seus  motivos  postos  em  relévo. 

Sem  dúvida  que  tudo  náo  passa  de  urna  ficçâo  com  pruridos 
perturbadores.  Se  vive  aínda  é  por  mera  tolerancia  dos  curiosos,  to¬ 
lerancia  das  instituiçôes  e  tolerancia  da  própria  inteligéncia».  Pa- 
rece-me  suficiente  o  que  ficou  aquí  transcrito. 

Há,  aínda,  muito  a  considerar  sobre  a  arte  moderna  e  já  existe 
em  literatura  um  manancial  apreciável  sobre  o  assunto  que  muito 
intéressa  a  boa  cultura  universal. 

Seria  mesmo  desolador  que  a  pintura  do  futuro  se  convertesse 
nesse  propósito  de  flagelar  a  imagem  visual,  violentando  o  pensa¬ 
miento  criador  e  equilibrado,  subjugando  a  idéia  pura  para  aceitar  o 
irreconhecível,  de  explosoes  bárbaras,  e  obrigando  a  penetraçâo  do 
inexistente  como  manifestaçôes  artísticas  consumadas  de  puro  sa¬ 
bor  convencional. 

Para  ésse  louvável  movimento  de  renovaçâd,  faltaram  bases 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


17 


concepcionais  amadurecidas  afastando-se  da  órbita  natural  para  ten¬ 
tar  a*  realizaçâo  de  um  sistema  dito  estético,  précoce  e  arbitrário 
Incapaz  de  criar  raizes  no  mundo  da  cultura.  Vive  a  flutuar  iso¬ 
lado  num  corpo  minoritário'  espantoso,  numa  superficie  demagó¬ 
gica,  sem  esperanças  de  consagraçâo  pública.  Sua  continuidade  de¬ 
pende  apenas  da  vigilancia  constante  dos  seus  pioneiros  porque  sua 
obra  nada  edificou  até  hoje  e  só  desperta  a  curiosidade  dos  enten¬ 
didos  e  desentendidos. 

Ao'  ser  criada  essa  duvidosa  aurora  artística  nao  compreende- 
ram  seus  chefes  ostensivos  de  que  simultáneamente  originava-se  um 
poente  melancólico  a  envolver  essa  iludente  madrugada  revolucio¬ 
naria. 


UM  PERFIL  INTELECTUAL  DA  NOSSA  ÉPOCA 


Pe.  CARLOS  BORROMEU  C.  PP.  S. 

A  nossa  época  é  herdeira  da  confusáo  intelectual  que  governa  o 
ocidente  desde  o  chamado  liberalismo,  um  sistema  intelectual  «li¬ 
beral»  com  todos,  corn  exceçâo  da  Igreja  e  do  Cristianismo. 

O  propagandista  liberal  mais  intolerante  corn  a  Igreja  foi 
Nietzsche  no  assunto  da  literatura  e  da  filosofia  moderna  do  Oci¬ 
dente  . 

No  setor  da  moral  foi  Sigmund  Freud,  o  inventor  da  Psicaná- 
lise,  o  destruidor  dos  valores  perenes  da  moral  e  o  propagandista 

ii 

e  responsável  pela  anarquía  atual  na  vida  sexual.  O  homem  vive 
sob  os  complexos  da  sensualidade  em  pensamentos,  palavras  e  obras, 
e  nao  deve  reprimir  os  desejos  do  ambiente  sexual  para  nao  pre¬ 
cisar  abracar  os  complexos  angustiosos  da  força  e  da  def  ormaçâo . 
Assim  Freud  torna-se  contrário  ao  sexto  mandamento  da  lei  sinái- 
tica:  «Nao  pecar  contra  a  castidade».  Para  resolver  os  problemas 
da  sexualidade,  Freud  instala  «Stuben  des  Vertrauens»  —  «quartos 
de  Confiança»,  quer  dizer  um  sistema  de  confissáo  medicinal.  Sobre 
o  sistema  de  Confissáo  Sacramental  nao  sabia  nada  o  autor  da  con¬ 
fissáo  medicinal.  Ésses  «quartos  de  confiança»  ganharam  fama  na 
batalha  contra  a  mania  dos  suicidas  na  Capital  Austríaca. 

No  setor  da  lieratura  moderna  revela-se  Stefan  Zweig  como 
bandeirante  do  espirito  «moderno»,  mas  nao  como  mestre  da  vida, 
porque  terminou  a  sua  existência  voluntáriamente  por  desgósto,  em 
Petrópolis . 

Urna  vez  que  Stefan  Zweig  tinha  muitas  relaçôes  com  o  Brasil 
e  a  sua  literatura  goza  ainda  de  grande  circulaçâo,  precisamos  de¬ 
dicar-nos  mais  amplamente  corn  as  suas  idéias. 

NIETZSCHE  E  O  OCIDENTE 

«A  Europa  presente  nâo  tem  idéia,  qual  decisáo  terrível  será 
resolvida  pelo  meu  pensamento,  a  que  roda  de  problemas  eu  estou 
amarrado;  que  está  se  preparando  urna  catástrofe,  cujo  nome  eu  já 
conheço  mas  que  nao  pronunciarei». 

E  a  catástrofe  visionuda  por  Friederich  Nietzsche  foi  realizada 
pelos  cabos  da  sua  ideología  infernal:  Hitler  e  Stálin. 

Nem  Hitler,  nem  Stálin  foram  capazes  se  quiserem  de  urna 
única  idéia  própria,  o  seu  sistema  de  Herrenmenschen  (hornens  se- 


PONT.  UNIT.  CAT.  DO  R.  O.  S. 


ID 


nhores)  e  da  sua  moral  de  além  do  bem  e  do  mal  é  literalmente  imi- 
-  tad  o'  das  ideias  de  Nietzsche,  do  autor:  «Assim  falava  Zaratustra». 

A  destruiçao  da  moral  crista  por  Freud  e  grande,  mas  nao  com- 
parável  com  as  ideias  messiânicas  da  Herrenmoral  (moral  dos  se¬ 
nil  or  es)  ;  no  ambiente  de  Hitler,  realizado  pelo  racismo  germánico 
e  no  ambiente  moscovita  pelo  sistema  do'  predominio  absoluto  do 
'Kremlin  em  todos  os  setores  da  vida. 

O  tamborista  de  Braunau,  Adolf  Hitler,  tirou  as  bases  do  seu 
Terceiro  Reich  com  esperances  messiânicas  do  Uebermensch  (ho- 
.mi  m  superior)  de  Nietzsche.  Toda  a  miseria  desde  1933  para  cá  é 
escrita  por  conta  do  visionario  demoníaco. 

Nao  conseguíu  a  destruiçao  do  cristianismo,  como  planejava 
-mas  conseguiu  urna  aversao  intrínseca  e  integral  as  ideias  sobrena- 
turais,  a  Deus,  à  salvaçâo  e  à  Santa  Igreja  Católica  Apostólica  Ro¬ 
mana.  «Umwertung  aller  Werte»  —  Transformaçâo  de  todos  os  va¬ 
lores  —  eis  o  ideal  nietzscheano. 

Joseph  Goebbels,  o  propagandista  fanático  de  Hitler  adotou  o 
lema  ideológico  do  seu  padrinho:  «Coin  irai  riso  vamos  destruir  o 
«que  adoramos  até  en  ta  o,  e  vamos  adorar  daqui  por  diante  o  que 
destruimos  até  agora» . 

Nietzsche  mega  o  cristianismo  por  completo,  tolera  urnas  idéias 
.apenas  para  ó  dominio  da  massa  sem  nome,  sem  genealogía,  sem 
nobreza,  sem  direito  à  «Herrenmoral»  (moral  dos  senhores)  e  dos 
Uebermenschen»  (superhomens) . 

Nietzsche  nega  a  cultura  grega,  a  mae  do  Ocidente  em  âssuntos 
de  «Weltanschauung»  (filosóficos,,  nega  a  cultura  romana  e  o  seu 
trabalho  jurídico,  que  tolera  apenas  para  os  escravOs,  nega  ó  traba  - 
Iho  cultural  cristáo  de  dois  mil  anos,  para  abrir  o  caminho  ao  novo 
tipo  de  homern,  com  nova  concepçâo  filosófica  e  moral  (sem  moral), 
com  nova  «Weltanschauung»  da  esperança  do  advento  do  «Ueber¬ 
mensch»  . 

Nietzsche  chama-se  mesmo  «um  fugitivo  errante»  que  deixou 
o  terreno  seguro  do  lar  paterno. 

odio  contra  o  cristianismo,  odio  cegó,  odio  infernal,  como  se 
revela  em  seu  ensaio  «O  nascimento  da  tragédia  pelo  Espirito  da 
Mística»  (1872). 

Neste  ensaio  nem  fez  referencia  à  mística  medieval,  tao  rica 
em  representantes  germánicos,  nem  de  Seuse,  nem  de  Auler,  nem 
de  Gertrude,  nem  de  Margarida  Ebner. 

E  em  1883  escreveu  de  Roma,  onde  procurava  urna  residencia 
«Finalmente  contentei-me  com  a  Piazza  Barberini,  depois  fiquei  can¬ 
sado  em  procurar  urna  regiao  anticristá. . .» 

Nietzche  condena: 

a  pregaçâo'  do  além  —  Predigt  des  Jenseits, 
a  concepçâo  nobre  da  fraqueza  —  Nobilitierung  der  Schwae- 
che, 


20 


PONT.  UN IV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


a  glorificaçâo  da  compaixâo  e  da  humildade  —  V erherrlichung 
des  mitleids  und  der  Demut, 

contra  o  ideal  cristâo  —  O  Herrenmoral  —  moral  dos  se- 
nhores  autónoma  além  do  bem  e  do  mal. 

Na  idéia  de  Nietzsche,  o  cristianismo  quebra: 

os  fortes, 

rouba  a  sua  coragem, 

aproveita-se  do  malestar  e  das  fadigas  dos  homens, 

transforma  a  intranqüilidade  e  certeza  era  dúvidas  e  escrú¬ 
pulos, 

intoxica  os  sadios,  que  se  mudam  em  doentios,  raquíticos, 
anémicos, 

a  sua  própria  vontade  vai  ser  suspensa  e  virada  contra  éles 
mes  mbs, 

que  váo  ser  finalmente  quebrados  e  escravizados  pela  luxú- 
ria  da  auto-destruiçâo. 

Por  conseqüéncia  exige  destruiçao  completa  e  integral  do  cris¬ 
tianismo  até  a  lembranca  do  cristianismo  deve  ser  arrancada  da 
alma  e  da  memoria  da  humanidade. 

Nietzsche  chama  éste  processo;  Entmachtung  —  Suspensáo  do 
poder  da  moral  crista  que  é  na  sua  concepçâo  a  fonte  de  todo  o  mal 
—  neste  mundo.  Um  odio  infernal  revela- se  nas  idéias  de  Nietzsche, 
mestre  prototípico  de  Hitler  e  Stálin  e  de  muitas  seitas  norte- ame¬ 
ricanas. 

Misericordia  e  humildade  nâo  servem  mais  ao  dicionário  niet- 
zs  che  ano  . 

«Deus  é  morto...»  —  Nao  há  redençâo,  senáo  auto-redençâo', 
pela  vontade  fanática  no  poder  dos  superhomens. 

Nao  há  pecado  original,  nâo  há  inclinaçâo  ao  mal,  só  há  super¬ 
homens,  e  homens  da  massa  (a  canalha)  sem  nome,  sem  nobreza, 
sem  genealogía. 

As  cámaras  de  gás  e  de  torturas  hitleristas  e  stalinistas,  as  li- 
bertaçôes  da  Hungría  e  da  Polonia  em  nossos  dias,  sem  misericor¬ 
dia,  sem  idéia  de  justiça  revelam  a  visáo  do  poder  do  superhomem 
fanático  de  Nietzsche.  Assim  tornou-se  Nietzsche  o  trágico  profeta 
do  materialismo  desenfreado  e  do  ateísmo  mais  consequüente  da 
época  moderna. 

STEFAN  ZWEIG,  VÍTIMA  DA  IDEOLOGIA  PESSIMISTA 

Stefan  Zweig,  o  escritor  conhecido  e  estimado  no  mundo  civili¬ 
zado  teria  festejado  aos  28  de  Novembro  o  seu  75.c  aniversário  e 
sem  dúvida  teria  completado  a  sua  obra  literária. 

Colecionador  de  bom  gósto,  conhecedor  das  obras  artísticas  his¬ 
tóricas  de  Salzburg,  da  terra  de  Mozart,  daquele  recanto  paradisíaco, 
de  que  fala  tantas  vêzes  em  suas  cartas.  Com  maior  cuidado  tinha 
organizado  a  sua  coleçâo'  de  autógrafos.  O  seu  catálogo  de  autores 


PONT.  U  K IV.  CAT.  DO  K.  G.  S. 


:21 


«e  de  músicas  foi  único  nas  terras  civilizadas  da  Europa  prenazista, 
.va  escrevaninha  de  Beethoven  foi  no  centro  da  sua  residencia  lite'- 
rária  de  Salzburg,  na  casa  rural  sôbre  a  cidade  dos  Alpes. 

A  Stefan  Swe'ig  porten  ce  a  honra  de  ter  realizado  a  rnaior  co- 
Jeçâo  de  autógrafos  musicals  do  mundo. 

Na  vida  de  Zweig  revelam-se  duas  ©ontradiçoes  da  época  nazis¬ 
ta:  O  Judeu  e  o  alemáo.  Ambas  as  ragas  privilegiadas  por  virtudes 
e  habilidades  exc  e  polonais,  ambas  cam  planos  totalitarios  desde 
rmuitos  tempos,  ambas  espalhadas  pelo  mundo,  estimadas  pela  pun¬ 
tualidad  e  e  pelo  carat er,  mas  ambas  nao  bam  vistas  pelo  rigor  in¬ 
trínseco. 

As  duas  ragas,  ja  na  época  pre-hitlerista  ern  Juta,  esquecendo- 
rse  que  a  uniáo  de  ambas  t-eria  ti  do  o  resultado  mais  benéfico  para 
«cada  raga  e  para  o  mundo. 

Stefan  Zweig  tornou-se  vitrma  dessa  desunido  das  ragas  ger¬ 
mánicas  e  judaica.  Ao  sair  da  Austria  deixou  a  sua  bagagem  lite- 
nária  histórica,  deixou  a  sua  raíz  no  morro  sobre  Salzburg.  Como 
Judeu  nunca  tinha  encontrado  contacto  mais  íntimo  com  o  mundo 
«crista©,  tao  ligado  ao  ambiente  de  Salzburg.  Tantas  vezes  tinha  pas¬ 
eado  pelo  Convento  dos  Frades  Capuehinhos,  tantas  vezes  tinha  vi¬ 
sitado  a  cámara  dos  defuntos.  o  «Karnor»  dos  Frades  e  tinha  reci¬ 
tado  o  «Memento  -Morí»  da  Fe  Crista  e  da  ïinaïidade  da  vida  além 
da  morte. 

O  teatro  de  «Jedermann»  na  praça  da  Catedral  de  Salzburg  nao 
tinha  urna  impressâo  mais  profunda  na  psicologia  do  poeta  adorado 
no  mundo  inteiro.  «Jedermann»  (cada  um  de  nos)  o  prototipo  do 
homem  problemático  na  sua  peregrinaçâo  do  mundo  para  urna  fina- 
lidade  certa  ou  incerta,  conforme  a  cOncepçâo  filosófica  (Weltans¬ 
chauung). 

Quantas  vëzes  Zweig  assistiu  com  entusiasmo  a-  essas  répresen- 
tagóes,  mas  ero  193?  ja  tinha  perdido  o  prazer  da  vida  OU  f alando 
<em  palavras  de  Nietzsche:  a  vontade  de  vi  ver. 

Zweig  nao  podia  mais  se  conformar  com  urna  vida  sem  Salz¬ 
burg,  sem  este  ambiente  tao  afetuoso  à  alma  de  poeta.  Quem  es- 
tudou  na  Universidade,  na  alma  máter  salzburgensis  nao  e  nunca 
mais  pode  se  esquecer  do  bérgo  natal  de  Mozart,  dos  Alpes,  do  pa¬ 
norama  singular. 

Muitos  tinham  de  deixar  éste  cenário  paradisíaco  diante  da  in- 
vasáo  nazista,  e  procurar  urna  nova  oficina  para  as  suas  idiéas  em 
outros  cantos  do  globo  terrestre.  Amadores  de  Salzburg,  natos  e  de 
coraçâo  ficaram  espalhados  pelo  mundo  inteiro,  tanto  civilizado  co¬ 
mo  ñas  florestas  virgens  do  Rio  Mar  e  afirmaram  a  vida,  lutando 
contra  mil  difieuldades  e  contra  «Heimweh»  (mal  da  saudade  pelo 
lar,  pela  térra  natal) . 

Na  bela  cidade  serrana  das  hortensias  achou  Zweiz  um  asilo 
provisorio,  mas  a  sua  alma  intranqüila  nunca  tinha  encontrado  o 
seu  «Standort»,  o  seu  quartel  fora  ou  longe  do  querido  ambiente 


22 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


de  Salzburg.  Nem  a  Matriz  de  estilo  gótico  de  petrópolis  lhe  podia 
dizer  alguma  coisa.  Nem  tinha  encontrado  o  caminho  para  a  gran 
de  austríaca  Dona  Maria  Leopoldina,  até  entáo  hospedado  no  Mau- 
soleu  dos  Frades  Franciscanos  no  Largo  da  Carioca  do  Rio  de  Ja¬ 
neiro  daqueles  Frades  que  em  rnaior  número  falaram  o  idioma  de 
Zweig.  A  sorte  de  Maria  Leopoldina  pedia  aliviar  as  angústias  do 
Danubio,  a  saudade  tremenda. 

Sem  fé  em  um  ente  supremo  parecia  a  situaçâo  do  mundo  a 
desesperar.  E  essa  fé  faltava  ou  foi  congestionada  pelas  impressoes 
de  todo  diferente  da  querida  cidade  de  Salzburg.  Nem  mais  as  hor- 
tnésias  de  Petrópolis  lhe  valiam  muita  coisa.  Falamos  com  Stefan 
Zweig  em  Belém  do  Pará,  na  orla  do  Rio  Mar,  em  frente  de  nume¬ 
rosas  ilhas,  cobertas  com  matas  virgens,  terras  até  entáo  desco- 
nhecidas  por  ele. 

Lá  nasceu  a  idéia  da  obra  «Brasil,  terra  do  Futuro»,  obra  bem 
aceita  pela  crítica,  obra  corn  intuiçâo  singular,  obra  citada  e  abra¬ 
cada  pelo  mundo  literário. 

O  Brasil,  terra  do  Futuro,  e  o  poeta  e  escritor  com  as  concep- 
çôes  mais  funestas  pelo  desgósto  pela  cultura  e  civilizaçâo.  Nem  a 
mata  virgem,  nem  o  cenário  do  Rio  Mar  lhe  podiam  mais  restituir 
a  esperança  pelo  valor  da  vida  individual.  Corn  atençâo  ouviu  os 
trabalhos  feitos  pelos  missionários  austríacos  no  Rio  Mar  na  vés- 
pera  da  expulsáo  pelas  leis  pombalinas,  precursoras  das  leis  hitle- 
ristas,  e  ésses  heróis  afirmaram  a  vida,  nao  capitulando  diante  urna 
realidade  crua  e  dura. 

Zweig  nao  agüentava  mais  a  prova  da  força  (Zerreissprobe).  A 
sua  fuga  da  vida  deixou  a  sua  obra  literária  incompleta,  faltam  as 
obras  da  véspera  do  setuagésimo-qüintenário. 

Nao  langamos  urna  pedra.  Pedimos  o  Requiescat  in  pace.  Mas 
lamentamos  a  falta  de  alguém  que  teria  de  dizer  alguma  palavra 
também  à  nossa  época. 


LE  TEST  DES  PYRAMIDES  DES  COULEURS 
ET  LES  RÉSULTATS  CLINIQUES  OBTENUS 


HILDEGARD  HILTMANN 

(De  l’Institut  für  Psychologie  und  Charakterologie  an  der 
Universitat  Freiburg/Beisgou,  Direktor:  Prof.  Dr.  R.  Heiss) 

I 

INTRODUCTION 

Au  début  environ  de  notre  siècle,  les  recherches  dans  la  psycho¬ 
logie  expérimentale  ont  commencé  à  s’occuper  de  la  question  de 
l’importance  psychologique  des  couleurs.  Auparavant,  les  recher¬ 
ches  avaient  montré  la  difficulté  de  bien  différencier  entre  le  sens 
psychologique  des  couleurs  et  leur  signification  symbolique,  tradi- 
tionelle,  esthétique  et  culturelle.  Ce  problème  est  venu  de  ce  qu’on 
a  attribué  aus  couleurs  d’autres  valeurs  où  s’est  trouvé  aussi  un 
contenu  psychologique.  L’on  en  trouve  un  exemple  dans  la  Grèce 
ancienne,  où,  selon  la  tradition,  les  quatre  couleurs  (rouge,  jaune, 
bleu-noir  et  blanc)  qui  symbolisaient  les  quatre  éléments  cosmiques 
—  s’accordent  avec  les  differents  caractères  humaines:  sanguin,  colé¬ 
rique,  mélancolique  et  phlegmatique. 

Dans  la  première  moitié  de  notre  siècle  on  a  assemblé  beaucoup 
de  connaissances  au  sujet  de  l’importance  culturelle  et  psychologi¬ 
que  des  couleurs.  L’on  a  étudié  les  couleurs  sous  le  point  de  vue 
artistique,  esthétique,  et  aussi  psychologique. 

En  1911  DAVID  KATZ  (9)  était  parmi  les  premiers  qui  ont  dé¬ 
montré  que  les  théories  classiques  des  couleurs  (YOUNG-HEL- 
MHOLTZ,  HERING)  ne  suffisaient  pas  à  expliquer  des  phénomènes 
tels  que  la  synesthésie  et  la  perception  des  couleurs  dans  l’espace, 
autour  d’un  objet,  et  adhérents  à  une  surface. 

Une  année  plus  tôt,  WELLS  (23)  avait  constaté  dans  son  oeuvre 
sur  la  question  des  spécifiques  traits  affectifs  des  couleurs,  que  les 
relations  entre  les  couleurs  et  l’affectivité  étaient  générales  et  cons¬ 
tantes:  «Un  stimulant  a  de  valeur  affective  qui  reste  constante, 
n’importe  quelle  attitude  subjective  qu’ait  la  sensibilité  envers  ce 
stimulant». 

Cette  hypothèse,  qui  se  base  sur  la  psychologie  physiologique 
classique  meme,  a  été  réfutée  plus  tard  par  de  diverses  preuves  ex- 
périmentelles. 


24 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


L'idée  que  les  couleurs  n’ont  q’une  signification  non -individuelle, 
c’est  à  dire  générale,  s’est  tout  à  fait  renversée  en  1921,  quand 
RORSCHACH  (18)  les  a  données  une  part  fondamentale  dans  son 
test  de  la  personnalité. 

Pouis  d’àutres  tests  sont  venus  qui  se  sont  occupés  des  relations 
entre  la  personnalité,  surtout  l’affectivité,  et  les  couleurs  comme 
stimulants  affectifs.  L’on  a  pris  de  plus  en  plus  d’intérêt  à  observer 
l’emploi  des  couleurs  dans  le  dessin,  sutout  dans  les  dessins  des 
enfants.  En  1950  on  a  introduit  une  méthode  nouvelle  où  on  n’a 
donné  aucun  instrument  tel  que  crayon,  pinceau,  ou  plume,  mais 
seulement  des  coleurs  (Finger  Painting).  (7)  Une  année  plus  tôt  le 
LOWENFELD  Mosaic  Test  (11)  et  le  LÜSCHER  Test  (12)  se  sont 
publiés.  Tandis  que  dans  le  Mosaic  Test  le  point  capital  c’est  l’arran¬ 
gement  formel  des  carrées  de  bois  colorées,  dans  le  LÜSCHER  Test 
ce  n’est  que  les  couleurs  et  les  combinaisons  des  couleurs  qui  ser¬ 
vent  à  montrer  la-  personnalité.  Dans  le  Test  des  Pyramides  des 
Couleurs,  publié  en  1950,  (14)  et  les  couleurs  et  leur  arrangement 
formel  y  prennent  part. 

Ces  quatre  tests:  RORSCHACH  (et  le  BEHN  et  le  Z),  (26)  (27) 
(28)  le  Mosaic,  les  méthodes  LÜSCHER  et  les  pyramides  des  cou¬ 
leurs,  emploient  les  couleurs  comme  stimulants  pour  révéler  l’affec¬ 
tivité  —  bien  qu’en  diverse  façon.  Dans  le  dit  d’interprétation  des 
formes  —  on  devrait  dire  «interpretation  des  formes  et  des  couleurs» 
—  dans  le  type  du  RORSCHACH,  paraissent  de  verbales  réactions 
affectives  envers  les  taches  d’encre  colorées;  dans  le  LÜSCHER,  on 
les  voit  dans  l’arrangement  subjectif  des  couleurs  préférées  et  re¬ 
fusées.  Dans  le  Mosaic,  les  couleurs  n’ont  qu’une  signification  secon¬ 
daire  auprès  de  l’arrangement  spontané  des  formes.  Dans  le  test 
des  pyramides  des  couleurs,  les  couleurs  que  choisit  l’examiné  dans 
la  série  des  couleurs  standard,  et  l’arrangemente  dans  la  pyramide 
des  carrés  choisis,  donnent  les  indications  sur  les  particularités  et 
les  structures  qualitatives,  les  processus,  la  stabilité  et  la  maturité 
de  l’affectivité. 

En  1950  MAX  PFISTER  (14)  a  publié  les  premières  informations 
sur  le  test  des  pyramides  des  couleurs,  qu’il  avait  inventé.  Sa  mé¬ 
thode  a  été  comme  suit:  on  a  donné  à  l’examiné  un  tas  de  petits 
carrés  de  papier  de  divers  couleurs,  tout  en  désordre.  Il  a  dû  choisir 
quinze  carrés  et  les  placer  et  coller  sur  le  dessin  d’une  pyramide 
a  cinc  étapes  et  quinze  cases,  pour  l’effet  produire  qu’il  a  trouvé  le 
plus  agréable  et  convenable  —  en  uns  mot:  le  plus  joli.  PFISTER 
a  trouvé  que  le  choix  des  couleurs  et  leur  arrangement  dans  le  dessin 
de  la  pyramide,  ont  laissé  voir  des  relations  avec  la  personnalité  de 
l’examiné,  qu’on  a  pu  interpréter  psychologiquement.  Ainsi  il  a  dé¬ 
veloppé  la  première  évaluation  psychodiagnostique  de  ce  test.  Plus 
tard,  PIEISS  et  ses  colaborateurs  (4)  (5)  ont  développé  la  procédure 
du  test  comme  suit:  l’examiné  doit  construire  trois  jolies  pyramides 
et  les  mettre  en  ordre  de  préférence.  Plus  récemment  encore,  ils  ont 


PONT.  UNTV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


25 


ajouté  à  la  tache  trois  pyramides  ’laides’  à  construire  —  c’est  à  dire 
pyramides  qui  neplaisent  pas  à  l’examiné.  Cette  procedure  du  test 
suit  ce  certain  principe  de  séries,  qui  tient  compte  de  l’effet  de  la 
répétition  des  stimulants,  plus  au  moins  variée,  comme,  par  exem¬ 
ple,  dans  le  RORSCHACH  et  le  BEHN  et  le  Z  Test  (les  uns  avec  dix 
tables,  le  Z  avec  trois)  et  dans  le  Thematic  Apperception  Test  (avec 
vingt  tables).  Dans  le  test  des  pyramides  des  couleurs,  on  a  réduit 
les  carrés  de  papier  à  une  serie  de  couleurs  standard  comprennant 
vingt-quatre  nuances  de  dix  couleurs;  les  valeurs  de  norme  (22)  dé¬ 
pendent  de  cette  série  de  couleurs. 

Depuis  notre  première  publication  nos  expériences  et  celles  des 
autres  personnes  qui  travaillent  avec  ce  test  ont  suggéré  qu’il  serait 
peut-etre  possible  de  réduire  la  serie  de  vingt-quatre  couleurs  en¬ 
core  une  fois  et  de  n’emploj^er  que  dix  ou  quatorze  couleurs.  Actuel¬ 
lement  on  fait  des  expériments  avec  des  séries  de  dix  et  de  quatorze 
couleurs  qui  semblent  convenir  au  test. 

II 

DESCRIPTION  DE  LA  PROCÉDURE  DU  TEST 
RENSEIGNEMENTS  GÉNÉRAUX 

La  procédure  du  test  des  pyramides  des  couleurs  est  aussi  sim¬ 
ple  que  possible  et  coûte  très  peu  de  temps  et  de  matériel.  L’exami¬ 
né  a  l’impression  qu’il  joue  avec  des  couleurs,  et  ne  s’aperçoit  que 
vaguement  peut-être  de  l’obligation  psycologique .  On  n’a  besoin 
d’aucun  grand  effort  de  l’intelligence,  d’imagination  ou  de  l’activité 
pour  pouvoir  choisir  des  couleurs  selon  son  goût  subjectif  et  son 
plaisir,  et  pour  en  construire  la  pyramide.  Par  conséquent,  le  test 
n’a  aucune  limite  d’âge.  On  peut  le  donner  même  aux  petits  en¬ 
fants,  où  on  désire  faire  des  renseignements  sur  les  phases  du  déve¬ 
loppement  psychique.  C’est  applicable  aux  gens  de  tout  age,  même 
aux  gens  âgés  où  il  saisit  les  signes  caractéristiques  du  processus 
de  l’involution  affective.  Même  ceux  qui  ont  de  très  fortes  inhibitions, 
et  qui  ne  s’exposent  bien  dans  d’autres  tests,  accomplissent  d’habitude 
cette  simple  tâche,  se  «jeu  de  couleur’s».  Les  refus  à  faire  le  test, 
dont  la  raison  est  peut-être  que  «c’est  un  ridicule  jeu  d’enfant»  sont 
le  plus  souvent  à  enlever  sans  difficulté.  Les  embarras,  les  inhibi¬ 
tions  et  les  refus  qu’on  ne  peut  pas  écarter  sont  très  rares  dans  ce 
test. 

Le  spectre  diagnostique  du  test  renferme  le  champ  suivant:  la 
faculté  de  réaction  et  l’assimilation  des  'experiences  affectives,  les 
qualités  est  les  structures  de  l’affectivit’,  leurs  façons  de  se  dérouler 
et  de  se  manifester,  —  tout  ceci  uniquement  en  ce  qui  concerne  la 
partie  formelle  et  structurelle  de  l’affectivité.  On  peut  ajouter  à 
ces  possibilités,  si  importants  dans  le  diagnostic  de  la  personnalité, 


26 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


d’autres,  telles  que  le  diagnostic  du  contact  et  de  la  conduite  sociale, 
et  de  l’état  de  la  maturité  emotionelle. 

La  stabilité  du  test  a  été  statistiquement  vérifiée  au  moyen  des 
Test-Retest  méthodes,  e  avec  l’assistance  de  la  méthode  chi-carré. 
Les  coefficients  des  corrélations  des  choix  des  couleurs  se  trouvent 
entre  .  66  et  .86,  et  ceux  de  la  constance  variabilité  entre  .51  et  .79. 
Ça  veut  dire  que  la  plupart  des  corrélations  dépassent  signifiquement 
ou  très  signifiquement  la  limite  nécessaire  pour  la  stabilité  d’un  test. 
II  s’ensuit,  donc,  que  la  stabilité  du  test  tout  à  fait  assurée. 

On  a  souvent  mis  à  l’épreuve  la  validité  du  test,  expérimentel- 
lement,  en  clinique,  et  au  moyen  des  études  des  cas.  En  général, 
quant  au  diagnostic  de  l’affectivité  de  personnes  normales,  et  aussi 
des  désordres  et  des  troubles  emotionels,  determines  par  la  névrosé, 
par  des  troubles  psycho-somatiques  et  par  les  phases  spécifiques  du 
développement  de  l’enfance  (Gestaltwandel,  puberté),  les  résultats 
sont  satisfaisants.  Le  test  différencie  entre  deux  grandes  groupes, 
la  groupe  ’abnormale’  et  la  groupe  ’normale’,  collectivement  et  indi¬ 
viduellement  significative.  (2)  L’hypothese,  que  lans  la  groupe  abnor¬ 
male  le  test  peut  séparer  la  structure  spécifiquement  psychotique  de 
la  structure  non-psychotique  n’est  pas  à  présent  confirmée. 

Le  test  convient  bien  à  être  donné  le  premier  parmi  une  batterie 
de  tests.  Des  répétitions,  données  assez  rapidement,  l’un  après 
l'autre,  produisent  des  renseignements  d’une  grande  valeur  sur  le 
processus  de  l’affectivité,  particulièrement  sur  les  phénomènes  de  la 
sursatisfaction  (Sattigungsphanomene)  affective  comme  réaction  de 
stress,  et  les  dispositions  aux  crises  affectives.  (24)  Des  répétitions 
du  test,  faites  quelques  mois  ou  quelques  années  plus  tard,  peuvent 
montrer  les  développements  spontanés,  les  processus  de  la  ma¬ 
turation,  les  variations  générales  de  la  structure  et  de  la  dy¬ 
namique  de  l’affectivité,  aussi  bien  que  les  réactions  aux  choses 
vécues  et  aux  traumata.  Le  test  est  particulièrement  propre  au  con¬ 
trôle  de  la  thérapie,  parce  que  les  répétitions  du  test  son  peu  in¬ 
fluencées  par  l’effet  de  l’habitude.  Si  l’on  fait  de  nombreuses  répé¬ 
titions  en  très  peu  de  temps  (des  heures,  des  jours,  des  semaines), 
on  peut  voir  les  effets  et  les  désordres  que  cause  le  sursatisfaction 
affective. 

III 

LES  INVESTIGATIONS  EXPÉRIMENTALES  ET  CLINIQUES 

A  Fribourg  nous  avons  réalisé  plusieurs  expériences  pour  éprou¬ 
ver  nos  premières  hypothèses  concernant  les  valeurs  symptomatiques 
des  couleurs. 

Nous  avons  examiné  les  résultats  de  PFISTER,  de  même  que 
nombre  d’autres  éléments  concernant  la  psychologie  des  couleurs 
(13)  —  ainsi  par  exemple,  ALSCHULER-HATTWÏCK  (1)  et  des  au¬ 
teurs  sur  le  «Finger  Painting».  De  même  nous  étions  en  bonnes  re- 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


27 


lations  avec  LUESCHER;  et  pendant  qu’il  élaborait  sa  méthode  et 
que  nous  développions  le  test  des  pyramides  des  couleurs,  nous 
avons  eu  maints  entretiens. 

La  différence  entre  le  point  de  vue  de  LUESCHER  et  le  notre 
se  caractérise  de  la  façon  suivante:  LUESCHER  s’est  appuyé  sur 
une  théorie  spéculative  à  la  base  de  laquelle  se  trouvent  certaines 
hypotheses  b’ologiques  et  psychologiques.  Nous  avons  fondé  nos 
hypothèses  sur  des  investigations  expérimentales  et  cliniques,  et  ceci 
fort  conséquemment. 

Nous  avons  fait,  ou  fait  faire  en  partie  1.)  des  analyses  statis¬ 
tiques;  2.)  des  analyses  expérimentales;  et  3.)  des  analyses  clini¬ 
ques.  Nous  y  employâmes  une  casuistique  large  et  intensive.  Notre 
but  est  de.  trouver  une  théorie  des  couleurs  psychologique,  fondée 
sur  l’empirisme. 

Nos  toutes  premières  hypothèses  étaient  d’aspect  vague  et  gé¬ 
néral:  Premièrement,  les  couleurs  agissent  sur  l’émotionnalité,  l’af¬ 
fectivité  et  les  motivations  émotionnelles  du  comportement.  Deu¬ 
xièmement,  la  préférence  pour  certaines  couleurs  ou  leur  dédaigne- 
ment  nous  renseigne  sur  la  susceptibilité  affective  de  réaction,  sur 
les  manières  affectives  de  l’expression,  sur  la  régulation  interne  de 
l’affectivité  et  sur  les  structures  d’affects  —  en  somme,  sur  les  va¬ 
riations  des  motivations  émotion  elles. 

Ensuite  nous  avons  fait  des  expériences  au  cours  desquelles  des 
individus  furent  transposés  dans  des  états  psychiques  exceptionnels. 
Ceux-ci  furent  réalisé  à  l’aide  de  produits  pharmaceutiques.  Pre¬ 
mièrement,  la  stimulation  par  un  analeptique  central  dont  l’effet 
correspond  à  celui  de  la  Renzédrine  ou  de  la  Pervitine.  CG)  Deuxiè¬ 
mement,  la  sédation  à  l’aide  d’hypnotiques.  (19)  Troisièmement, 
nous  avons  procédé  à  des  expériences  pour  lesquelles  nous  avons 
provoqué  lu  sursatisfaction  affective.  (24)  Quatrièmement,  nous 
avons  examiné  un  groupe  de  personnes  du  type  d’individus  actifs  et 
énergiques,  doués  de  grandes  capacités  de  rendement.  (8)  Dans  tous 
les  cas,  nous  nous  sommes  servis  simultanément  de  groupes  de 
contrôle . 

Pendant  les  expériences  pharmaceutiques,  nous  avons  abservé 
les  règles  de  la  permutation  de  l’ordre  des  expérirnents. 

D’autre  part,  nous  avons  procédé  à  des  recherches  statistiques, 
afin  de  déterminer  les  valeurs  de  standardisation,  leurs  mesures  de 
déviation  pour  les  différentes  classes  d’âge,  les  valeurs  chez  des  indi¬ 
vidus  masculins  et  féminins  et  chez  des  individus  de  niveau  social 
et  culturel  différent.  (22) 

En  Finlande,  des  confrères  ont  accompli  une  analyse  des  facteurs, 
mais  pas  dans  l’ordre  standardisé  du  test  (16).  En  ce  moment,  nous 
procédons  à  une  analyse  des  facteurs  dans  les  conditions  de  l’ordre 
standardisé.  D’autre  part,  il  existe  une  série  d’observations  clini¬ 
ques  réalisées  en  partie  par  notre  institut.  De  même  des  études  ex¬ 
périmentales  psychopathologiques,  (3)  (10)  (20)  par  exemple  des 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  K'.  G:  SI 


type's  précis  de  névrotiques  sous  l’effet  de  Mègaphéne  (un  régulo 
teur  névro-végétatif  du  type  du  Largactii),  sous  1  effet  du  USD  (un 
médicament  semblable  à  la  Mescaline),  et  sous  I effet  dé  Pervitine 
(Un  analeptique’  6M  type  du  Bèncédrihe)i  <&25> 

isr 

LES  HYPOTHESES  D’ INTERPRET ATION'  FOUIT  LES'  COULEURS' 

Avec  ce  qui  suit,  je  compte  exposer  nos  hypothèses  d’interpré¬ 
tation  pour  les  dix  couleurs  (rouge,  orange,  jaune,  vert,  bleu,  violet,., 
marron,  noir,  blanc,  gris);  lés  fondements  expérimentaux  et  casuis- 
tes  et  les  déductions  théoriques  ne  peuvent,  bien  entendu,  être  com¬ 
plets,-  Un  aperçu  des  résultats  est  donné  par  le  tableau  suivant. 

En  lisant  de  haut  en  bas,  à  gauche  les  groupes  expérimentaux 
et  cliniques  et  de  gauche  à  droite  les  dix  variables  des  couleurs. 
Sur  chaque'  ligne,  l’augmentation  de  la  couleur  en  question  est  indi¬ 
quée  par  le  signe  plus  (  +  ),  rabaissement  par  le  signe  moins  (— ). 
Le  signe  (  +  )  exprime’  l’augmentation  de  cette  couleur  en  compa¬ 
raison  avec  la-  valeur  standardisée.  Le  signe  ( — ),  rabaissement  de* 
cette  couleur,  en  comparaison  avec  la  valeur  standardisée.  Les  va¬ 
leurs  de  bases  sont,  à  quelques  exceptions  prés,  vérifiées  statistique¬ 
ment  de  maniéré  satisfaisante. 

Basés  sur  ces  résultats  et  sur  des  études  des  cas,  nous  avons' 
développé  les  interpretations  de  couleurs  que  je  veux  présenter  suc- 
cintement  , 

La  couleur  r  o  u  g  e-  : 

La  personne  qui  fait  Un  choix  eccessif  du  rouge  et  ceci  avec* 
persistance,  a  tendance  à  répartir  ses  sentiments  de  manière  plus 
ou  moins  indifférent.  La  susceptibilité  émotionnelle  de  réaction  est 
très  large  ét  ouverte  à  tout  le  monde.  La  tendance  à  réagir  inopi¬ 
nément  dé  façon  émótioneíle  est  très  accentuée  en  présence  d’une1 
irritation  ou  d’üne  situation  quelconque.  Son  intérêt  pour  le  monde 
extérieur,  à  sés  attraits  variés  et  ses  conditions  complexes  test  fort 
éveillé;  les  réponses  émotionnelles  s’effectuent  de  façon  rapide,  su¬ 
bitement  et  directement,  dans  le  cas  extrême,  de  manière  brusque 
et  fougueuse. 

Ces  manifestations  ressemblent  â  celles  du  tempérament  dit 
colérique . 

Le  roUge  est  uñé  caractéristique  signifiant  que  les  désirs  et  les 
besoins  émotionnels  sont  facilement  excitables  et  ont  tendance  à 
s’assouvir  immédiatement , 

Celui  qui  dédaigne  le  rouge,  oü  l’évite,  prouve  que  l’excitabilité 
et  le  caractère  des  réactions  n’est  pas  si  développé.  Ceci  ne  signifie 
en  rien  qué  l’individü  en  question  s’est  détourné  du  monde  extérieur 


Table  1:  LES  RÉSULTATS  DÉS  CHOIX  DÉS  COULEURS  CRÉÉ 
LES  DIVERS  GROUPES  EXPÉRIMENTALES  ET  CLINIQUES 


-ffi 

1 1  l  i 

fi 

il 

P 

feC 

i 

1 

1  î>w 

1  + 

» 

i  1  + 

a 

S 

S 

I  +++ 

HJ 

► 

J+  + 

•*"5 

+  +  1 

o 

4"  I 

%4 

4-  | 

1 

•  •  •  • 

•  •  •  • 

•  •  •  • 

•  •  • 

8 

i 

•  •  • 

•  •  •  • 

-•  •  •  • 

•  •  •  • 

•  •  •  • 

•  *  »  * 

•  •  •  • 

•  •  •  • 

•  •  •  • 

•  •  •  • 

•  •  •  • 

•  •  •  • 

«  •  •  • 

•  •  •  • 

•  •  • 

•  •  •  • 

.  •  •  . 

•  •  •  • 

•  •  •  • 

•*  •  • 

*  *  *  a 

•  :  :  <n 

Vh 

ín  :  :£ 

Ttf  .  O 

Groupes  clinique: 

STIMULATION 
ENERGIE  8) 
SEDATION  (19) 
SURS  ATISF  ACTl 

+  4-  1+  I  4- 


4-  <4- 

+ 


+ 


4~  4-  T 


4~  4- 


+ 


+  4- 


4~  4-  \  |  +  |  4- 

+ 


+ 


O  © 

*2  s 

43  « 

—  HH 

S'® 

-S* 

fr*  © 
3-0 

te 

i  * 

il 

-4S  « 


<©' 

U 
■** 

a' 


3 

ci 

« 

‘© 


%  <* 

«H  Eh 

*H  'S 

“i 
© 


■H» 


'S  ° 

'i  | 

j  *© 


4-4- 


+ 


4 


4-4-  + 


+  T 


+ 


4-4-4- 


+ 


+ 


+  4- 


+  + 


+ 


+ 


a 

M 

O 

« 

» 

■fc 

a 


§  1 
W  1 
H.g 
«sj  O  H 

S*E 

>< 

o-flî 

aH 
a* 

« 

Qa 

H  i 
te  I 


te 

p  I 

O) 

P 
X 
eu 
Ú1 

£  te 
fl  ÿ. 

03  "QJ 

35  1:3 
El,-*-» 

QP  *iH 

a  +-1 

.S  te 

F— i  Q 

OJ  ,tH 

■QPl 


<u 

l~H 

03 

Sh 

V(U 

fl 

‘A 

tuo 

va; 

-*-> 

va; 

•rH 

*H 

a 

o 

?h 

a 


te 

+-> 

fl 

a; 

S 

o3 

O 

•  rH 

73 

va; 


A 

73 

O) 

73 

•  rH 

o3 


•ci 

te 

‘<U 


ce 
a; 

?>  te 

'A  a; 


c3 

a 


O) 

'ci 

ÍH 

va; 

fl 

va; 

bJD 

‘<U 

‘<U 


fl 

O 

*H 

te 

fl 

a 

+-> 

U 

d> 

a 


iô 


va; 


o 

03 

"b 


fl 

a1 


ÏH 

a.i 

°  b : 
N  a 

ce  o 

•  f-H  r—i 

-fl  *fl 
a  a 

wW 


Sh 

a 
o 

5_  te 

a  o; 
fl 

.  H  QH 

ce  .fl 
<U  fl 
-fl  ‘fl 

+->  r3 
03  fl3 

a1  a  te 

fl  O  Ci 

O  X!  -fl  'fl 
o  o  a. fl 

fl  k^73 
fl  m  te  h 

<d*0HH 


O) 

"fl 


te 

A 

fl 


-fl 

ai 

•rfl 

-*-> 

03 

te 

fl 


ce 

fl 

A3 


PI 

<u 
ffi 

PL,  ^ 

O 'fl 

a  fl  “ 

voj  <u 

tuo  fl 

‘fl*£  o 
fl  fl  Ç 

a  o  fl 
-fl  fl 
a  a 

a 

HH  te 

fl  £ 

3-h  fl 
33  CT1 

..—i  „ 

HH  - 

'fl  o 

U  Îh 

bn  > 

fl-vfl 

QZ 


ce 

ï  te 
H,  fl 
a -a 


ÍH 

fl 


?7>  fl 

-fl  ce 


fl 

•  rH 

fl 
O 
-fl 

ce  a 

HH 

•  rH  ^ 

te  va; 
ce  4_i 
fl  va; 
fl  *jh 

a  >< 

‘fl  fl 
73  03 


fl 

fl 

-A 

-fl 

a 

CtJ 

tuO 

‘fl 


fl 

73 


fl 


fl 


ce 

fl 

O 

ce 


te 

-*-H 

fl 

03 


in 

a 

73 


A 

Hh 

HH 

fl 


te 

fl 

ô 

ce 


û  te 

2^ 
a  o) 

fl  S 

73  vfl 
73 

Ü  g 

HH  fl 

fl  fl 

a  cr1 

•rH 

te  fl 
fl  o 

°  b 

te  fl 


ce 

fl 

* 

l/l 

fl 

te 

fl 

~  ° 
ce 

fl 

fl 

fl 

fl 

fl 

a 

•  rH 

a 

•  T—*  — 

- 

a 

•  rH 

-H»  H 

S 

’•L  E 

O 

O 

o 

r— 1 

/—s 

> 

U 

> 

5h 

> 

ü 

fl 

if 

■Vfl 

Vfl 

vfl 

'Z 

Z 

Z 

< 

fl 

fl 

a 

•  rH 
-H> 

ce 

O 

fl 

bQ 

03 


vfl 

a 

a 

ce 

vfl 

tí 


3C> 


PONT.  UNIV.  CAT.  DC  R.  G.  S: 


dans  sa  totalité,  mais  en  tous  cas,  d’un  monde  qui,  pour  lui,  ne  pos¬ 
sède  ni  attraits,  ni  valeurs  émotionnelles,  ni  propriétés  stimulante»* 
_  pas  plus  dans  le  sens  d’une  valeur  d’excitation  que  dans  le  but 

d’une  décharge  des  tensions  affectives. 

Le  rouge  et  le  noir,  les  pourcentages  de  norme  chez 
les  adultes,  sont  en  corrélation  negative  en  particulier;  de  même4 
dans  la  plupart  des  résultats  cliniques  collectifs.  L’accroissement 
du  rouge  correspond,  la  plupart  du  temps,  à  une  réduction  du  noir 
et  inversement.  Vou  de  cet  aspect,  il  nous  est  facile  de  déduire  une 
hypothèse  d’interprétation  peur 

la  couleur  incolore  noir: 

le  noir  symbolise  une  fonction  qui  a  non  seulement  pour  effet 
d’écarter  les  excitations  venant  de  l’extérieur,  de  restreindre  l'attrait 
du  monde  externe,  mais  aussi  de  restreindre  la  décharge  des  émo¬ 
tions,  et  dans  le  cas  extrême,  de  les  paralyser. 

Ceci  correspond  à  la  manifestation  de  la  pseudostabiiisation,  mais' 
simultanément  aussi  de  la  peur.  Le  syndrome  «rouge  normal  ou 
réduit  /  noir  accru»  est  caractéristique  pour  la  coarctation  extra- 
versive  du  type  névrotique  ou  pour  la  phobie,  n  général,  ce  syn¬ 
drome  représente,  quoiqu’il  en  soit,  la  barrière  contre  les  irritations 
venant  de  l’extérieur  qui  repose  sur  la  répression  (Verdrangung)  de 
besoins,  de  désirs  et  de  motifs  émotionnels. 

Le  noir  représente  généralement  un  facteur  d’inhibition  de  mo¬ 
tivations  et  de  réactions  émotionnelles.  Le  choix  naturel  du  noir  — 
ni  trop,  ni  trop  peu  —  exprime  cette  mesure  indispensable  de  répres¬ 
sion  que  l’homme  cultivé  doit  accomplir.  Si  le  noir  manque,  nous 
voyons  là  un  signe  de  favorisation  du  caractère  émotionnel  immédiat 
et  du  manque  de  contenance,  précisément  du  fait  que  l’inhibidition. 
et  la  répression  sont  absents  ou  trop  faibles.  (Au  lieu  du  noir,  les 
couleurs  gris  et  bleu  peuvent  jouer  le  rôle  de  facteurs  de  refou¬ 
lement  .  ) 

La  couleur  incolore  gris7: 

Le  gris  se  présente  sous  le  même  jour  en  face  de  rouge  en  cor¬ 
rélation  négative,  mais  uniquement  dans  le  sens  que  lors  de  l’accrois¬ 
sement  du  rouge  le  gris  diminue,  mais  non  inversement. 

Généralement,  le  gris  ne  fait  même  pas  l’objet  du  choix  chez  la 
majorité  das  individus.  L’absence  du  gris,  tant  du  point  de  vue  col¬ 
lectif  qu’individuel,  ne  signifie  pas  grand’chose.  L’augmentaition  de 
gris  se  rencontre,  parmi  tous  les  groupes  cliniques,  uniquement  dans 
le  groupe  collectif  des  névrotiques.  Il  s’agit  là  d’un  résultat  fondé 
sur  la  statistique,  correspondant  à  un  groupe  très  étendu. 

Des  résultats  casuistes  ont  confirmé  la  supposition  que  le  gris, 
plusque  toute  autre  couleur,  correspond  à  ce  mécanisme  de  défense 
qui  nie  la  réalité  (négation  dans  le  sens  de  S.  FREUD).  Parmi  les 
enfants  jeunes,  chez  qui  se  développe  le  contrôle  de  la  réalité,  l’on, 
rencontre  la  négation  sous  sa  forme  naturelle  de  l’évolution  du  Moi. 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


31 


Parmi  les  adultes,  les  cas  de  névrotiques,  où  la  négation  constitue 
un  élément  essentiel  de  leur  travail  de  défense,  sont  rares.  L’accrois¬ 
sement  du  gris  laisse  apparaître  des  traits  hystériformes  chez  des 
personnes  sujettes  à  la  névrose  ou  névrotiques  empruntes  de  désirs 
instinctifs  prononcés  et  de  le  défiguration  perceptive  caractéristique 
nommé  «mythomane». 

La  couleur  incolore  blanc: 

En  considérant  finalement  sous  ce  même  aspect  la  troisième 
couleur  incolore,  le  blanc,  nous  percevons  ceci:  Entre  le  rouge  et  le 
blanc,  il  n’est  guère  possible  de  constater,  parmi  les  groupes  analy¬ 
sés,  un  parallélisme  ou  un  antagonisme  des  quantités  de  pourcen¬ 
tage.  C’est  ainsi,  par  exemple,  que  le  blanc  s’accroit  en  présence  de 
sursatisfaction  affective,  dans  le  groupe  collectif  étendu  des  psycho¬ 
ses  schizophrènes,  chez  les  épilectiques,  chez  certains  types  de  psy¬ 
chopathes  et  de  névroses,  etc. 

En  général,  le  blanc  ne  fait  même  pas  l’objet  du  choix  chez  la 
majorité  des  individus,  —  comme  le  gris  aussi.  La  réduction  du 
blanc  a  lieu  par  exemple  sous  l’effet  de  Mégaphène. 

La  signification  fondamentale  du  blanc  se  laisse  percevoir  à 
partir  des  résultats  des  épileptiques,  où  le  rouge  se  trouve  également 
accru.  Des  épileptiques  (surtout  lorsqu’ils  ne  sont  pas  sous  l’effet  de 
médicament)  se  caractérisent  par  leur  susceptibilité  et  leur  irrita¬ 
tion  brusque  qui  peut  les  inciter  à  des  actes  de  violence  brutaux. 
Dans  le  cas  extrême,  ce  symptomatisme  agressif  apparaît  en  dis¬ 
corde  avec  la  personnalité,  séparé,  pour  ainsi  dire,  de  la  personna¬ 
lité. 

Des  phénomènes  de  discordance  apparaissent  également  comme 
états  passagers,  notemment  en  présence  d’épuissements  tant  psy¬ 
chiques  que  physiques,  comme  phénomène  de  la  sursatisfatcion,  ou, 
à  l’aide  de  médicaments,  par  le  LSD.  A  l’état  de  discordance,  une 
seule  émotion  peut  s’approprier  dynamiquement  toutes  les  excita¬ 
tions  affectives  et  les  rendre  brusquement  manifeste.  Ce  processus 
de  crise  est  connu  sous  le  nom  de  «réaction-bascule»  (Kipp-Reaktion). 
Cette  réaction  se  caractérise  par  la  décharge  brusque,  non  motivée 
de  l’extérieur,  de  tensions  émotionnelles.  La  crise  peut  aboutir: 
ou  bien  à  un  symptomatisme  agressif  (brutalités  épilectiques,  par 
exemple)  ou  dans  un  symptomatisme  dépressif  (effondrement  in¬ 
terne)  .  Le  dénouement  d’un  tel  accès,  s’effectue  rarement  dans  «le 
calme  équilibre». 

Tout  ceci  est  valable  pour  l’hypothèse  d’interprétation  du  blanc, 
en  ce  qui  concerne  l’accroissement,  cela  va  de  soi. 

L’accroissement  simultané  du  blanc,  du  rouge  et  du  g  r  i  s  ca¬ 
ractérise  l’état  de  conflit  du  type  hystériforme:  irritabilité  aiguë 
avec  tendance  à  des  accès,  simultanément  négation  des  exigences 
réelles  du  monde  extérieur.  Dans  ce  cas,  le  dédaignement  de 
l’orange  et  du  jaune  vient  s’ajouter  fréquemment,  comme  symp¬ 
tôme  de  la  suggestibilité. 


32 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


La  réduction  simultanée  du  noir,  du  gris  et  du  blanc  se 
représente  comme  propriété  complexe  caractérisant  révolution  im¬ 
parfaite  de  certaines  fonctions  du  Moi,  en  particulier  des  fonctions 
défensives.  L’on  a  observé  un  affaiblissement  des  fonctions  défen¬ 
sives  du  Moi  en  présence  des  types  qui  ne  refoulent  ou  n’assimilent 
pas  suffisamment  les  exigences  des  désirs;  c’est  pourquoi  le  com¬ 
portement  est  motivé  dans  le  sens  négatif  du  point  de  vue  social  (les 
délinquants  sexuels,  par  exemple) .  Des  faibles  fonctions  défensives 
du  Moi  se  rencontrent  également  chez  le  type  hypertonique,  insa¬ 
tiable  d’activité  dont  l’agitation  continuelle  n’est  pas  toujours  d’un 
effet  positif  du  pont  de  vue  social.  Finalement  les  individus  aux  ca¬ 
pacités  accrues,  actifs  et  énergiques  qui  se  comportent  normalement 
et  de  manière  positive,  font  apparaître  également  une  sous-évolu¬ 
tion  des  fonctions  défensives  du  Moi. 

L’absence  des  couleurs  incolores  indique  d’autre  part  une  im¬ 
muabilité  de  la  structure  des  affects  et  une  maturité  émotionnelle 
relativement  imparfaite.  Ces  individus  n’ont  jamais  réussi  à  vain¬ 
cre  leurs  désirs  infantiles,  leur  Moi  est  livré  aux  impulsions  des 
désirs  de  manière  plus  ou  moins  passive.  Chez  les  enfants  d’âge 
scolaire  moyen,  ceux  qui  évitent  les  couleurs  incolores  représentent 
enfants  impulsifs,  à  problèmes,  difficilement  éducables. 

La  couleur  orange  : 

Indépendamment  de  la  couleur  type  de  l’excitation,  le  rouge,  les 
couleurs  orange,  jaune  et  les  teintes  claires  du  vert  font  partie  de 
la  face  extraversive  de  l’affectivité.  L’orange  et  le  jaune  symboli¬ 
sent  des  qualités  émotionnelles  fort  diverses. 

Les  individus  choisissant  obstinément  l’orange  ont  avec  le  mon¬ 
de  extérieur  les  rapports  précis  résultant  de  la  projection  de  leurs 
affects.  Ils  réagissent  surtout  en  face  d’attraits  et  de  situations 
qui  leur  offrent  la  possibilité  d’assouvir  leurs  désirs  accentués,  — 
en  précisant:  d’assouvir  leur  sensualité  très  développée.  Fréquem¬ 
ment  il  s’agit  aussi  de  l’accentuation  d’un  désir  prononcé  de  domi¬ 
ner.  Leur  désir  de  dominer  est  à  la  base  de  la  motivation  qui  les 
fait  se  croire  supérieur  en  tous  lieux.  Ceci  entraine  un  certain 
comportement  social.  Ces  individus  peuvent  déranger  de  par  leur 
présomption  et  leur  surestimation  les  rapports  sociaiux  de  la  com¬ 
munauté  dans  laquelle  ils  vivent.  Il  ne  leur  est  possible  de  s’enten¬ 
dre  qu’avec  des  individus  qui  de  leur  côté  ont  une  tendance  accen¬ 
tuée  de  subordination.  Ils  ont  également  un  penchant  à  se  croire 
persécutés,  à  cause  de  la  projection  de  leurs  propres  désirs. 

L’accroissement  de  l’orange  se  retrouve  dans  la  plupart  des  cas 
de  mégalomanie  (dans  la  paralysie  progressive,  par  exemple),  chez 
d’autres  expériences  délirantes  (ainsi  le  délire  de  persécution  des 
schizophrènes  paranoides,  pas  dans  tous  les  cas  — ),  dans  l’état  d’ébrié¬ 
té  causé  par  le  LSD  et  parmi  les  adonnés  à  la  boisson  chroniques 
et  déments.  L’on  reconnait  à  ces  symptômes  que  l’accroissement 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


33 


de  l’orange  est  manifestement  caractéristique  pour  l’altération  ma¬ 
ladive  de  la  façon  de  réagir  face  à  la  réalité;  et  de  même  pour  le 
penchant  accentué  à  la  confabulation  (Syndrome  de  Korsakow  des 
alcooliques,  état  d’ébriété  dû  au  LSD) .  Ce  trait  devient  évident, 
sous  une  forme  moins  prononcée,  en  présence  d’individus  stimulés 
expérimentalement  (Pervitine)  qui  sous-estiment  la  résistance  du 
monde  extérieur  en  surestimant  leurs  propres  capacités  de  rende¬ 
ment  . 

En  négligeant  l’orange,  une  suggestibilité  accentuée  s’annonce, 
et,  simultanément  une  faiblesse  de  la  conscience  de  soi-même. 

Le  choix  normal  moyen  de  l’orange  caractérise  les  individus  qui 
disposent  d’une  sensibilité  prononcée  et  chaleureuse,  ni  trop  exci¬ 
table,  ni  trop  apathique;  sentiments  modérés  (non  pas,  comme  en 
présence  du  rouge:  réaction  spontanée)  et  sentiments  assimilables 
(par  contre,  en  présence  du  rouge:  agitation  débordante) . 

La  couleur  jaune: 

Un  choix  accru  du  jaune  indique  des  tendances  extraversives 
prononcées  avec  le  concours  d’une  certaine  faiblesse  du  résonne- 
ment  émotionnel,  basée  sur  une  ref rénation  (Hemmung)  générale 
des  forces  d’impulsion.  Ces  individus  supportent  mal  des  frustra¬ 
tions  de  leurs  désirs  et  besoins  rares  mais  précis.  Us  sont  quelque 
peu  revêches,  irréguliers  dans  leur  comportement.  Leurs  rapports  so¬ 
ciaux  sont  guidés  par  des  sentiments  prononcées  de  sympathie  et 
d’antipathie;  des  motifs  très  développés  servent  à  des  buts  (objec¬ 
tifs  et  personnels)  précis,  d’autres  contre  d’autres  buts  non  moins 
précis.  Ainsi,  par  exemple,  les  névroses  anancastes  où  le  fait  d’évi¬ 
ter  ou  de  rechercher  détermine  les  différents  formes  du  comporte¬ 
ment.  De  même  les  individus  qui  écrivent  avec  un  degré  d’inflexi¬ 
bilité  IV  (POPHAL  (15)  ).  (Le  degré  d’inflexibilté  IV  dans  l’écri¬ 
ture  peut  provenir  de  la  faiblesse,  de  la  tension  aiguë  ou  par  suite 
de  certains  troubles  extrapyramidaux) .  Dans  certaines  caractéris¬ 
tiques  graphiques,  l’ambivalence  apparait  également,  qui  provient  de 
conflits  non  résolus  et  ancrés  et  qui  caractérise  les  anancastes. 

Chez  les  anancastes  et  certains  individus  qui  ont  des  traits 
d’écriture  rigide,  le  choix  accru  de  bleu  s’associe  au  choix  accru 
de  jaune  (nous  insistérons  ultérieurement  sur  le  bleu).  En  ce  qui 
concerne  la  connexion  du  bleu  avec  le  jaune,  j’anticiperai  en  préci¬ 
sant  que  l’accroissement  du  bleu  représent  la  caractéristique  du  con¬ 
trôle  trop  prononcé  de  soi-même,  comme  c’est  le  cas  chez  les  indi¬ 
vidus  qui  ont  des  traits  d’écriture  rigides  et  en  présence  d’anan- 
castes . 

La  préférance  du  jaune  indique  également  la  présence  d’aspira¬ 
tions  et  d’ambitions  précises  bien  développées,  empreintes,  certes, 
d’une  tendance  à  l’intolérance. 

En  présence  de  personnes  douées  de  qualités  de  chef,  l’on  re¬ 
trouve  le  choix  des  couleurs  jaune  et  orange,  ou  au  moins,  Tune 


34 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


des  deux.  (17)  C’est  à  quoi  l’on  reconnaît  que  ces  individus  possè¬ 
dent  simultanément  quelque  chose  de  la  volonté  de  puissance  et  de 
l’idée  exagérée  de  soi-même  caractéristique  à  ceux  qui  préfèrent 
l’orange,  et  des  ambitions  précises  de  ceux  qui  préfèrent  le  jaune. 

La  caractéristique  principale  de  la  suggestibilité  est  représentée 
par  l’éviction  du  jaune. 

La  couleur  vert: 

L’accroissement  du  vert  implique  généralement  une  intensité 
accrue  des  réactions  et  des  motivations  émotionnelles.  La  termino¬ 
logie  introduite  par  HEISS  (5)  pour  la  valeur  symptomatique  du 
vert  «cumulation  des  émotions»  caractérise  cette  situation.  C’est 
la  symptôme  de  l’accroissement  de  l’intensité  du  sentiment  qui  pro¬ 
vient  de  la  cumulation  d’excitations  affectives. 

L’accroissement  du  vert  indique  une  accumulation  d’excitations 
affectives  qui  peut  mener  à  arrimage  d’affects.  C’est  pourquoi  ceux 
qui  préfèrent  le  vert  s’adaptent  émotionnellement  plus  ou  moins  bien; 
ainsi  les  tempéraments  schizoides,  les  névroses  hystériformes  et,  en 
général,  les  psychopathes.  Le  trouble  des  contacts  d’homme  à  hom¬ 
me  fait  également  partie  de  cette  adaptation  externe  imparfaite,  — 
même  cas  lors  de  l’éviction  du  vert.  L’un  et  l’autre  sont  sujets  à 
des  troubles  d’adaptation.  Le  choix  prononcé  du  vert  indique  éga¬ 
lement  une  hypersensibilité,  une  susceptibilité  aiguë,  qui  se  pré¬ 
sente  lors  de  cumulation  et  de  faibles  décharges  d’affects. 

L’accroissement  accentué  du  vert  et  du  rouge  se  rencontre 
comme  caractéristique  psychopathe  en  présence  d’individus  impul¬ 
sifs  dont  le  Moi  est  faible  et  où  l’on  diagnostique  un  manque  de 
contenance  plus  ou  moins  prononcé;  la  plupart  du  temps  l’orange 
et  le  jaune  sont  réduits.  En  présence  de  prostituées,  avec  leur  Moi 
faible,  qui  se  laissent  entraîner  passivement  par  leurs  désirs  ins¬ 
tinctifs,  l’on  rencontre  de  pair  avec  l’accroissement  du  vert  et  du 
rouge  une  réduction  du  marron. 

Le  choix  moyen  des  teintes  claires  du  vert  indique  l’existence 
d’une  certaine  mesure,  de  stimulation  extraversive,  tandis  que  les 
teintes  foncées  indiquent  l’intensité  de  l’émotion.  En  allemand  il 
existe  un  mot  «Gefühlstiefe/  (verbalement:  profondeur  de  senti¬ 
ments)  qui  exprime  l’intensité  du  saisissement  qu’un  individu  est 
capable  de  ressentir  en  face  d’émotions  et  d’expériences  vécues. 

En  présence  d’un  syndrome  des  couleurs  qui  apparaît  accentué 
dans  son  intégralité  chez  les  individus  actifs  et  énergiques  doués 
de  grandes  capacités  de  rendement,  l’on  rencontre  à  côté  de  l’accrois¬ 
sement  du  vert  une  augmentation  du  marron  et  du  jaune,  tandis 
que  les  couleurs  incolores  sont  réduites .  Ce  résultat  caractérise 
l’état  affectif  des  individus  actifs  et  énergiques:  on  va  son  chemin 
conscient  du  but  à  suivre  (jaune),  avec  une  intensité  voulue  (vert), 
force  et  persévérance  (marron)  et  agit  dépourvu  d’inhibitions,  adapté 
à  la  réalité  et  consciencieusement  (noir,  gris  et  blanc  réduits);  on 


PONT.  UNIY.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


35 


n’est  pas  enclin  à  la  suggestibilité  et  ne  se  berne  pas  si  facilement 
lui-même  (abaissement  du  jaune  et  de  l’orange) . 

La  couleur  marron  : 

Le  fait  de  vouloir  demeurer,  persister  dans  tel  ou  tel  état  émo¬ 
tionnel  est  caractérisé  par  la  couleur  marron,  de,  même  la  durée  et 
la  persévération  de  l’affect.  Ainsi  nous  percevons  à  quel  point  ces 
individus  sont  peu  influençables,  de  même  les  difficulés  d’approche, 
la  résistance,  l’opposition  présentée  qui  caractérise  ceux  préférant 
le  marron.  Ils  font  preuve  de  résistance  accentuée  en  face  d'exci¬ 
tations  nouvelles  et  inhabituées.  Ainsi  en  présence  de,  la  fatigue 
toxique,  chez  les  individus  adonnés  à  la  boisson  et  chez  les  névro¬ 
ses  hysterif ormes .  Tous  ces  individus  ont  tendance  à  demeurer  dans 
leur  état  d’affetc  et  à  opposer  aux  influences  extérieurs,  même  à  la 
thérapie,  un  mur  de  résistance. 

Le  fait  que  les  individus  préférant  le  marron  sont  fréquemment 
liés  aux  traditions  et  qu’ils  forment  leurs  idéals  culturels  à  l’échelle 
de  leur  maison  paternelle  et  de  leur  patrie  est  conforme  au  facteur 
de  persévération  émotionnelle.  Ils  défendent  avec  entêtement,  par¬ 
fois  même  fanatiquement,  les  formes  et  les  idéals  transmis  contre 
les  influences  et  l’irruption  de  formes  de  vie  nouvelles  qui  leur 
sont  étrangères.  Par  conséquent,  indirectement  le  marron  représen¬ 
te  une  caractéristique  de  la  force  du  Moi. 

La  couleur  violet: 

Nombre  d’individus  sains  et  tout  à  fait  normaux  ne  choisissent 
pas  le  violet.  Ce  sont  généralement  ceux  qui  émotionnellement  et 
en  tant  que  personnalité  sont  dépourvue,  de  façon  relative;  de  dif- 
rérenciaition  et  où  les  symptômes  de  troubles  affectives  ou  névro¬ 
tiques  sont  absents.  De  même  le  type  de  l’individu  actif  et  éner¬ 
gique  n’éprouve  rien  pour  le  violet.  Or,  les  névropathes  schizoides 
et  anancastes  évitent  également  le  violet,  mais  font  preuve  de  bizar¬ 
reries  plus  ou  moins  grossières  dans  d’autres  couleurs.  C’est  pour¬ 
quoi  l’absence,  de  violet  ne  peut  être  interprétée  a  priori  comme  ca¬ 
ractéristique  du  normal.  Dans  l’état  d’ébriété  dû  au  LSD  le  violet 
est  accru;  de  même  lors  de  la  sédation  à  l’aide  de  Mégaphène,  de 
sursatisfaction  affective  et  en  présence  de  schizophrènes.  Ces  cons¬ 
tatations  projettent  une  image  très  complexe  de  l’augmentation  du 
violet . 

Celui-ci  apparait  le  plus  compréhensible  si  on  lui  prête  la  ca¬ 
ractéristique  d’une  labilité  affective  non  spécifique.  Par  exemple: 
L’individu  le  plus  sain  et  le  plus  équilibre  accuse  en  présence  de 
sursatisfaction  affective  des  réactions  sortant  de  l’ordinanre,  telles 
que  apathie,  persévération,  manifestation  violente  d’affects,  affai¬ 
blissement  du  contrôle  —  l’accroissement  du  violet  est,  en  l’occu¬ 
rence,  l’indicateur  de  la  labilisation.  Subjectivement,  la  labilité 
s’identifie  sous  une  forme  d’inquiétude,  d’agitation  sourde  dont  la 


36 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


cause  est  souvent  ignorée  des  individus  eux-mêmes;  dans  le  libre 
comportement  l’on  perçoit  fréquemment  une  irritation  qui  apparaît 
non  motivée.  Ces  manifestations  ont  inspirées  les  premières  formu¬ 
lations  de.  la  valeur  symptomatique  du  violet:  «agitation  ‘endogène». 
Cette  définition  touche  très  exactement  la  notion  de  la  labilité  de 
structure  des  individus  préférant  le  violet. 

C’est  de  cette  façon  que  l’on  parvient  à  s’expliquer  les  divers 
résultats  obtenus  chez  divers  types  de  névrosés  sous  l’effet  de  Mé- 
gaphène  et  du  LSD;  à  l’époque  de  l’analyse  au  moyen  du  test  des 
Pyramides  des  Couleurs,  la  régulation  et  la  stabilisation  désirés  thé¬ 
rapeutiquement  avec  l’emploi  de  Mégaphène,  ne  se  manifeste  que 
petit  à  petit. 

La  couleur  bleu: 

L’accroissement  du  bleu,  accompagné  la  plupart  du  temps  d’une 
réduction  plus  ou  moins  importante  de  rextraversion,  s’identifie 
comme  caractéristique  d’un  contrôle  (parfois  même  sur-contrôle) 
des  affects  inconscients,  perceptibles  'en  partie,  de  temps  en  temps 
renforcé  par  la  volonté.  Le  sur-contrôle  est  le  résultat  d’une  atti¬ 
tude  défensive  envers  les  attraits  du  monde  extérieur  'et  d’un  système 
d’échappement  économe  d’énergies  affectives.  Les  individus  préfé¬ 
rant  le  bleu  se  développent  souvent  sur  un  fond  d’infériorité  biolo¬ 
gique,  l’équilibre  entre  les  tendances  introversives  et  extraversives 
est  mal  établi,  ce  qui  favorise  les  évolutions  névrotiques.  Ces  der¬ 
nières  sont  caractérisées  par  deux  symptômes:  premièrement,  l’am¬ 
bivalence,  et  deuxièmement,  l’attitude  négative  prise  en  face  aux 
attraits  venant  de  l’extérieur,  aux  influences  et  aux  différentes  si¬ 
tuations.  L’effet  est  un  sur-contrôle.  Cet  instance  de  contrôle,  sym¬ 
bolisée  par  le  bleu,  et  le  couleur  incolore  noir,  ont  ceci  de  commun 
qu’elles  impliquent  toutes  deux  un  empêchement  et  un  entravement 
des  excitations  affectives. 

Dans  leur  libre  conduite,  ceux  qui  préfèrent  le  bleu  affichent 
ce  distancement  poli  qui  s’accompagne  de  conventions  prononcées 
et  de  formes  rigides.  L’authenticité  d’un  sentiment  ou  d’une  attitude 
leur  est  étrangère.  Ces  mêmes  individus  ont  tendance  à  styliser  leur 
personnalité  et  leur  mode  de  vie.  Ils  sont  des  pessimistes  par  prin¬ 
cipe,  dans  les  cas  extrêmes  ils  sont  «négativistes». 

L'accroissement  du  bleu  et  celui  du  g  r  i  s,  pris  ensemble,  ressem¬ 
ble  beaucoup  au  domaine  de  l’expérience  vécue  introversive.  Chez 
les  enfants,  il  s’est  établi  une  corrélation  positive  nette  entre  le 
type  introversif  (authentique  et  dépourvu  de  chocs)  du  test  de 
RORSCHACH  et  un  accroissement  du  bleu  et  du  gris  dans  le  test 
des  Pyramides  des  Couleurs. 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


37 


\ 


Ca  que  je  viens  d’exposer  est  le  résumé  des  résultats  principaux 
de  notre  analyse  expérimentale  et  clinique  du  test  des  Pyramides  des 
Couleurs.  Certes  les  couleurs  de  ce  test  ne  représentent  qu’une  par¬ 
tie  des  variables  employés.  Nous  disposons,  en  outre,  de  variables 
des  espèces  structurelles  des  pyramides  («Formung»),  et  de  varia¬ 
bles  de  l’alternance  des  couleurs  choisies  («Verlaufsformel/).  Dans 
le  diagnostic  nous  ne  considérons  pas  uniquement  la  signification 
des  couleurs,  mais  nous  utilisons  aussi  les  variables  précitées. 


BIBLIOGRAPHIE 

1)  Alschuler,  R.  H.  &  L.  B.  W.  Hattwick:  Painting  and  Personality,  Chicago, 
III.  1948 

2)  Brengelmann,  J.  C.  :  Psychol.  Rundschau  (Gottingen)  1953t  IV,  33-43,  165-173 

3)  Prohoff,  W.  :  Zeitschr.  exp.  angew.  Psychol.  (Gottingen)  1953,  I,  145-181 

4)  Heiss,  R.  :  Psychol.  Rundschau  (Gottingen)  1952,  III,  1-11 

5)  Heiss,  R.  &  H.  Hiltmann  (Hrsg.):  Der  Farbpyramidentest.  Bern  1951 

6)  Hiltmann,  H.  &  R.  Heiss:  Schweiz.  Zeitschr.  Ps|ychol.  (Bern)  1950,  IX, 
441-462 

7)  Kadis,  A.  L. :  v.  Abt,  L.  E.  &  L.  Beliak  (Edit.):  Projective  Psychology, 
New  York,  1950 

8)  Karl,  H.  :  Zeitschr.  exp.  angew.  Psychol.  (Gottingen)  1953,  I,  524-567 

9)  Katz,  D.  :  Die  Erscheinungsweisen  der  Farben  und  ihre  Beeinflussung 
durch  die  individuelle  Erfahrung,  Leipzig  1911 

10)  Kloska,  G.  :  Der  Neurot'ker  im  Spiegel  des  Farbpyramiden-Tests,  1955  (sous 
presse) 

11)  Lowenfeld,  M.  :  The  Lovenfeld  Mosaic  Test,  London  1954 

12)  Lüscher,  M.  :  Ps/ychologie  der  Farben,  Basel  1949 

13)  Norman,  R.  D.  &  W.  A.  Scott:  J.  Gen.  Psychol.  1952,  46,  185-223 

14)  Pfister,  M.  :  Psychol.  Rundschau  (Gottingen)  1950,  I,  192-194 

15)  Pophal(  R.  :  Die  Handschrift  als  Gehirnschrift,  Rudolstadt  1949 

16)  Rainio,  K.  :  Ztschr.  diagnost.  Psychol.  &  Personlichkeitsforsch.  (Bern)  1954, 
2,  292-308 

17)  Rainio,  K.  :  Leadership  Qualities,  a  theoretical  inquiry  and  an  experimen¬ 

tal  study  on  foremen,  Helsinki  1955 

18)  Rorschach,  H.  :  Psjychod'agnostik,  Bern  1954 

19)  Sauer,  P.  :  Experimented  Untersuchungen  über  Ermüdung  im  Farbpyra- 
miden-Test,  Phil.  Diss.  Freiburg  (Brsg.)  1955 

20)  Siedow,  H.  :  Ztschr.  diagnost.  Psjychol.  &  Personlichkeitsforschg.  (Bern) 
1958,  VI  (sous  presse) 

21)  Spreen,  O.  :  Studien  z.  Diagnost.  Psychol.  (Biel)  1955,  3,  79-120 

22)  v.  Studien  z.  Diagnost.  Pslychol.  (Biel)  1955,  3,  121-132 

23)  Wells,  N.  A.  :  Psychol.  Bulletin  1910,  7,  181-229 

24)  Wewetzer,  K.  H.:  v.  Hiltmann,  H.,  H.  Lossen,  B.  Muchov  &  k.  H.  Vevet- 
zer:  Verlaufsanalyse  in  der  psjycholog'schen  Diagnostik,  Bern  1954 

25)  Ziolko,  U.  :  Experimentell-psjychologische  Studien  an  Neurotikern  mit  dem 
Farbpyramiden-Test,  1957  (publication  préparée) 

26)  Zulliger,  H.  :  Behn-Rorschach-Test,  Bern  1952 

27)  Zulliger,  H.  :  Der  Z-Test,  Bern  1948 

28)  Zulliger,  H.  :  Der  Tafeln-Z-Test,  Bern  1954. 


DR.  HILDEGARD  HILTMANN 

Professeur  de  Psychologie  à  l’Université  de  Fribourg 
(Brisgou),  Allemagne,  Bertoldstrasse  17. 


EL  IDIOMA  ESPAÑOL 


AI  Rvdo.  Hno.  Dionisio  Lucas  y  a  sus 
estudiantes  devotos  del  idioma  de  Cervantes. 

Hno.  JOSE’  IGNACIO 

i  _  bosquejo  histórico  evolutivo 

Los  primeros  vestigios  del  idioma  vulgar  español  desaparecie¬ 
ron  en  la  destrucción  del  imperio  hispano-visigodo,  en  el  siglo  VIII. 
Pero  el  romance  hablado  antes  de  la  conquista  de  Aandalucía  (s. 
XIII)  se  parecía  al  leonés,  aragonés,  catalán  y  portugués  pero  no 
al  castellano. 

«Al  norte  del  reino  visigodo  (Cantabria)  se  mantenía  latente  el 
dialecto  castellano,  solitario  como  sus  montes  de  Oca,  rudo  como  el 
carácter  cántabro,  y  resistente  al  empuje  de  romanización.  Castillo 
defensivo . . . ,  más  tarde  nido  roquero  de  rebeldes  famosos  como 
Fernán  González  y  del  más  aguerrido  alférez  «Mió  Cid»  que  en  su 
expansión  militar  propagó  el  insignificante  dialecto  de  Castilla,  fun¬ 
diéndole  con  el  leonés  y  el  aragonés,  desalojando  del  sur  el  tímido 
romancero  de  los  mozárabes»  (Martín  Alonso) . 

Conquistó  pues  el  castellano  el  derecho  de  lengua  al  conseguir 
sobreponerse  a  los  demás  dialectos  peninsulares  como  un  hecho  pa¬ 
ralelo  al  acontecimiento  histórico  de  la  expansión  de  Castilla,  tanto 
territorial  como  política  y  judicialmente... 

Nadie  podrá  poner  en  duda  hoy,  de  que,  entre  las  lenguas  eu¬ 
ropeas  y  universales,  la  española  brilla  con  singular  fulgor  y  goza 
de  día  en  día  de  mayor  prestigio.  Sigamos  paso  a  pasó,  siglo  por 
siglo,  aunque  muy  .someramente,  el  origen  y  la  evolución  del  idioma 
castellano.  Podemos  iniciar  nuestro  esbozo  histórico  a  partir  del  si¬ 
glo  IX,  en  el  que  un  condado  Castella,  «castillos»,  al  este  de  Asturias, 
empieza  a  desarrollarse,  pues 

«Harto  era  Castilla,  pequeño  rincón, 
cuando  Amaya  era  cabeza  y  Hitera  el  mojón;» 
dándole  singular  valor  histórico  el  conde  Fernán  González,  que  con¬ 
siguió  en  el  siglo  X  notoria  independencia  para  el  condado. 

El  «castellano»  empieza  ya  a  proferir  sus  primeros  vagidos  en 
el  siglo  X;  es  informe  e  impreciso  como  crisálida  aún  de  la  futura 
lengua  española.  En  una  de  las  glosas  del  monasterio  de  San  Millán 
de  la  Cogolla  (Zogroño),  atribuidas  al  siglo  X,  se  encuentra  un 
párrafo,  publicado  por  el  señor  Gómez  Moreno,  que  ya  rezuma  mor- 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


39 


fología  incipiente,  pudiendo  ser  considerado  como  el  primero  y  más 
antiguo  documento  que  se  conoce  en  castellano:  «Como  ajutorio 
de  nuestro  dueño,  dueño  Christo,  dueño  Salbatore,  qual  dueño  get 
ena  honore,  equal  duenno  tienet  ela  mandatione  cono  Patre,  cono 
Spiritu  Sancto,  enos  siéculos  de  los  siéculos.  Fácanos  Deus  cmnipo- 
tes  tal  servicio  fere  que  denante  ela  sua  face  gaudiosos  seyaMUS. 
Amén». 

Las  palabras  más  antiguas  conocidas  en  castellano,  en  honor  y 
primer  homenaje  a  nuestra  religiosidad,  son  una  humilde  plegaria. 

No  menos  brumosa  y  lenta  sigue  la  gestación  y  metamorfosis 
de  nuestro  dialecto  en  el  siglo  XI;  confuso  e  indefinido  aún,  se  es¬ 
fuerza  por  desembarazarse  de  las  formas  latinas  y  de  la  dureza  e 
imperfección  del  léxico  de  primera  etapa. 

He  aquí  un  curioso  ejemplo  sacado  de  una  «Declaración  de  los 
derechos  del  canal  de  Castilla/,  hacia  el  año  1030: 

«De  illa  particigón  que  feci  senigor  Sango  Garece.  Ad 
Galino  Acenarece  era  lorika,  ero  kabalo,  era  espata.  Ad 
Sango  Scemenones  ero  kabalo,  era  mulla,  era  espata,  ero 
elemo.  Ad  Scemonio  si  teñe  illa  onore  (feudo),  tiengo  ero 
kabalo  por  mano  de  Cómela;  e  si  lesea  era  onore,  ero  ka¬ 
balo  segat  su  engenobo  libre» . . . 

Por  menéndez  Pidal  sabemos  que  «todos  los  escritores  árabes 
españoles  aluden  a  cada  paso  a  la  lengua  romance  usada  entre 
ellos».  Asimismo  los  poetas  árabes  compusieron  antiquísimas  can¬ 
ciones  o  jarchas,  de  las  que  Judá  Le  vi  (s.  XI)  nos  permite  dar  un 
ejemblo  lleno  de  interés  en  un  castellano  inseguro  con  mezcla  de 
resabios  árabes: 

«Vayse  meu  corachón  de  mib, 

?  ya,  Rab  (oh  Dios),  si  se  me  tornarad? 
zan  mal  meu  doler  li-l-habib  !  (por  el  amado) 

Enfermo  yed,  ?  cuándo  sanarád?». 

El  siglo  XII  tiene  importancia  decisiva  en  la  Historia  de  la  Fi¬ 
lología  española;  Montero  Diáz  le  apellida  «siglo  de  la  gran  rota- 
ración  de  Europa».  Como  ya  León,  Toledo  y  Zaragoza  estaban  vir¬ 
tualmente  dominados  por  los  cristianos,  los  dialectos  en  boga  eran 
el  leonés,  el  castellano,  el  aragonés,  el  gallego1  y  el  catalán.  Siglo 
de  los  cantares  épicos,  el  dialecto  castellano  había  de  apuntarse  una 
gran  hazaña,  Mió  Cid,  el  mayor  monumento  épico  del  siglo,  con 
evidente  sentido  patriótico  y  nacional,  lo  que  permite  considerar 
al  héroe  como  un  genuino  símbolo  de  la  Patria. 

Aunque  la  métrica  del  poema  es  irregular  y  el  lenguaje  aun  está 
lejos  de  acusar  formas  depuradas,  la  genial  obra  esboza  claramente 
la  enérgica  impronta  espiritual  de  los  nobles  atributos  de  la  ardiente 
alma  castellana. 

Sirvan  de  ejemplo  uns  versos  del  primer  canto  (el  destierro): 


40 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


«Mío  Çid  Roy  Díaz  por  Burgos  entrove, 

en  sue  compaña  sessaente  pendones; 

exien  lo  veer  mugieres  e  varones, 

burgueses  e  burguesas,  por  las  finiestras  soné, 

plorando  de  los  ojos,  tanto  avien  dolore. 

De  las  sus  bocas  todos  dizían  una  razone: 

«Dios,  qué  buen  vassallo,  si  oviesse  buen  señore!/ 

Tanto  los  cantares  de  gesta  del  siglo  XII  como  el  «Poema»  son 
anónimos;  por  lo  que  sólo  el  siglo  XIII  acusa  los  primeros  autores 
responsables  de  sus  obras,  que  son  como  los  primeros  pilares  y  fun¬ 
damentos  inapreciables  de  nuestra  literatura.  El  clérigo  rio j ano  Gon¬ 
zalo  de  Berceo  es  el  iniciador  de  la  poesía  religiosa,  tan  pintoresca 
cuan  realista  en  aquel  su  román  paladino,  en  el  que  popularizó  vi¬ 
das  de  santos  y  leyendas  milagrosas,  en  el  verso  espontáneo  y  plás¬ 
tico  del  mester  de  clerecía. 

No  menos  célebre  y  más  si  cabe  deve  considerarse  al  «padre 
de  la  prosa  castellana»,  Alfonso  X  el  Sabio.  Su  palacio  era  una  como 
Academia  de  la  Lengua,  en  la  que  numerosos  sabios,  judíos  como 
árabes,  frailes  como  segrares,  disertaban  y  escribían  sobre  las  más 
variadas  y  elevadas  concepciones  del  espíritu.  Con  el  autor  de  las 
cantigas  se  concreta  y  define  la  unidad  lingüística,  perfeccionán¬ 
dose  la  sintaxis  depurándose  el  vocabulario  e  introduciéndose  pala¬ 
bras  nuevas  latinas  y  árabes. 

En  su  Loor  de  España  describe  su  riqueza  y  belleza  como  si¬ 
gue:  «España  es  ahondada  de  mieses,  deleitosa  de  fructas,  viciosa 
de  pescados,  sabrosa  de  leche  et  de  todas  las  cosas  que  e  della  facen, 
lena  de  venados  et  de  caza,  cubierta  de  ganados,  lozana  de  caballos, 
provechosa  de  mulos,  segura  et  bastida  de  castiellos,  alegre  por 
buenos  vinos;  rica  de  metales,  de  piedras  preciosas...  e  dotros  mi¬ 
neros  muchos. . .» 

El  siglo  XIV  es  de  perfeccionamiento  sobre  todo  en  la  prosa. 
El  arcipreste  de  Hita  deja  una  joya  inmortal  con  el  Libro  del  Buen 
Amor,  en  el  que  dibuja  con  mano  maestra  la  sociedad  española  de 
su  siglo,  procurando  demostrar  entre  risas,  bromas  y  alegorías  la 
vanidad  del  amor  mundano. 

El  Rimado  de  Palacio,  obra  compleja  religioso-político-moral 
del  Canciller  es  satírica  pero  más  severa  y  dura  que  la  del  arci¬ 
preste.  Encuanto  a  D.  Juan  Manuel,  de  expresión  concisa  y  ajus¬ 
tada,  es  como  el  precursor  del  conceptismo,  pues  prescribe  se  es¬ 
criba  con  «las  menos  palabras  que  pudiéredes,  con  verdad  y  dere¬ 
chamente». 

Libro  del  Buen  Amor  (Juan  Ruiz) 

«!  Ay  Dios,  e  cuán  fermosa  viene  doña  Endrina  por  la  plaza! 
!  Qué  talle,  qué  donaire,  qué  alto  cuello  de  garza! 

!  Qué  cabellos,  qué  boquilla,  qué  color,  qué  buen  andanza! 
Com  saetas  de  amor  fiere  cuando  los  sus  ojos  alza». 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


41 


Pasado  este  siglo  de  literatura  burguesa  se  presenta  el  siglo 
XV  con  suas  poemas  épicos  y  sus  cancioneros;  sus  tres  grandes  poe¬ 
tas  de  transición  entre  lo  medieval  y  lo  renacentista,  revalorizan 
nuestro  léxico,  dando  al  idioma  un'  notable  empuje  evolutivo  me¬ 
diante  notable  suma  de  neologismos  y  equiparación  sintáctica  con 
el  latín.  El  Marqués  de  Santillana,  Juan  de  Mena  y  Jorge  Manrique 
anuncian  la  alborada  del  Renacimiento.  Siglo  glorioso  de  los  Reyes 
Católicos,  artífices  de  la  unidad  nacional  y  de  rechazó  de  la  unidad 
lingüística.  En  esta  época  una  ideal  feliz  vino  a  materializarse  en 
la  mente  de  Antonio  Nebrija,  la  primera  Gramática  en  lengua  ro¬ 
mance,  que  según  él  había  de  ser  «compañera  del  Imperio». 

Uno  de  los  primeros  efectos  del  Renascimiento  español  fué  la 
creación  del  primer  mito  de  la  literatura  universal,  La  Celestina 
(Burgos,  1499),  puntal  literario  e  ideológico  en  el  que  se  ventilan 
dos  conceptos  espiritual  y  material  —  amor  y  dinero  —  en  el  que 
alternan  dos  estilos,  erudito  y  popular. 

Fragmento  del  aucto  primero  de  La  Celestina  (Fernando  de  Rojas) 

Calixto  —  En  esto  veo',  Melibea,  la  grandeza  de  Dios. 

Melibez  —  ?En  qué,  Calixto? 

Calixto  —  En  dar  poder  a  natura  que  de  tan  perfecta  hermosura 
te  é  facer  a  mi  inmérito  tanta  merced  que  verte  alcançasse  e  en  tan 
conueniente  lugar,  que  mi  secreto  dolor  manifestarte  pudiese.  Sin 
dubda  encomparablemente  es  mayor  tal  galardón,  que  el  seruicio, 
sacrificio,  deusción,  e  obras  pías,  que  por  este  lugar  alcançar  tengo 
yo  a  Dios  offrescido,  ni  otro  poder  mi  voluntad  humana  puede  con- 
plir ...» 

Al  advenimiento  del  siglo  XVI  ya  cuenta  el  español  con  un 
estilo  de  corte  clásico;  se  define  como  época  aurea  de  perfección 
idiomática  y  de  expansión  lingüística.  Juan  de  Valdés,  en  su  Diᬠ
logo  de  la  Lengua  dice  que  «assi  entre  damas  como  entre  caballe¬ 
ros  se  tiene  por  gentileza  y  galanía  saber  hablar  el  castellano». 

Esta  edad  de  oro  de  nuestras  letras,  que  empieza  con  Garcilaso 
y  pone  broche  áureo  con  los  Autos  Sacramentales  de  Calderón  asiste 
a  un  desfile  esplendoroso  de  luceros  tales  como  Fray  Luis  de  León, 
«clave  del  Renacimiento  español,  Femando  Herrera  el  divino/,  los 
santos  místicos  Teresa  de  Jesús  y  Juan  de  la  Cruz,  el  gran  Cervan¬ 
tes  o  la  plenitud  de  la  novela,  Lope  de  Vega  o  la  creación  del  tea¬ 
tro  culto-popular,  Góngora  o  el  artificio  metafórico,  Quevedo  o  el 
ingenio  satírico,  Gracián  o  la  discreción  profunda  y  Calderón  o  el 
simbolismo  teológico. 

Vértice  de  la  pirámide  de  nuestro'  clasicismo  es  el  gran  mo¬ 
mento  de  nuestra  catolicidad  idiomática.  Europa  aprende  el  cas¬ 
tellano  «por  la  necesidad  que  tienen,  ansí  para  las  cosas  públicas 
como  para  la  contratación»  (Arias  Montano);  y  de  tal  manera  toma 


42 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


auge,  que  Carlos  V  sustituye  el  latín  por  el  español  en  las  relacio¬ 
nes  diplomáticas. 

Verdad  es  que  la  rica  exuberancia  de  nuestro  clasicismo'  origina 
un  lenguaje  alambicado  y  artificioso  en  el  siglo  XVII,  que  culmi¬ 
nará  con  Góngora;  pero  debe  reconocerse  que  ello  condujo  a  mayor 
riqueza  de  vocablos,  a  formas  nuevas  y  a  rumbos  sintácticos  insos¬ 
pechados.  El  siglo  XVII  (1605)  puede  sentirse  orgulloso  de  haber 
sido  testigo  de  la  primera  edición  de  El  Ingenioso  Hidalgo  Don 
Quijote  de  la  Mancha,  sátira  ingeniosísima  contra  el  espíritu  des¬ 
cabellado'  de  aventuras,  que  dió  al  traste  con  la  novela  medieval  y 
con  los  libros  de  caballerías.  Cervantes  no  condena  en  sua  obra  todo 
lo  caballeresco'  sino  lo  ridículo  y  extravagante,  sabiendo  enaltecer 
lo  que  de  nobre,  hermoso  e  idealista  encierra  la  sana  caballería. 

Este  segundo  mito  de  la  literatura  universal  simboliza  toda  la 
nobleza  idealista  del  alma  humana  y  en  especial  la  española  y  es  el 
más  desconcertante,  espiritual  y  humano  de  todos  tipos  míticos  li¬ 
terarios.  Menéndez  Pelayo  no  titubeó  en  llamar  al  autor  el  «primer 
novelista  del  mundo,  gran  poeta  en  prosa  y  admirable  creador  de 
representaciones  ideales».  Otro'  triunfo  que  se  apunta  el  siglo  XVII 
es  el  tercer  mito  de  la  literatura  universal;  «Don  Juan»,  cuyo  crea¬ 
dor  es  Tirso  de  Molina  en  su  obra  El  Burlador  de  Sevilla  y  el  Con¬ 
vidado  de  Piedra.  Figura  netamente  renacentista,  Don  Juan  es  el 
símbolo  del  hombre  orgulloso,  impío  y  libertino  que  procura  gozar 
por  todos  los  medios  sin  la  menor  preocupación  del  «más  allá». 

Este  tema,  como  La  Celestina  y  Don  Quijote,  ha  tenido  inmensa 
repercusión,  no'  sólo  en  España  sino  por  varios  países  de  Europa, 
contando  numerosas  derivaciones  que  de  muy  variados  modos  tra¬ 
tan  el  tema  fundamental. 

De  los  cinco  mitos  de  la  Literatura  universal,  tres  pertenecen!  a 
la  literatura  española;  los  otros  dos  son  Hamlet  de  Shakespeare  y 
El  Fausto  de  Goethe. 


Aventura  de  los  rebaños  (Quijote) 

«En  estos  coloquios  iban  Don  Quijote  y  su  escudero,  cuando 
vió  Don  Quijote  que  por  el  camino  que  iban  venía  hacia  ellos  una- 
grande  y  espesa  polvareda,  y  en  viéndola  se  volvió  a  Sancho  y  le 
dijo: 

—  Este  es  el  día,  oh  Sancho,  en  el  cual  se  ha  de  ver  el  bien  que 
me  tiene  guardado  mi  suerte:  este  es  el  día  digo,  en  que  se  ha  de 
mostrar  tanto  como  en  otro  alguno  el  valor  de  mi  brazo,  y  en  el 
que  tengo  de  haver  obras  que  queden  escritas  en  el  libro  de  la  fama 
por  todos  los  venideros  siglos ...» 

Despuées  del  «Siglo  de  Oro»,  época  de  la  épica  culta  con  sus 
variadas  epopeyas,  desde  La  Araucana  de  Alonso  Ercilla  hasta  La 
Crist íada  de  Diego  de  Hojeda,  ai  como  de  la  picaresca,  o  crítica  sa¬ 
tírica  de  la  sociedad  y  de  sus  vicios  y  ridiculeces,  se  nos  presenta  el 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


43 


siglo  XVIII  —  llegada  de  los  Borbones  —  que  aunque  represente  un 
«momento  de  ordenación  y  de  estudio»,  se  le  deben  apuntar  dos 
graves  deslices,  el  «afrancesamiento»  de  unos  (Suzán,  Moratín,  etc 
y  el  tinte  «enciclopédico»  de  otros  (Quintana,  Marchena,  etc.) . 

Pero  también  se  esboza  un  buen  deseo  de  purificar  el  idioma 
de  las  extravagancias  y  alambicamientos  del  barroco.  Asi  pues,  el 
P.  Feijóo,  «incorruptible  a  la  tentación  extrangera»  (Marañón),  es 
acreedor  a  nuestra  gratitud,  asi  como  Forner  y  Cadalso. 

Uno  de  los  aciertos  de  este  siglo  fue  la  fundación  de  la  «Real 
Academia  de  la  Lengua»,  por  Felipe  V. 

Sobre  la  opinión  popular  (P.  Feijóo':  Teatro  crítico) 

«Aquella  mal  entendida  máxima  de  que  Dios  se  explica  en  la 
voz  del  pueblo,  autorizó  a  la*  plebe  para  tiranizar  el  buen  juicio  y 
erigió  en  ella  potestad  tribunicia,  capaz  de  oprimir  la  nobleza  lite¬ 
raria.  Es  este  un  error  de  donde  nacen  infinitos;  porque  asentada 
la  conclusión  de  que  la  multitud  sea  regla  de  la  verdad,  todos  los 
desaciertos  del  vulgo  se  veneran  como  inspiración  del  Cielo...  Aes- 
tines  judicia,  non  numeres,  decía  Séneca.  El  valor  de  las  opiniones 
se  ha  de  computar  por  el  peso,  no  por  el  número  de  las  almas». 

Aqunque  Meléndez  Valdés  y  Cadalso  así  como  las  Escuelas  sal¬ 
mantina  y  sevillana  pertenecen  al  siglo  XVIII  preludian  ya  nuevo 
rumbo  pues  desean  y  auguran  verse  libres  de  las  trabas  neoclásicas. 
Nuevas  auras  de  libertad  y  de  emoción  subjetiva  conducen  al  Ro¬ 
manticismo  del  siglo  XIX,  que  nos  depara  un  estilo  de  adjetivación 
sonora  y  expresión  impetuosa,  una  oratoria  patética  e  impresionante, 
una  lírica  sentimental  con  aciertos  artísticos  como  en  Bécquer,  el 
Duque  de  Rivas  y  Zorrilla  y  no  pocas  aberraciones  y  extravíos  la¬ 
mentables  como  en  Espronceda  y  Larra. 

El  Romanticismo  tuvo  pronta  réplica  a  mediados  del  siglo  que 
se  tradujo  en  una  reacción  hacia  el  realismo  con  Pardo  Bazán  y  Pa¬ 
lacio  Valdés,  que  deriva  hacia  el  naturalismo  con  sus  éxitos  con 
Alarcón,  Valera  y  Pereda,  y  sus  excesos  con  Blasco  Ibañez,  Pérez 
Galdós  y  otros  más. 

Cierra  este  siglo  airosa  y  gloriosamente  para  la  cultura  hispᬠ
nica  el  insigne  polígrafo  Marcelino  Menéndez  Pelayo,  creador  de  una 
obra  gigante,  histórica,  filosófica  y  literária,  fundador  de  la  crítica 
e  investigación  modernas;  en  suma  genio  inapreciable  al  servicio  de 
la  patria  y  de  la  religión,  con  un  estilo  que  es  el  modelo  más  per¬ 
fecto  de  la  prosa  didáctica  en  el  siglo  XIX... 

Historia  de  los  Heterodoxos  españoles  (Menéndez  Pelayo) 

«!  Dichosa  edad  aquélla,  de  prestigios  y  maravillas,  edad  de 
juventud  y  de  robusta  vida!  España  era  o  se  creía  el  pueblo  de 
Dios,  y  cada  español,  cual  otro  Josué,  sentía  en  si  fe  y  aliento  bas- 


44 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


tante  para  derrocar  los  muros  al  son  de  las  trompetas  o  para  atajar 
al  sol  en  su  carrera.  Nada  parecía  ni  resultaba  imposible:  la  fe  de 
aquellos  hombres,  que  parecían  guarnecidos  de  triple  lámina  de 
bronce  era  la  fe  que  mueve  de  su  lugar  las  montañas.  Por  eso  en 
los  arcanos  de  Dios  les  estaba  guardado'  el  hacer  sonar  la  palabra 
de  Cristo  en  las  más  bárbaras  gentilidades.../ 

Finalmente,  pasada  la  «generación  del  98»,  impregnada  de  pa¬ 
triotismo  pesimista,  con  sus  valores  literarios  de  entre  los  que  des¬ 
cuellan  Unamuno  y  Azorín,  hace  su  entrada  el  polifacético  siglo  XX, 
que  adopta  el  modernismo,  o  un  nuevo  «romanticismo  estético»,  con 
más  forma  que  fondo.  Rubén  Darío  con  su  elegancia  y  musicalidad; 
Gerardo  Diego,  místico  y  escultural;  Valle-Inclán,  enérgico  y  satírico; 
Marquina,  sobrio  y  profundo;  Benavente,  elegante  e  irónico;  Ra¬ 
món  Jiménez,  lírico  y  depurado;  Dionisio  Ridruejo,  delicado  y  me¬ 
tafórico;  Dámaso  Alonso  y  Menéndez  Pidal,  eruditos  y  equilibrados. .  . 

A  unas  manos  orantes  (Dionisio  Ridruejo) 

«Como  tibia  azucena  adelantada 
castamente  entre  el  alba  y  el  rocío; 
orante  nieve,  cúpula  de  frió, 
ojiva  pura  y  levedad  trenzada. 

«Como  ramo  del  alma  revelada 
pulcramente  a  la  luz  sin  atavío; 
como  la  fe  del  suspirante  brío 
en  un  vuelo  de  carne  sosegada. 

«Como  un  sueño  de  amor  encaminado 
en  alba  de  gemelos  surtidores, 
al  éxtasis  del  cirio  recatado. 

«Como  ave  par,  alzada  sin  temblores 
calmando  en  su  misterio  desposado 
la  desazón  humana  de  las  flores». 

II.  —  IMPORTANCIA,  BELLEZA  Y  UNIVERSALIDAD  DE  LA 

LENGUA  .ESPAÑOLA 

Importancia.  —  Las  causas  principales  de  la  importancia  extraor¬ 
dinaria  que  ha  tomado  el  idioma  castellano  en  el  mundo  se  deben 
principalmente  al  descubrimiento  de  América,  a  los  viajes  que  se 
siguieron  tanto  transatlánticos  como  transpacíficos,  a  las  guerras 
europeas,  y  a  la  importancia  política  y  jurídica  de  la  España  del 
siglo  XVI.  Razón  tuvo  Nebrija  al  afirmar  que  la  «lengua  era  com¬ 
pañera  del  Imperio». 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S.  * 


45 


El  insigne  hispanista  Mr.  Allison  Peers,  catedrático  de  la  univer¬ 
sidad  de  Liverpool  dijo  en  una  conferencia  pronunciada  en  los  salo¬ 
nes  del  Excmo.  Ayuntamiento'  de  Madrid: 

«El  castellano  tiene  sus  orígenes  en  el  siglo  XII,  toma  cuerpo 
en  las  cancillerías,  apareciendo  en  el  Fuero  Turgo  y  en  Las  Siete 
Partidas,  lengua  de  Imperio  y  de  espiritualidad;  la  que  al  decir  de 
Carlos  V  constituye  el  mejor  instrumento  para  hablar  con  Dios». 

Hoy  el  español  ocupa  el  tercer  lugar  en  el  mundo  después  del 
chino  y  el  inglés,  con  un  total  de  almas  que  lo'  usan  en  sus  relacio¬ 
nes  sociales  de  145  millones,  repartidos  como  sigue,  según  el  «Bo¬ 
letín  de  la  Sociedad  de  Naciones»  de  1940: 

Europa  (España  y  judíos  sefarditas  de  Grecia,  Yugoslavia,  Bul¬ 
garia,  Rumania  y  Turquía):  27.700.000. 

Asia  (Turquía,  Siria,  Palestina):  150.000. 

Africa  (Marruecos  y  colonia  españolas):  450.000. 

América  (México,  Américas  Central  y  Meridional,  Estados  Uni¬ 
dos  y  Brasil:  108.540.000. 

Oceania  (  Filipinas  )  :  5 . 871 . 000 . 

En  América  principalmente  hay  una  preocupación  latente  muy 
viva  por  el  conocimiento  científico  del  idioma  español.  Asi  el  «Ins¬ 
tituto'  de  las  Españas»  de  la  Columbia  University  de  Nueva  York  y 
la  «American  Spanish  Society»,  fundada  por  Mr.  Huntington  en 
Nueva  York,  así  como  el  «Instituto  de  Filología»  de  Buenos  Aires  son 
como  los  focos  más  importantes  de  la  preocupación  de  cultura  his¬ 
pánica. 

Pueden  citarse  algunas  de  las  publicaciones  de  más  relieve  como 
«Revista  de  Filología  hispánica»  de  Buenos  Aires,  «Revista  Moderna 
Hispánica»,  de  Nueva  York,  «Boletín  del  Instituto  Caro  y  Cuervo» 
de  Bogotá,  «Boletín  de  Filología  de  Montevidéo,  amén  de  otras  Re¬ 
vistas  de  Literatura  y  Lingüística  que  se  imprimen  en  Méjico,  Chi¬ 
le,  etc. 

De  España  sigue  transmitiéndose  por  irradiación  espiritual  y 
científica  el  sentir  por  el  vehículo  de  nuestra  cultura  que  es  el  idio¬ 
ma,  pues  «La  lengua,  según  dice  von  Wartburg,  abarca  todo  lo  esen¬ 
cial,  es  un  gran  todo...»  Además  de  la  labor  de  la  «Revista  de  Fi¬ 
lología  Española»,  de  nuestras  revistas  y  publicaciones  diversas,  la 
actualidad  cuenta  con  hombres  entusiastas,  paladines  de  la  cultura 
hispánica:  Menéndez  Pidal,  fundador  de  la  escuela  del  positivismo 
científico';  Américo  Castro,  pedagogo  de  la  lengua  y  de  la  literatura; 
Navarro  Tomás,  organizador  del  «Atlas  Lingüístico  de  la  Península 
Ibérica»,  y  otros  beneméritos  como  Vicente  García  de  Diego,  dia¬ 
léctico;  Rafael  Lapesa,  historiador  lingüístico;  Damaso  Alonso,  es¬ 
tudioso'  de  clásicos  y  modernos,  etc. .  .  . 

Como  complemento  a  estas  breves  y  sencillas  consideraciones 
creo  sea  pertinente  recordar  que  han  sido  otorgados  cuatro  «Pre¬ 
mios  Nobel»  de  Literatura  a  escritores  de  lengua  española:  tres  a 
literatos  españoles  —  José  Echegaray  (1905),  Jacinto  Benavente 


46 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


(1922),  y  Juan  Ramón  Jiménez  (1957)  —  y  uno  a  la  escritora  chilena 
Gabriela  Mistral  (Luzila  Godoy,  1955)... 

Nuestro  mayor  timbre  de  gloria  no  es  el  haber  descubierto  un 
Nuevo  Mundo,  ni  el  haber  conquistado  tanto  o  cuanto  territorio  ame¬ 
ricano'.  El  mayor  título  nobiliario  de  España  consiste  en  haber  co¬ 
municado  a  las  naciones  de  esse  Nuevo  Mundo,  su  sangre,  su  reli¬ 
gión  y  su  lengua;  porque  si  la  sangre  nos  hace  hermanos  carnales 
de  esos  pueblos,  la  religión  nos  transforma  en  hermanos  espirituales 
en  Cristo  con  un  lazo  más  sagrado,  y  la  lengua  nos  hermana  cul¬ 
turalmente,  comunicándoles  la  impcnta  de  nuestra  educación  espi¬ 
ritual  y  de  nuestra  idiosincrasia  intelectual. 

Belleza.  —  Dos  lazos  poderosos,  y  los  más  hermosos,  unen  es¬ 
trechamente  a  un  pueblo:  la  Religión  y  el  Idioma.  Estos  dos  pre¬ 
ciosos  vínculos  valornaran  el  espíritu  y  crean  la  tradición  de  una 
nación.  Para  España  estos  dos  lazos  son  la  razón  de  su  existencia 
y  los  elementos  más  característicos  de  su  recia  personalidad:  la  re¬ 
ligión  católica  y  el  enérgico  idioma  de  Castilla. 

Uno  de  nuestros  clásicos  del  siglo  XVI,  el  místico  agustino  Fray 
Pedro  Malón  de  Chaide,  dice  en  el  prólogo  de  La  Conversión  de  la 
Magdalena  en  honor  del  castellano:  «...No'  hay  lenguaje,  ni  le  ha 
habido,  que  al  nuestro  haya  hecho  ventaja  en  abundancia  de  térmi¬ 
nos,  en  dulzura  de  estilo,  y  en  ser  blando,  suave,  regalado  y  tierno 
y  muy  acomodado  para  decir  lo  que  queremos;  ni  en  frases  ni  en  ro¬ 
deos  galanos,  ni  que  esté  más  sembrado'  de  luces  y  ornatos  floridos 
y  colores  retóricos...» 

La  belleza  del  lenguaje  de  Castilla  es  múltiple,  pues  sabe  ex¬ 
presar  tanto  el  enérgico  lenguaje  de  sus  héroes  como  el  susurro 
espiritual  de  sus  místicos.  Es  similar  a  la  lengua  griega  en  sono¬ 
ridad  y  belleza,  pues  es  armoniosa  en  la  lírica,  enérgica  en  la  épica, 
varonil  en  la  dramática,  diáfana  en  la  didáctica  y  flexible  y  gallarda 
en  la  oratoria. 

Otro  testimonio  de  singular  fuerza  laudatoria  en  favor  del  idio¬ 
ma  hispano  nos  lo  facilita  el  escritor  y  monje  cirsterciense  norte¬ 
americano  Thomas  Merten,  que  se  expresa  así:  «Después  del  latín, 
me  parece  que  no  hay  lengua  tan  apropriada  para  la  oración  y 
para  hablar  con  Dios  como  el  español,  pues  es  una  lengua  a  la  vez 
fuerte  y  agil;  tiene  su  precisión;  tiene  en  si  la  cualidad  del  acero, 
que  le  da  la  exactitud  que  necesita  el  verdadero'  misticismo,  y,  sin 
embargo,  es  suave  también,  gentil  y  flexible,  cosa  que  requiere  la 
devoción;  es  cortés,  suplicante  y  galante;  tiene  algo  de  la  intelec¬ 
tualidad  del  francés,  pero  no  la  frialdad  que  la  intectualidad  toma 
en  el  francés;  nunca  desborda  en  las  melodías  femeninas  del  ita¬ 
liano.  El  español  es  un  idioma  nunca  flojo,  aun  en  los  labios  de  una 
mujer». 

No  menos  encomiástico  que  los  anteriores  resulta  el  juicio  del 
escritor  francés  Maurice  Legendre,  que  no  escatima  ditirambos  so¬ 
bre  la  belleza,  dignidad  y  universalidad  de  nuestro  idioma:  «Cette 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


47 


belle  langue  qu’est  l’espagnol  n’a  pas  acheté  ¡’universalité  au  prix 
de  la  vulgarité.  Elle  a  au  contraire  beaucoup  de  tenue,  de  noblesse 
et  de  gravité. . .  Elle  est  oratoire;  elle  a  des  sonorités  qui  conviennent 
aux  assemblées;  elle  n’a  pas  le  laisser-aller  de  l’intimité  ou  de  la 
familiarité  de  mauvais  aloi... 

Rappelons  enfin  la  preuve  la  plus  glorieuse  du  caractère  à  la 
fois  si  universel,  si  populaire  et  si  noble  de  la  langue  espagnole:  la 
diffusion  incomparable  du  chef-d’oeuvre  de  Cervantès . .  .  » 

Muchos  y  muy  variados  son  los  elogios  que  se  han  dicho  y  es¬ 
crito  sobre  nuestra  hermosa  lengua,  y  sería  (que  se  han  dicho  y 
escrito'  sobre)  exhaustivo  el  seguir  transcribiendo  la  serie  intermi¬ 
nable  de  opiniones  y  críticas  laudatorias  a  este  respecto.  Sólo  me 
permitiré  tres  piropos  más  sobre  el  asunto: 

—  «El  español  es  el  idioma  de  los  dioses»  (Cardenal  Gibbons) . 

—  «Es  una  lengua  divina»  (Victor  Hugo) . 

—  «Es  la  lengua  que  por  los  labios  de  Teresa  de  Jesús  mereció 
conversar  con  Dios,  y  en  la  cual  escribió  Cervantes  la  Biblia  huma¬ 
na  de  la  Edad  moderna»  (Blanca  de  los  Ríos) .  Cierro  este  parᬠ
grafo  con  la  hermosa  oda  de  corte  clásico  en  honor  del  idioma  cas¬ 
tellano,  homenaje  sentido  con  honda  admiración  y  simpatía,  del  poe¬ 
ta  portorriqueño  José  Mercado: 

Lengua  inmortal  que  hablaron  mis  mayores, 

Tan  bella  como  tú  no  hay  lengua  humana, 

Por  tus  frases  enérgicas  obtuve 
El  hermoso  concetpo  de  la  patria, 

Y  sé  por  ti  que  Ç>ios,  bondad  suprema, 

Sobre  los  hombres  su  piedad  derrama; 

Y  al  abrir  de  la  Historia  el  libro  inmenso, 

Supe  que  fueron  tuyas  las  palabras 

Que  pronunció  Colón  mirando  al  cielo, 

Al  descubrir  la  tierra  americana. 

Lengua  inmortal,  idioma  de  Cervantes, 

El  colono  de  ayer  tu  gloria  canta. 

Eres  raudo  torrente.  Te  despeñas 

Y  caes  en  deslumbrante  catarata, 

Llenando  de  sonidos  el  espacio 

y  de  notas  de  fuego'  que  se  apagan 
Con  ese  ritmo  vago  y  misterioso 
De  un  suspiro  de  amor.  Sonora  y  clara 
Expresas  la  pasión;  y  el  pensamiento 
Por  ti  se  viste  con  brillantes  galas. 


43 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


Esse  lazo  que  ayer  rompió  la  fuerza, 

Átalo  tú,  mi  lengua  castellana. 

Mensajera  perenne  de  concordia, 

Cruza  el  inmenso  mar  que  nos  separa 
Y  lleva  de  la  América  latina 
A  la  nación  que  puebla  nuestra  raza, 

Con  el  pobre  cantar  del  bardo  triste, 

El  beso  fraternal  de  nuestras  almas: 

!  Que  se  puede  cambiar  una  bandera; 

Pero  los  sentimientos  no  se  cambian! 

Universalidad.  —  Al  no  caber  nuestra  lengua  en  los  estrechos 
límites  de  la  Península,  nuestros  conquistadores,  misioneros,  y  hu¬ 
manistas  la  extendieron  por  Italia,  Francia,  Suiza,  Alemania,  In¬ 
glaterra  así  como  por  las  Américas  y  Filipinas. 

Dos  polos  magnéticos  sorprendentes  venían  al  apoyo  de  la  envidia¬ 
ble  y  poderosa  fuerza  de  atracción  del  castellano:  Compostela  y 
Salamanca.  Aquélla  como  meta  para  los  devotos  del  Apóstol,  ésta 
para  los  doctos;  unos,  peregrinos  de  la  fe;  otros,  caballeros  de  la 
ciencia. 

Pasados  ya  aquellos  tiempos,  siguen  siendo  legión  los  que  se 
sienten  ligados  por  el  vínculo  de  nuestra  lengua  a  la  espiritualidad 
española,  tan  profunda  y  expansiva,  tan  noble  y  generosa,  que  ha 
conseguido  transvasar  su  fe  y  su  habla  a  veinte  naciones,  que  son 
su  mayor  gloria  y  su  más  brillante  corona. 

Lejos  de  debilitarse  y  declinar  el  español  sigue  su  rumbo  de 
esplendor  y  continúa  proyectando  su  influencia  cada  vez  más  ex¬ 
tensa.  Em  1917,  por  ocasión  del  tercer  centenario  de  la  muerte  de 
Cervantes,  se  abrieron  en  Londres  20  cátedras  de  español. 

En  cuanto  a  publicaciones  podemos  afirmar  que  en  las  princi¬ 
pales  ciudades  de  Europa  y  América  se  editan  en  castellano  las  obras 
de  nuestros  literatos,  teólogos,  médicos  artistas,  políticos  y  hacen¬ 
distas. 

En  Méjico  se  imprimen  con  frecuencia  ediciones  del  Quijote 
de  100  mil  exemplares,  y  en  Nueva  York  se  editan  más  de  30  publi¬ 
caciones  en  español.  En  la  actualidad  casi  todas  las  Universidades 
de  Europa  y  América  poseen  cátedras  de  castellano,  y  sólo  en  Es¬ 
tados  Unidos  se  cuenta  con  un  cuadro  de  más  de  4.000  prof  essores 
de  español  con  cerca  de  medio  millón  de  alumnos  matriculados.  El 
auge  a  que  el  estudio  del  español  ha  llegado  en  Estados  Unidos 
queda  oficialmente  consignado  con  el  testimonio  de  Mr.  Carlton 
Hayes,  ex-embajador  norteamericano  en  Madrid.  En  el  discurso  de 
presentación  de  cartas  credenciales  decía  en  un  párrafo  a  nuestro 
Caudillo: 

«Señor,  soy  historiador  de  profesión  y  estoy  familiarizado  con 
la  hermosa  Histeria  de  España.  Como  tal,  sé  que  la  gran  deuda  cul¬ 
tural  que  mi  país,  junto  con  las  demás  naciones  del  Nuevo  Mundo, 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


49 


tienen  con  vuestra  Patria.  Fue  España  la  que  durante  generaciones 
sucesivas  implantó  por  toda  América  algunas  instituciones  funda¬ 
mentales,  un  sentido  espiritual  de  la  vida,  y  el  sentido  de  la  digni¬ 
dad  personal,  que  constituye  una  ilustre  herencia  de  España.  Es 
agradable  poder  decir  que  en  la  actualidad  todas  las  Universidades 
y  Escuelas  de  los  Estados  Unidos  tienen  profesorado  y  textos  espa¬ 
ñoles,  asi  como  cátedras  de  literatura,  y  que  el  español  es,  desde 
hace  años,  el  idioma  que  más  se  ha  enseñado  en  nuestras  escuelas 
secundarias». 

Mucho  interés  ha  existido  siempre  en  Inglaterra,  Francia  y 
Alemania  por  la  lengua,  la  literatura  y  la  cultura  hispánicas.  Mr. 
Merford,  autor  del  libro  Aportación  Británica  a  los  Estudios  His¬ 
pánicos,  dice  en  un  pasaje  de  la  obra:  «Algunos,  después  de  una 
visita  a  la  Península  en  viaje  de  negocios,  fueron  impelidos  a  un 
estudio  más  amplio;  otros  de  un  carácter  más  literario,  como  el 
personaje  byroniano: 

«...  estudiaren  español 

para  leer  «Don  Quijote  en  el  original, 

placer  que  a  todos  los  demás  oscurece». 

«Pero  sea  culquiera  la  chispa  que  encendiese  la  llama,  la  afi¬ 
ción  por  la  lengua  española;  tenida  por  Shelley  y  Coleridge  como 
inferiorselo  al  griego,  ha  sido  perenne  en  Inglaterra. 

«Los  ingleses,  desde  el  alborear  del  renacimiento,  no  sólo  apren¬ 
dían  la  lengua  española,  sino  que  empleaban  su  conocimiento  para 
estudiar  aquellos  aspectos  de  la  cultura  hispánica  que  les  atraían . . . 

«Hoy,  la  cantidad  y  la  calidad  de  las  obras  extanjeras  dedicadas 
a  la  investigación  hispanista  es  impresionante,  no  siendo,  ni  mucho 
menos,  despreciable  la  aportación  inglesa...» 

En  estos  últimos  años  se  viene  intensificando  la  curiosidad  ex¬ 
tranjera  por  las  cosas  de  España,  por  conocer  más  y  mejor  nuestra 
vida,  costumbres,  arte,  tradiciones,  fiestas,  en  suma  nuestra  nación, 
tan  llevada  y  traída  por  amigos  y  desafectos.  El  resultado  del  re¬ 
surgimiento  turístico  en  nuestro  país  se  ha  traducido  en  un  mayor 
deseo  de  conocer  a  España  y  de  captar  sus  variados  matices,  lo  que 
ha  contribuido  no  poco  al  incremento  del  estudio  de  su  lengua,  sea 
en  los  tradicionales  cursillos  de  verano  organizados  en  diversos  ciu¬ 
dades  españolas,  sea  en  cursos  normales  seguidos  en  sus  respectivos 
países. 


III.  —  EL  LIBRO  ESPAÑOL 

España  ha  sentado  cátedra  de  «gran  maestra  de  pueblos»  gra¬ 
cias  a  su  fe  y  a  su  idioma;  y  como  vehículo  práctico  de  cultura,  gra¬ 
cias  al  libro  español.  Por  él  propagaron  la  fe  de  Cristo  los  misione¬ 
ros;  por  él  España  ha  iluminado  con  su  saber  teológico,  místico  y 
jurídico;  ha  señalado  rumbos  desde  Trento  al  pensamiento  huma¬ 
no,  mientras  Laínez,  Vitoria,  Suárez,  Soto  y  Azpilcueta  creaban  con 


50 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


la  Legislación  de  las  Indias  los  concetpos  más  altos  y  más  cristianos 
de  la  civilización. 

La  Edad  Media  fué  la  época  de  un  adelanto  cultural  inmenso 
en  España  y  sobre  todo  en  Europa..  Las  Universidades  y  Bibliote¬ 
cas  abundan  en  Andalucía,  Córdoba  atrae  estudiantes  de  todo  el 
mundo  árabe.  Salamanca  cuenta  en  1530  con  10  mil  estudiantes,  70 
cátedras,  y  da  trabajo  a  84  librerías  y  a  56  imprentas. 

En  el  siglo  XIII,  siglo  de  las  Sumirías,  vio  España  el  aparecimien¬ 
to  del  más  alto  monumento  jurídico  en  varios  siglos:  Las  Siete  Par¬ 
tidas  de  Alfonso  X,  el.  Sabio.  En  este  período  los  libros  revelan  técnica 
de  la  escritura  y  un  gusto  tan  refinado  en  la  policromía  del  decorado», 
que  no  cabe  superarlos. 

Aunque  de  gusto  marcadamente  burgués  el  siglo  XIV,  ve  sur¬ 
gir  hacia  su  ocaso  sobre  todo  libros  de  meditación  y  de  piedad.  Sus 
páginas  son  ricas  de  trabajo  y  habilidad,  saturadas  de  arfe,  con  mi¬ 
niaturas  de  una  precisión  detallista  que  la  fotografía  no  ha  podido» 
superar,  por  su  elevadísima  contextura  técnica. 

Pero  un  gran  acontecimiento  fué  para  España  el  estabelecimien- 
to  de  la  imprenta  en  1464,  imprimiéndose  diez  años  más  tarde  el  pri¬ 
mer  libro  en  Valencia  en  honor  de  la  Santísima  Virgen,  Trobes  en- 
lohors  de  la  Verge  María.  Dos  años  después  se  estableció  la  pri¬ 
mera  fundición  tipográfica  (1944),  fecha  de  la  primera  edición  de 
La  Celestina,  que  apareció  en  Burgos,  y  que  tuvo  tanta  repercusión 
en  Europa. 

En  el  siglo  áureo  (XVI)  de  nuestra  literatura  aumenta  prodi¬ 
giosamente  el  número  de  talleres  tipográficos.  En  los  albores  de 
este  siglo  se  imprimieron  en  Logroño  los  Triunfos  de  Petrarca  (1512), 
y  en  1517  vieron  España  y  el  mundo  la  Biblia  Políglota  o  Complu¬ 
tense  (Complutum:  Alcalá  de  Henares),  gracias  a  la  iniciativa,  gene¬ 
rosidad  y  entusiasmo  del  gran  Cardenal  Fray  Francisco  Jiménez 
de  Cisneros.  Por  su  parte  el  arcediano  de  Burgos,  Pedro  Fernández 
de  Villegas,  traducía  al  castellano  La  Divina  Comedia  del  Dante,  y 
en  1587  se  daba  a  la  impresión  en  Madrid  La  Jerusalem  libertada  de 
Torcuato-  Taso. 

La  característica  del  libro  de  los  siglos  XVI  y  XVTI  es  el  obse¬ 
sionante  relato  de  aventuras  y  descripciones  del  tipo  del  caballera 
andante,  tales  como  Amadís  de  Gaula,  Palmerín  de  Inglaterra,  Ti¬ 
rante  en  Blanco,  y  otros  más  reales  e  históricos  como  La  Araucana, 
La  Aiistríad  i  y  Carlos  Famoso. 

El  año  1605  es  una  fecha  gloriosa  para  la  literatura  y  el  libro  es¬ 
pañol,  porque  aparece  impresa  en  Madrid  El  Ingenioso  Hidalgo  Don 
Quijote  de  la  Mancha,  una  de  las  obras  más  admirables  del  espíritu: 
humano;  joya  que  ha  sabido  conquistar  el  mundo  entero,  y  es  quizá 
con  la  Biblia,  la  obra  que  más  ediciones  ha  conseguido  (1200),  y  que 
se  ha  traducido  en  mayor  número'  de  idomas  (46). 

El  siglo  XVIII  es  más  reflexivo  que  creador.  Se  advierte  por 
un  lado  una  vuelta  a  los  clásicos  como  reacción  contra  el  barroco. 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


51 


pero  otro  lado  no  se  puede  negar  el  carácter  decadente  de  buena 
parte  de  nuestra  literatura  debido'  al  influjo  de  los  escritores  fran¬ 
ceses;  contra  nuestros  escritores  afrancesados  redactó  Forner  Exe¬ 
quias  de  la  Lengua  Castellana. 

No  olvidemos  sin  embargo  que  este  siglo  vió  fundarse  la  «Real 
Academia  de  la  Lengua»,  que  publicó  el  Diccionario  de  Autoridades 
en  seis  tomos  —  y  la  «Biblioteca  Nacional»  hoy  con  un  millón  de 
volúmenes  —  que  constituyen  dos  hechos  gloriosos  en  favor  del 
libro  español. 

Nuevos  altibajos  se  suceden  en  la  trayectoria  de  nuestro  libro 
en  el  transcurso  del  siglo'  XIX.  En  el  primer  cuarto  de  siglo  sigue 
prosperando  gracias  a  la  protección  regia,  pero  luego  sufre  lastimosa 
decadencia.  Es  el  siglo  nefasto  del  liberalismo,  causa  de  tantas  des¬ 
gracias  políticas  y  morales,  cuya  perniciosa  influencia  se  manifiesta 
en  la  imitación  de  la  producción  extranjera  tan  escasa  de  contenido 
espiritual  y  de  elegancia.  Sin  embargo  al  final  de  siglo  se  advierte 
un  nuevo  renacimiento  del  libro  que  inicia  el  ritmo  acelerado  de 
perfección  con  que  culmina  en  el  siglo  XX. 

En  el  «siglo  de  las  luces»  España  produce  y  traduce  en  todos 
los  ramos  del  saber,  y  artes  gráficas  se  elevan  al  más  alto  grado  de 
perfección.  En  la  actualidad  España  no  tiene  nada  que  envidiar  en 
la  confección  del  libro  a  nación  alguna.  Podrían  citarse  multitud  de 
obras  como  Nueva  Geografía  Universal  (10)  tomos),  Historia  Univer¬ 
sal  de  Walter  Goetz,  versión  española  de  García  Morente  (10)  tomos), 
Historia  de  España  de  Menéndez  Pidal  (7  tomos  publicados),  Histo¬ 
ria  del  Arte  Hispánico  del  Marqués  de  Lozoya  (5  tomos),  Química 
General  de  Calvet  (5  tomos)  Enciclopedia  «Universitas»  (20  tomos), 
Summa  artis  de  José  Pijoan  (más  de  una  docena  de  tomos  publi¬ 
cados),  y  muchos  otros  monumentos  bibliográficos  difícilmente  su¬ 
perables  tanto  por  la  presentación  técnica  como  por  el  contenido, 
dos  caracteree  generales  del  libro  español  moderno. 

Una  referencia  especial  se  merece  la  Enciclopedia  Universal 
Ilustrada  (Espasa).  Afirmamos  que  no  existe  ninguna  que  la  supere, 
conservando  inmensa  superioridad  sobre  todas  las  demás  por  la  can¬ 
tidad  y  calidad  del  texto,  con  sus  70  gruesos  volúmenes,  10  apéndi¬ 
ces  y  8  suplementos  y  cerca  de  140.000  páginas  de  texto. 

Y  dónde  se  vió  palpablemente  el  tesoro  bibliográfico  de  que  se 
depositaría  la  cultura  hispánica  fué  por  ocasión  de  algunas  expo¬ 
siciones.  En  las  de  Sevilla  y  Barcelona  en  1929,  se  sacaron  a  luz  de 
los  archivos  tesoros  artísticos,  celosamente  guardados  en  catedrales, 
monasterios  y  bibliotecas.  Pudieron  admirarse  bellísimos  códices  de 
gruesos  infolios  de  pergamino,  ilustrados  con  miniaturas  finísimas, 
ccn  márgenes  y  portadas  filigranadas;  hermosos  ejemplares  del 
Antiguo  Testamento,  Evangelios,  misales  y  libros  de  coro;  obras  de 
los  Santos  Padres,  moralistas  y  exégetas;  libros  cronológicos  y  re¬ 
copilaciones  legislativas,  que  son  otras  tantas  indicaciones  e  ilustra¬ 
ciones  preciosas  sobre  la  vida  del  libro  en  la  Edad  Media.  En  este 


52 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


acopio  de  riqueza  artística  se  recoge  un  resumen  cultural  de  la  mayor 
parte  del  saber  desde  el  siglo  VIII  al  XIII,  en  el  que  aparecen  datos 
preciosos  para  reconstruir  la  historia  del  libro  medieval. 

Para  servir  de  complemento  a  la  exposición  del  libro  español  an¬ 
tiguo  se  aprovechó  la  fecha  del  23  de  abril  de  1947  (4.°  centenario  del 
nacimiento  de  Cervantes),  para  celebrar  la  exposición  del  «Libro 
español»  moderno  en  la  Universidad  Católica  de  Washington.  En 
ella  se  expuso  a  la  admiración  de  los  visitantes  una  selección  de  3.000 
volúmenes  lujosa  y  elegantemente  encuadernados,  esmerado  trabajo' 
de  la  postguerra  de  España,  que  recorrió  las  principales  ciudades  de 
América  del  Norte. 

Hace  varios  años  que  en  Madrid  se  viene  inaugurando  la  «Fe¬ 
ria  Nacional  del  Libro».  Este  año  (julio  1957),  podían  visitarse  116 
casetas,  a  las  que  acudieron  con  su  producción  bibliográfica  las  más 
importantes  editoriales  españolas.  Parece  ser  que  el  número  de  vi¬ 
sitantes  ha  sido  imponente  en  cifras  y  calidad. 

El  público  en  general  se  ha  interesado  con  preferencia  por  las 
obras  literarias.  —  Ramón  Jiménez,  Galdós,  Unamuno,  García  Lorca, 
Salinas,  Tagore,  Papiní ...  —  aunque  también  se  ha  notado  un  cre¬ 
ciente  interés  por  otras  publicaciones:  ensayos,  historia,  obras  téc¬ 
nicas  y  científicas,  y  libros  de  consulta.  La  impresión  de  este  año* 
se  inclina  creer  que  el  libro  técnico'  despierta  cada  vez  más  interés. .  .. 

España,  poseedora  de  una  de  las  más  ricas  literaturas,  há  dedi¬ 
cado  siempre  gran  amor  y  culto  al  libro.  Puede  sentirse  ufana  de 
su  gran  aportación  a  la  cultura  universal;  porque  en  24  países  se 
lee  en  el  idioma  de  Cervantes  y  se  reza  en  la  lengua  de  la  mística 
doctora,  Santa  Teresa  de  Jesús.  España  ha  sido  y  sigue  siendo  por 
medio  del  libro  —  teológico,  místico,  artístico,  literario,  histórico,  ci¬ 
entífico  —  antorcha  espiritual  de  medio  mundo  civilizado,  «rectora 
de  las  empresas  espirituales»,  evangelizadora  de  pueblos  y  conquis¬ 
tadora  tradicional,  sino  ya  «de  tierras  para  el  Rey»,  por  10  menos 
de  inteligencias  para  el  bien  y  sobre  todo  «de  almas  para  Dio's... x> 


BIBLIOGRAFIA 

1  —  Rafael  Lapesa  —  Historia  de  Lengua  española. 

2  —  Narciso  A.  Cortés  —  Historia  de  la  Literatura  española. 

3  —  Hurtado  —  G.  Palencia  —  Historia  de  la  Literatura  española. 

4  —  A.  Valbuena  Prat  —  Historia  de  la  Literatura  española. 

5  —  Martín  Alonso  —  Ciencia  del  Lenguaje  y  Arte  del  Estilo. 

6  —  A.  Holyos  de  Castro  —  Los  grandes  rangos  históricos  de  América. 

7  —  Espasa  -  Calpe  —  Enciclopedia  Universal  Ilustrada,  tomos,  19,  21  y  S07  - 


LÔBO  BA  COSTA  SATÍRICO 


Irmáo  ELVO  CLEMENTE 

O  poeta  na  sua  contemplaçâo  da  vida  e  das  coisas  defronta  si- 
tuaçôes  bem  intéressantes  e  por  vézes  bsm  contraditórias.  Há  si- 
tuaçoes  que  vao  de  acórdo  com  o  modo  de  ver,  de  medir  do  artista 
e  há  situaçoes  que  nao  lhe  caem  no  gosto.  O  poeta  percebe  éste 
estado  de  coisas,  toma  consciéncia  do  mundo  diferente  de  seus 
desejos.  Desta  inconformidade  nasce  a  sátira,  nasce  a  produçâo  jo¬ 
cosa,  mordaz,  epigramática...  A  situaçâo  devera  mudar,  devera  con- 
formar-se  corn  a  personalidade  do  artista.  O  artista  nao  pode  e  nem 
deve  humilhar-se;  as  coisas  háo  de  mudar  e  como  as  coisas  e  os 
homens  nao  alteram  o  poeta  lança  seus  versos  para,  entre  risos,  ou 
escárnios,  corrigir  o  mau  estado  da  situaçâo  ou  ds  erros  das  pes¬ 
soas.  (1) 

Lobo  da  Costa  vivia  por  toda  a  parte,  nao  desconhecia  nenhum 
•ambiente  social  do  Rio  Grande:  penetrara  os  umbrais  da  elegancia 
e  do  luxo,  andara  ñas  mansardas.  Conheceu  Pelotas,  Rio  Grande, 
Jaguaráo,  Arroio  Grande  em  todos  os  refólios...  Éle,  desprezado, 
ele,  festejado,  éle,  ajudado  pelas  pessoas  humildes  e  pelos  poten¬ 
tados  vivia  a  vida  do  Sul.  Conheceu  nossas  inquietudes,  os  ardores 
de  nossas  paixoes  políticas,  os  destemperos  das  loucuras  amorosas, 
os  pecados  dos  lares,  os  desmandos  nas  praças  e  nas  ruas...  Lobo 
viveu  os  altos  e  baixos  da  nossa  aristocracia  e  do  nosso  povo.  Era 
um  homem  que  veio  da  plebe  e  foi  alçado  por  seu  gênio  ás  alturas 
de  todos  os  degraus  scciais. 

Nem  sempre  o  satírico  é  urna  pessoa  de  costumes  ilibados,  nem 
sempre  é  isento  de  escándalos,  nem  sempre  pode  garantir-se  contra 
o  revide  do  atingido.  Parece-me  que  as  pessoas  que  usam  da  sᬠ
tira  procuran!  por  meio  destas  setas  castigar  o  seu  próprio  defeito, 
seus  próprios  desmandos.  Haja  vista  o  nosso  maior  satírico  Grego¬ 
rio  de  Matos  Guerra,  vivia  escándalos  e  no  entanto  era  éle  o  azorra- 
gue  implacável  das  pessoas  que  incidissem  nalguma  falta. 

Lobo  da  Costa  via  o  próprio  érro,  via  os  erros  do  outro  e  cas- 
tigava  ambos  corn  suas  estrofes  mescladas  de  ironía,  de  suave  hu¬ 
morismo  ou  de  azedume  feroz. 

Lôbo  e  seus  contemporáneos  déste  modo  entendiam-se  muito 
bem.  No  entanto  diversas  vézes  a  mordacidade  e  os  desvíos  de  sua 
crítica  valeram-lhe  horas  e  dias  pouco  alegres,  refiro-me  aó  em- 
pastelamento  da  Gazeta  do  Menezes ...  Os  contemporáneos  reí erem- 
se  ao  caráter  violento  do  jornalista  que  ñas  colunas  dos  panfletos 


54 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


que  dirigía  ou  auxiliava,  derramava  com  abundancia  o'  fel  de  seu 
ressentimento  e  de  sua  indignaçao.  Sua  pena  jornalistica  foi  viru¬ 
lenta,  extraordinàriamente  violenta,  muito  do  paladar  da  época. 
Paixoes  fortes,  exacerbadas,  reclamara  veiculos  conformes  a  seu 
espirito  e  finalidade.  Ah!  as  paixoes  políticas  de  1870  e  1880!... 
Lôbo  e  seus  colegas  jornalistas  ou  panfletários  acenderam  as  fo- 
gueiras  das  questoes  políticas  e  religiosas  que  agitavain  o  Brasil 
e  o  Rio  Grande  nos  fins  do  sáculo  passado. 

Voltando  as  páginas  dos  j ornais  e  indo  à  obra  poética  do  Lobo 
(assim  é  que  o  chamavam)  notamos  como  se  amacia  seu  modo  de 
castigar  os  contemporáneos.  Parece  que  Melpomene  lhe  abranda  a 
arrogancia  do  impeto  e  o  veneno  das  setas  ervadas... 

Há  momentos  de  exaltaçâo  em  alguns  versos  dos  «Horneéis  de 
Roma»  em  «O  Rei  e  o  Operário»  e  em  «Sem  título»  poesías,  que 
se  encontram  em  «Auras  do  Sul».  As  Auras  nestas  composiçoes  pa- 
recem  silenciar  e  deixar  sibilar  o  agudo  e  cortante  minuano... 

Na  poesía  «II omens  de  Roma»  suas  flechas  atingem  a  sotaina. 
Nao  castigam  a  humildade  dos  pároco's  da  campanha  ou  a  dedica- 
çao  dos  sacerdotes  despretensiosos  que  vivem  junto  de  seu  reba- 
nho  simples  e  ordeiro.  As  setas  do  poeta  querem  atingir  príncipes 
da  Igreja,  querem  corrigir  o  suposto  êrro  e  o  mal  forjado  escándalo 
dos  altos  dignitários  eclesiásticos.  Quern  move  o  verbo  de  Lobo  é 
urna  interpretaçao  errónea  do  conceito  de  liberdade,  dos  díreitos  do 
homem  e  dos  mandamentos  da  Santa  Igreja.  O  poeta  via  nos  cui¬ 
dados  da  Igreja,  nao  a  solicitude  de  máe  extremosa,  sim  urna  espé- 
cie  de  Cronos  iracundo  que  devora  os  filhos,  sedentos  de  ventura 
e  de  vida.  Os  «Homens  da  Igreja»  seriam  os  pérfidos  satélites  do 
jugulador  de  tantas  vítimas.  E  os  «Homens  de  Roma»  que  Lobo 
faz  surgir  das  águas  de  Veneza  a  par  da  crueldade  possuem  os  vi¬ 
cios  mais  hediondos . . . 

Urna  noite...  ao'  sussurro  de  Veneza,.. 


Très  fantasmas  de  pé  fitam  o  horizonte, 
Negros  na  veste,  lúgubres  na  fronte. 
Espetros  do  Iuar  ! 


Váo  em  busca  de  terra  do  suplicio, 

Que  adormece  beí jando  os  pés  do  vIcíor 
Após  urna  oraçâo  !  (2) 

Por  estas  palavras  podemos  aquilatar  que  devera  ter  sido  a  fe- 
rocidade  dos  ataques  do  jornalísta,  formado  nas  diatribes  e  ñas 
pugnas  da  imprensa  da  época.  .  . 

Os  versos  déste  poeta  sao  o  brado  de  révolta  que  nada  poupa* 
no  derramar  da  lava  déste  vulcáo  que  irrompe  da  pena  do  poeta... 
As  pessoas  e  as  coisas  mais  sagradas  de  nada  mais  servem.  Tudo» 
foi  contaminado  tudo  é  imundo,  tudo  é  tiranía. 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


5o 


Despertam  os  vis  cossacos  de  bating, 

Tern  por  armas  a  cruz  Santa  e  divina 
De  quern  nos  quis  salvar  !... 

Trava-se  a  luta  horrenda  e  fatricida: 

A  honra,  a  liberdade,  a  idéia,  a  vida, 

Sao  banidas  por  lei  ! 

Perdura  urna  só  coisa  —  o  despotismo... 

Roubo  e  morte,  sâo  palmas  de  civismo 
Aos  pés  do  Papa-Rei  !  (2) 

A  diatribe,  a  calúnia  contra  o  papado  e  a  Igreja  era  a  moda  da 
época,  Lobo  nao  pode  esquivar-se  desta  maneira,  eflizmente  em 
desabono  da  verdade  para  fazer  urna  critica  ao  clero  e  à  Igreja  Ro¬ 
mana.  Ao  mesmo  tempo  que  injuriava  a  guarda  vigilante  da  Ver¬ 
dade,  invocava  o  nome  de  Deus... 

E’  a  antítese  vivida  pelo  poeta  no  recesso  intimo  de  seu  ser. 
Crer  em  Deus  e  blasfemar  sua  Igreja,  seus  ministros  !  Contradi- 
çoes  de  Hugo,  de  Musset  e  de  Alvares  de  Azevedo... 

Após  ter  combatido  a  soberanía  religiosa  volta-se  contra  o  dia¬ 
dema  real.  O  posta  republicano  nâo  tolerava  mais  o  sábio  monarca 
no  trono  do  Brasil.  Lança  impropérios  contra  a  majestade  amável 
de  D.  Pedro  II.  A  poesia  «O  Rei  e  o  Operario»  é  o  resumo  de  sua 
révolta  e  das  viruléncias  dos  ataques  contra  o  chefe  civil  da  naçâo. 
Irónicamente  fala  ao  Rei  corn  estas  palavras: 

És  um  divino  espantalho. . . 

Tu  forjas  a  escravidáo  !  (3) 

Por  entre  escárnios  e  insultos  estabelece  um  paralelo  muito 
incompleto  entre  o  Rei  e  o  Operário  e  termina  corn  a  exaltaçâo  do 
proletário  e  corn  o  desprézo  do  monarca: 

Tu  és  a  noite,  eu  o  dia, 

Deslumbram-te  os  vivos  sois... 

Tu  fundes  a  tiranía, 

Eu  fundo'  os  pulsos  aos  heróis  !  (3) 

A  poesia  «Sem  título»  é  urna  crítica  à  vida  dos  nobres  e  dos 
ricos  e  urna  glorificaçâo  do  pobre  e  do  trabalhador.  Passa  o  poeta 
por  todos  os  miteres  e  contempla  ai  o  movimentador  do  trabalho, 
o  produtor  do  progresse;  junto  do  malho,  ao  lado  das  máquinas,  na 
senzala;  vive  com  o  operário,  com  o  marinheiro,  corn  o  escravo  e 
vé  que  todos  êles  trabalham,  fazem  a  gloria  da  naçâo,  enquanto 
isto: 

O  Rico,  o  nobre  que  nunca 
Teve  da  gloria  a  emoçâo, 

Dorme...  e  entre  sonhos  murmura: 

—  Que  tolos  !  que  tolos  sao  !  (4) 

O  poeta  tem  para  a  gente  do  seu  tempo  versos  bem  violentos 
contra  certos  abusos,  certas  mudanças  na  vida  humana,  as  muta- 
çoes  das  atitudes,  o  esquecimento  dos  compromissos.  Como  chico- 
teia  a  ingratidáo,  leíamos  a  estrofe  do  «Adeus»: 


56 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S- 


Nunca  viste  a  donzela  lacrimosa 
Curvada  no  ladrilho  mortuário, 

Bei jando  o'  esquife  negro  e  solitário 
Em  que  dorme  o  despojo  maternal? 

E  dois  anos  após . . .  nem  tanto  ainda  ! 

Da  festa  no  esplendor  vir,  orgulhosa, 

Passando  muitas  vézes  junto  à  lousa, 

Sem  lembrar-se  do  anjo  do  casal?  (5) 

Quanta  mágoa  e  quanto  ardor  nos  versos  era  que  exprobra  o 
ato  infame  da  máe  que  vende  a  inocéncia  da  filha.  Traz-nos  éle 
o  contraste  que  o  tempo  aproxima  e  faz  esquecer: 

Já  viste  a  triste  mâe  que  um  bêrço  embala. 

Velando  urna  criança  adormecida, 

Consagrando-Ihe  esp’rança,  amor  e  vida, 

Capaz  de  se  finar  se  ela  morrer; 

E  após,  se  a  idade  veste -a  de  esplendores, 

Tornar-se  sen  algoz,  ser  seu  patíbulo, 

E  ir  vendé-la  ñas  portas  do  prostíbulo, 

Como  rés  inocente  —  a  quem  mais  der?.f  (5) 

De  certo  a  crítica  procura  atingir  elementos  da  sociedade  con¬ 
temporánea.  . . 

A  elegáncia  dos  saldes  fornece-Ihe  razóes  sobejas  para  críticas 
e  vilipéndíos,  a  sociedade  nobiliárquica  que  nascera  quais  cogume- 
los  após  a  bátega  estival,  ia  desmoronando  gangrenada  pelo  vicia*, 
pela  vaidade,  pelos  festivals  impúdicos. .  .  O  poeta,  filho  do  povo, 
nao  podia  tolerar  tanto  ignominia...  A  nobreza  a  esbanjar  fortunas 
numa  noite  de  orgia  e  os  pobres  a  morrerem  à  míngua  nos  degraus 
do  palácio.  O  estro  se  inflama  e  vaí  a  sátira,  flecha  certeira,  era- 
var-se  no  peito  da  sociedade  elegante  e  despudorada. . . 

Era  urna  noite  de  orgía  no  palácio... 


Ali  folga  a  Marco  aos  beijos  momos 
Da  lascivia  cruel . . .  Treme  a  inocéncia . .  . 

E  goza  o  potentado  ! 

Ouve-se  o  tinir  da  dobla  ferrugenta . . . 

Rola  na  banca  um  mundo  de  desgraça 
E  Sata  ri-se  ao  lado  .r 
Há  um  templo  de  luz  —  ó  altar  é  negro  f 
iFumega  em  vez  de  mirra  —  o  vinho  ardente 
Aos  pés  da  meretriz  l  (6) 

Estremece  o  poeta  ao  contemplar  tamanha  Ioucura,  ao  ver  tan¬ 
tos  anjos  de  pureza  que  rolam  para  o  lamaçal  da  miseria  moral... 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


57 


No  entanto  sao  formbsas  como  o  lirio 
As  vestais  désse  templo  vaporoso, 

—  Táo  pálidas  que  sao  ! 

Vao  das  asas  da  dança  como  garça, 

Yáo  ñas  unhas  da  orgia  como  pombas 
Nos  pés  do  gaviáo.  (6) 

O  poeta  multiplica  os  contrastes,  gosta  das  sombras  que  real- 

çam  as  cores  do  quadro: 

Desci  à  rua,  ao  canto  de  urna  esquina 
Sobre  mísera  esteira,  embriagada, 

Dormía  urna  mulher. 

No  palácio  as  mulheres  vaporosas,  as  brancas  pombas  nos  bra- 
ços  dos  gavióes,  ao  pé  da  esquina  pobre  mulher,  perdida,  flor  des- 
folhada:  quadro  exorbitante,  quadro  eloqüente  a  clamar  por  justiça, 
a  gritar  amor  !  O  poeta  ao  findar  da  noite  fecha  a  porta  do  palácio, 

calam-se  as  vozes  do  saláo: 

Ao  amanhecer,  porém,  quando  os  caleches 
Roubavam  do  prazer  as  flores  mortas, 

As  damas  do  saláo: 

Um  vulto  levantou-se  da  calçada 
E  a  máo  foi  estendendo  de  continuo, 

Chorando  a  pedir  pao!...  (6) 

Lobo  que  viveu  tantos  anos  no  vicio,  que  tantas  virgens  infe- 
licitou,  era  um  acicate,  um  açoite,  um  flagelo  da  luxúria.  Com 
que  palavras  amargas  refere -se  êle  à  triste  e  desventurada  vida  das 
mulheres  que  perderam  o  norte  de  sua  honra  e  de  sua  dignidade. 
Dir-se-ia  que  é  um  asceta  que  fala  na  integridade  dos  costumes, 
na  beleza  da  virtu  de  sempre  ilibada: 

Anjo  mau  em  que  mundo  tu  habitas? 

Tu  nao  sabes,  mulher,  que  a  vida  é  nada? 

Que  se  acabam  essas  graças  táo  bonitas 
E  a  noite  sucede  à  madrugada?  (7) 

Deixemos  o'  boêmio  e  suas  consideraçôes  sobre  a  beleza  da  vir- 
tude  e  a  efemeridade  da  vida,  folhemos  a  obra  e  vamos  encontrar 
urna  sátira  mais  leve,  náo  menos  perspicaz  e  penetrante.  Ñas  «Dis¬ 
persas»  sob  o  título  «Cismando»  lemos  alguns  versos  de  raro  sabor 
irónico,  mordaz  e  envoltos  nos  raios  benignos  do  amor.  O  poeta  pro¬ 
cura  ferir,  picadas  dos  espinhos  da  roseira,  espinhos  que  anunciam 
um  mimo,  a  rosa  do  amor.  Descreve  a  beleza  déste  espécimen  fe- 
minino,  que  tudo  concentra  nos  olhos  e  completou  quinze  anos . . . 
Saiu  há  pouco  da  escola 
Mas,  já  sabe  tanto  já  ! 

Que  lê  de  cor  e  salteado 
Qualquer  verso  pé  quebrado, 

E  escreve  Amor  com  H.  (8) 

Analisa  as  habilidades  da  dona  de  seus  so'nhos  e  mistura  tudo 
nesse  torn  de  sátira  e  jocosidade: 


58 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


No  desenho,  custa  a  crê-lo  ! 

E’  táo  hábil  táo  feliz, 

Que  ao  retratar  certa  velha 
la  tragar  urna  orelha, 

Saiu-lhe  logo  um  nariz.  (8) 

A  bela  do  poeta  chama  de  todos  a  atengao  e  os  versos  déle  nos 
contain  as  maravilhas  e  por  fim  aconselha  de  um  modo  um  tanto 
grotesco: 

Vé  tu  se  as  jóias  consegues, 

Mas  olha,  nao  vejas,  nao  ! 

Mas  se  é  teu  gôsto...  consente: 

Fica  com  os  olhos  somente, 

E  o  resto  pde  em  leiláo  !  (8) 

E’  jocoso  o  poeta  nos  seus  motives  de  impressionar  a  pessoa 
amada.  O  torn  suave  da  po'esia  convida  para  a  intimidade  e  cria  um 
ambiente  familiar. 

Deveriam  ter  sido  célebres  na  cidade  de  Pelotas  as  referéncias 
maliciosas  de  certos  versos  do  Lobo.  «Por  que  será?»  Sao  páginas 
intéressantes  em  que  éle  analisa  os  principáis  vicios  da  moda  da- 
gente  da  margem  direita  do  Sao  Gonçalo.  O  poeta  ri  e  castiga,  ao 
mesmo  tempo  aconselha: 

Por  que  será  que  urna  santa. 

Que  nao  mora  em  oratorio 
Narnora  em  certo  car  torio 
E  com  todos  pinta  a  manta? 

E’  porque,  crendo  que  encanta, 

Cuns  olhos  onde  o  sol  brilha, 

Do  namôrb  a  senda  trilha 
Sem  precauçâo  nem  cautela, 

Sem  lembrar-se  que  a  espárcela 
Anda  perto  da  armadilha...  (9) 

Na  primeira  estrofe  foi  vítima  urna  senhora  na  segunda  é  a 
dama  e  o  marido  leva  advertencia: 

Por  que  será  que  urna  dama 
Casada,  se  nao  me  engano, 

Nunca  abandona  o  piano 
E  as  filhas  deixa  à  mucama? 

E’  porque  o  ruármelo  em  rama 
Nao  tem  de  sobra  o  marido, 

E  a  tu  do  fechando  ouvido 
Deixa  ir  à  revelia, 

Sem  se  lembrar  que  algum  día 
Há  de  brigar  com  Cupido...  (9) 

Atira  seus  dardos  contra  urna  pessoa  de  ídade  que  morre  de 
amores: 

Por  que  será  que  urna  cuja 
Cu  jo  nome  nao  declino. 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


59 


Namora  certo  menino 
Sendo  ela  urna  coruja? 

• —  E’  porque  a  roupa  suja, 

E’  em  casa  que  se  lava, 

E  ela  pois,  sendo  urna  escrava 
Do  preconceito,  pretende, 

Visto  que  tudo  se  vende, 

Comprar  o  fogo  de...  lava.  (9) 

O  alvo  de  seus  tiros  nao'  é  somante  o  frágil  sexo,  os  homens  e 
os  moços  também  sentem  os  ardores  das  setas  que  Ihes  dirige: 

Por  que  será  que  o  Mingóte 
Que  tem  as  vistas  cansadas, 

Vê  de  longe  as  namoradas 
E  atrás  délas  anda  a  trote? 

—  E’  porque  o  Dom  Quixote 
Também  viu  moinhos  de  vento, 

E  de  amor  o  pensamento 
Tem  mais  fogo  que  a  retina; 

Onde  está  urna  menina, 

Foge  o  sol  por  um  momento.  (9) 

Assim  vai  castigando  os  vezos  dos  outros,  colocando  em  tudo 
urna  pitadinha  de  sal  e  um  sorrisinho  malicioso . . . 

Luís  Jácome  fez  um  notável  invento  útil  na  arte  de  cavalgar. 
O  poeta  aproveita  o  ensejo  para  urna  notável  sátira  ás  pessoas  de 
seu  tempo  e  da  sociedade  pelotense: 

Senhor,  o  teu  grande  invento 
Tem  nos  feito  admirar  ! 


Vem  a  recomendaçâo  do  poeta: 

Nao  maltrates  só  os  brutos 
Dêsses  que  tém  quatro  pés 
Temos  outros  mais  incultos, 

Até  formados  em  leis; 

E  se  quisesses  domá-lo's 
Talvez  mais  do  que  os  cávalos 
Te  dessem  coices  fatais  ! 

Mas  nao  temas,  vem  depressa 
Pôe  a  sela  ao  que  mereça 
Monta  aquéle  que  te  apraz  !  (10) 

Continua  enaltecendo  o  invento  científico: 

A  ciencia  animaleja, 

Trata  de  aperfeiçoar, 

No  club  e  até  na  Igreja 
Tens  bastantes  que  domar  ! 

Dos  padres  castiga  o  érro 
Mas,  com  esporas  de  ferro 
A  fincar-lhes  no  garráo 


60 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


E  se  faltarem-te  ao  passo 

A  corcovo  e  monotaço 

Tens  um  chicote  na  mao  !  (10) 

Conclui  veemente  e  decidido  na  arte  de  bâter  em  quem  precisar: 
Eia,  nào  tardes,  atleta  ! 

Yem  abrir  escola  aqui, 

Seja  embora,  o  teu  poeta 
Su  jeito  também  a  ti; 

(Momento  admirável,  reconhece  Lôbo  que  também  precisa  ser 
domado  e  batido...) 

Mas  antes  que  tu  me  piques 
Hei  de  ver  muitos  repiques. 

Picados  por  tua  mao  ! 

Hei  de  ver  emboçalado 
Muito  doutor . . .  tíeputado. . . 

Muito  visconde. . .  baráo  !...  (10) 

Lobo  da  Costa  é  incorrigível  na  sua  ira  contra  os  magnatas  da 
nobreza  e  do  poder,  a  razáo  é  obvia  e  a  raiva  viverá  néle  enquanto 
ele  viver  ! 

A  sátira  do  Lobo  mergulha  no  humorismo,  num  torn  todo  es¬ 
pecial.  Humor  de  alma  que  sangra,  riso  de  lábios  que  crestaram 
sob  o  pranto . . .  Apesar  de  tudo  êle  sorri.  A  vida  é  dolorosa  mas  é 
preciso  rir  da  própria  dor.  Êle  mesmo  nos  revela  o  estado  de  sua 
alma  na  poesia  «Sorrir»: 

E’  preciso  sorrir... 


E  raras  vézes  no  meu  rude  engenho 
Solto  o  grito  subtil  das  alegrías, 

Salta  o  riso  em  torpor. 

Respeito  a  dor  das  almas  mais  sombrías. . , 

Choro  corn  elas...  e  se  um  riso,  eu  tenho, 

E’  que  eu  rio  de  dor  !  (11) 

As  coisas  mais  corriqueiras  emprestan!  ao  poeta  motivos  para 
humorismo,  para  quebrar  com  um  sorriso  a  monotonia  do  terrivel 
cotidiano  é  o  que  nos  mostra  a  poesia  «À  meia-noite»: 

A  no'ite  é  de  luar. ..  e  que  nao  fóra! 

Temos  bicos  de  gás  no  lampadárío. 

Quero  o  dia  aguardar  cantando  trovas, 

Como  canta  frei  Joáo  no  Seminário.  (12) 

Para  urna  alma  como  Lobo  nao  é  necessárío  muita  coísa  para 
impressionar,  alma  pronta  a  todos  os  sentímentos,  espirito  dispos¬ 
to  a  tôdas  as  mutaçôes  do  ambiente. 

Na  página  124  de  seu  livro  «Lucubraçôes»  conta-nos  a  linda  ane- 
dota  do'  «Comunismo  de  pés».  Dois  moços  vivíam  na  mesma  pensáo* 
e  calçavam  um  par  de  sapatos,  quando  um  calçava  o  esquerdo  o 
outro  usava  o  direito.  Assim  for  am  vivendo  neste  mundo  e  a  com- 
posiáo  assim  termina: 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


61 


Morre  por  fim  o  Pilados  de  casa... 

O  mais  velhd. . .  o  mais  pobre  î  Orestes  chora, 

E  pede  à  terra  em  lágrimas  banhado 
Que  seja  leve  agora 

A  quern  pouco  a  pisou  corn  seu  calçado.  (13) 

O  humorismo  gaiato  de  Lôbo  é  algo  de  pitoresco,  qualquer  coi- 
sa  torna-se  para  ele  motivo  de  hilaridade.  «Um  passeio  de  tilbury» 
é  o'utro  passo  anedótico  contado  com  graça  e  elegancia.  A  proposi- 
çâo  ¡da  poesia  é  um  pensamento  assaz  conhecido  mas  enunciado  com 
rara  fineza  e  maestria: 

Ganha-se  pouco,  mas  a  vida  é  larga 
Quando  se  vive  de  ilusoes  quai  eu  ! 

Nem  sempre  o  fruto  do  presenta  amarga 
Quando  é  comido  com  favor  do  céu. 

Tern  êle  um  pensamento  elevado,  um  ato  de  fé  na  Providéncia 
e  vai  dando  seu  passeio  pela  cidade.  Passa  pelas  ruas,  diante  dos 
edificios,  moças  gentis  ñas  janelas...  Sorrisos...  O  poeta  torna  a 
passar  para  usufruir  mais  e  mais  das  doçuras  daqueles  sorrisos  por 
fim  percebe  o  engano,  engano  de  coraçâo  enamorado',  engano  que 
nos  faz  rir  a  bom  rir: 

Sube  do  caso...  da  galhofa  enfim, 

Tudo  por  artes  do  senhor  Diabo 
Ela,  a  pequeña,  nao  sorriu  de  mim. 

Riu-se  da  bésta,  que  nao  tinha  rabo'  !  (14) 

Concluindo  as  consideraçôes  sobre  o  humor  de  Lobo  da  Costa 
diremos  que  foi  realmente  um  satírico  que  nao  poupou  altos  digni- 
tários  da  Igreja  e  dO'  Estado  em  sua  missáo  de  Juvenal  de  Pelotas 
e  na  sociedade  do  Sul.  A  sua  sátira  abrandou  e  até  mesmo  nos  trou- 
xe  chocarrices  que  amenizaram  sobremodo  o  andamento  destas  li- 
nhas.  O  temperamento  de  Lobo  era  muito  social,  sua  companhia 
devera  ter  sido  muito  procurada  e  muito  divertida.  Os  azedumes  de 
urna  parte  de  sua  obra  nao  devem  impressionar  mal  nossa  retina, 
criticava  e  criticava  acerbamente  e  em  seguida  era  o  poeta  jocoso, 
amigo  de  todcs  e  respeitoso  cas  dignidades  militares,  civis  e  ecle¬ 
siásticas. 

Dum  sabor  todo  especial  é  a  ccmposiçâo  «Ao  men  chapen  alto». 
O  poeta  dirígese  numa  espécie  de  despedida  ao  velho  chapéu. 

Como  estás  acabado  !  Que  mudança 

Vejo  em  ti  neste  instante  !  Grande  céu 

Eu  que  te  vi  há  pouco'  táo  criança 

—  Ver-te  de  barbas  brancas,  meu  chapéu.  (15) 

Na  décima  primeira  estrofe,  choroso  se  despede  do  querido  cha¬ 
péu  alto: 

Té  meu  pobre  chapéu  quando  morreres  ! 

Ao  lixo  nao  irás...  de  mim  bem  junto 
Aos  evos  bradarei:  «Aqui  repousa 
Um  chapéu  que  foi  gente  e  hoje  é  defunto». 


62 


PONT.  UNIY.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


O  posta  dirige-se  numa  espécie  de  despedida  ao  velho  chapéu. 
nos  estar  a  transformar-se  num  manso  e  humilde  propagador  de 
anedotas,  cada  quai  mais  intéressante.  Revela  fino  gósto  educativo 
pelo  modo  que  a  anedota,  com  singeleza  e  com  o  cuidado  de  nada 
decair  para  o  lado  fescenino. 

O  Cabrion  n.°  57,  de  1880,  nos  traz  urna  anedota  bem  intéressan¬ 
te  intitulada  —  Descuido.  Conta  a  chegada  a  urna  estalagem  de  um 
pobre  viajante,  todo  molhado  e  tiritando  de  frió.  Nada  pede,  quer 
íogo  e  calor.  Achega-se  ao  fogáo  e  es  tende  as  pernas  junto  as  laba- 
redas.  De  madrugada: 

«Acorde  !  brada  a  criada, 

Olhe  que  queima  as  esporas . . . 

Além  disso,  meu  amigo, 

Amanhece,  já  sao  horas  !» 

—  Quais  esporas  !...  sao  as  botas 
Que  éstes  sustos  me  causaram? 

—  Nao  senhor,  sao  as  esporas 

Que  as  botas  já  queimaram  ! . . .  (16) 

O  poeta  em  pretensôes  de  estudar  ciencias  jurídicas  nao  podia 
passar  indiferente  perante  os  discípulos  de  Galeno.  A  éles  também 
dedicou  anedotas,  a  éles  também  moveu  urna  crítica  fina  e  mordaz. 

Na  revista  «O  Cabrion»  n.°  59  de  1880  lemos  as  estrofes  intitu¬ 
ladas  «Barrate»: 


Foi  demitido  um  empregado 
De  certa  repartiçâo 
O  qual  jurou  de  matar 
Muita  gente  à  sua  mâo  ! 

Chamado  logo  à  policía 
Respondeu  com  voz  ferina: 

«Pois,  nâo  me  tirem  o  emprégo  ! 

Vou  estudar  medicina  !»  (17) 

Neste  mesmo  número  59  encontramos  outra  anedota  jocosa  «e 
de  sabor  infantil  sob  o  título:  «Simplicidade»; 

Duas  crianças  brincavam 
Saltando  pelas  janelas 
E  vendo  vir  duas  vacas 
À  outra  disse  urna  délas: 

«Vés  aquela  vaca  branca? 

E’  a  que  dá  leite,  Zezé. 

—  E  a  prêta?  —  pergunta  o  outro. 

«A  prêta...  dá  café!»  (17) 

Na  mesma  página  da  supr acitada  revista  lança  sua  sátira  con¬ 
tra  o  avarento  sob  a  epígrafe  de  «Já?!»: 

Estava  um  torpe  usurário 
Ñas  agonías  da  morte, 

E  ao  médico  que  ao  lado  tinha 
Maldizia-se  da  sorte. 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


63 


«Que  inferno  éste  em  que  vivo  !» 

Curtindo  dores  dizia. 

Respondeu-lhe  o  bom  Galeno: 

—  «Muito  cedo  principia  !»  (17) 

Encerramos  as  rápidas  consideraçôes  sobre  a  sátira  na  obra  de 
Lobo  da  Costa  dando  um  parecer  déle  sobre  o  pobre  e  ganancioso 
amante: 

O  amante  tolo 

E’  como  o  cao: 

Tanto  mais  adora 

Quanto  mais  lhe  dáo.  (18) 

Os  satíricos  surgem  em  geral  numa  época  de  decadencia  polí¬ 
tica,  Juvenal  surgiu  quando  Roma  principiava  esboroar-se;  entre  os 
escombros  do  colosso  romano  o  poeta  castigava  as  ambiçoes  e  as 
licenciosidades  da  pátria  dos  Césares  por  meio  de  seus  versos;  Lobo 
aparece  no  entardecer  da  monarquía  dos  Braganças,  ao  descambar 
das  glorias  de  urna  nobreza  que  nem  dominou  um  século  !  Vergas- 
ta  o  poeta  corn  suas  sátiras  e  motejos  os  costumes  decadentes  de 
urna  sociedade  que  nao  terá  amanhá  na  historia... 

O  poeta  ereto  sobre  as  ruinas  do  cataclismo  lança  seus  versos 
à  posteridade  e  ri-se  de  tudo  quanto  se  abala,  cal  e  desaparece... 

CONCLUSÂO 

O  poeta  nao  se  conforma  com  tantas  maldades  humanas,  ape¬ 
sar  déle  nao  ser  táo  bom  quanto  quereria,  revolta-se  e  com  as  setas 
da  sátira  quer  transformar  a  sociedade,  corrigir  os  vicios,  combater 
o  mal  e  tornar  o  mundo  melhor. 

Lobo  da  Costa  em  tôda  a  sua  obra  arquitetou  um  plano  para 
o  bem-estar  do  mundo  que  roda  e  roda  para  urna  constelaçâo  de 
venturas  e  glorias  sempiternas... 

Lobo  da  Costa  cumpriu  sua  missáo  de  vate  boemio  que  passa 
pela  vida  semeando  em  qualquer  alma  urna  semente,  urna  semente  de 
conforto  e  de  amor  ! 

As  páginas  das  Lucubraçôes,  das  Dispersas,  das  Flores  dos  Cam¬ 
pos,  das  Auras  do  Sul,  do  Filho  das  Ondas,  háo-de-perdurar  enquan- 
to  existir  a  lingua  de  CAMÓES  e  de  Catulo  da  Paixáo  Cearense. 


N  OTAS 

1  —  Cf.  Augusto  Magne,  S.J.  —  Principios  Elementares  de  Literatura  — 

1935,  Cía.  Ed.  Nac  onal  —  pág.  207  e  208. 

2  —  Auras  -do  Sul 

Homens  de  Roma  —  pág.  31-36. 

Poema  dedicado  a  Joaquim  N.  Epaminondas  de  Arruda. 

3  —  Auras  do  Sul 

O  Rei  e  o  Operário  —  pág.  64-65. 


64 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


4  —  Auras  do  Sul 

Sem  Título,  pág.  97-98. 

5  —  Auras  do  Sul 

Adeus  (À  Sombra  do  Salgueiro)  —  pág.  22.  Poesía  dedicada  a  Maria,  seu 
amor  dos  Molhos  da  Banda  Oriental. 

6  —  Auras  do  Sul 

Um  canto  do  sáculo  —  pág.  52-56. 

7  —  Auras  do  Sul 

Mulher  Perdida  —  pág.  141. 

8  —  Dispersas 

Cismando  A.M.R.J.  —  pág.  53-57. 

9  —  Flores  do  Campo 

Por  que  será?  pág.  47-51. 

Poesía  descrita  para  a  sociedade  de  Pelotas  em  1877. 

10  —  Dispersas 

Conversemos,  pág.  35-38.  Poesía  dedicada  a  Luiz  Jácome. 

11  —  Lucubraçôes 

Sorrir  —  pág.  121.  Primeira  poesía  do  grupo  que  éle  intitulou  «Humorís¬ 
ticas». 

12  —  Lucubraçôes 

À  meia-noite  —  pág.  123. 

Nesta  poesía  versa  sobre  «coisas  do  cotidiano». 

13  —  Lucubraçôes 

Comunismo  de  pés,  pág.  124. 

14  —  Lucubraçôes 

Um  passeio  de  tilbury  —  pág.  125.  —  Passeio  realizado  em  Sao  Paulo  ao 
bairro  de  Sainta  Efigénia,  1874. 

15  —  Lucubraçôes 

Ao  meu  chapéu  alto  —  pág.  126-127. 

16  —  O  Cabrion,  pág.  7,  n.o  57,  Pelotas,  1880. 

Descuido. 

17  —  O  Cabrion,  n.?  59,  pág.  7,  de  1880. 

Barrete. 

18  —  Gazeta  Mercantil,  pág.  7,  de  5-5-1878,  n.o  14. 

Pensamentos. 


MONOGRAFIA  DA  PROFISSÂO  DE  TÉCNICO 

EM  EDUCAÇÂO 


RUTH  CABRAL 


I.  HISTÓRICO 

Para  alcançar  as  raízes  históricas  da  profissâo'  de  Técnico  em 
Educaçâo  é  preciso  fazer  urna  busca  à  vida  educativa  dos  povos. 
Éste  exame  nos  revela  que  os  teóricos  e  técnicos  em  educaçâo  es- 
tiveram  primitivamente  em  estreita  ligaçâo  com  certos  grupos  da 
comunidade,  como  se  jam  a  familia  e  a  religiáo.  Assim,  vamos  en¬ 
contrar  nos  antigos  livros  sagrados  as  primeiras  consideraçoes  so¬ 
bre  a  educaçâo.  Mais  adiante  já  vamos  deparar  com  a  teoría  educa¬ 
tiva  servindo  de  instrumento  da  política:  é  a  época  dos  grandes 
legisladores  e  filósofos,  como  Catâo  e  Aristóteles.  No  período  me¬ 
dieval  deparamos  com  os  grandes  catequistas  cristáos,  como  Santo 
Agostinho  e  Sao  Tomás  de  Aquino,  preocupados  corn  esta  questáo. 
O  Renascimento,  com  a  Reforma,  revolucionou  o  mundo  com  novos 
principios  e  diferentes  conceitos  sobre  o  homem  e  dessas  conside- 
raçôes  encontramos  reflexos  nos  escritos  de  Erasmo  e  Lutero.  A  épo¬ 
ca  moderna,  com  o'  iniciar  do  método  experimental,  leva  a  grande 
número  de  filósofos  e  dentistas  a  trazer  novos  conceitos  para  o 
campo  educacional.  No  fim  do  século  XIX  e  comêço  do  século  XX 
vamos  deparar  com  o  período  áureo  dos  inovadores  da  teoría  e 
técnica  educativa,  com  Pestalozzi,  Binet,  Dewey  e  outros  que  lan- 
çam  as  bases  da  teoria  científica  da  educaçâo.  Da  mesma  forma  que 
na  Europa  e  Estados  Unidos  vamos  encontrar  na  América  Latina  e 
no  Brasil  a  preocupaçâo  de  aplicar  científicamente  as  conquistas 
das  várias  ciéneias  do  homem  na  elaboraçâo'  de  técnicas  educativas 
adequadas  à  realidade  de  cada  país.  Surge  entáo  o  técnico  e  perito 
no  setor  educativo. 

Parece  que,  oficialmente,  o  cargo  de  técnico  em  Educaçâo,  no 
setor  federal,  já  existia  antes  de  1939,  mas  corn  a  criaçào  da  Facul- 
dade  Nacional  de  Filosofia  passou  a  ser  exigido  o  grau  de  Bacha- 
rel  em  Pedagogía  para  o  preenchimento  do  cargo. 

No  Rio  Grande  do  Sul,  a  historia  do  cargo  de  Técnico  em  Edu¬ 
caçâo,  apresenta,  cronológicamente,  as  seguintes  fases: 

—  1929:  Foi  criada,  na  Secretaria  de  Educaçâo,  a  Diretoria  de 
Instruçâo  Pública,  com  urna  divisáo  técnica,  da  qual 
faziam  parte  professôres  corn  experiência  didática. 


66 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


—  1941:  Foi  reorganizada  a  Secçâo  técnica  e  criados  cargos  de 

Assistentes  técnicos  e  Auxiliares  Técnicos. 

—  1945  e  46:  Foram  criados  cargos  de  Técnicos  em  Educaçâo. 

II.  IMPORTANCIA 

A  vida  e  a  organizaçâo  sociais  tém  assumido,  no  presente  sé- 
culo,  urna  complexidade  cada  vez  maior.  Todos  os  setores  da  admi- 
nistraçâo  pública  e  privada  exigem  sempre  mais  e  mais  planejamen- 
to  e  resoluçâo  dos  problemas  por  técnicos  especializados.  O  setor 
educativo'  nao  podia  fugir  às  exigéncias  da  demanda  urgente  de  es¬ 
pecialistas  que,  domiando  o  panorama  geral  da  educaçâo,  estivessem 
em  condiçôes  de  examinar  os  problemas  específicos  das  necessidades 
nacionais,  plane  jar  medidas  para  soluçoes  educativas  e  regular  a 
consecussâo  déstes  propósitos. 

Vários  estudiosos  tém  encarecido  a  importancia  do  técnico  em 
educaçâo.  Diz  a  respeito,  A.  Carneiro  de  Leáo:  «Poucos  homens  de 
estado  nos  tempos  atuais  poderáo  ter  açâo  mais  nefasta  ou  benéfica 
na  formaçâo,  no  crescimento,  no  aperfeiçoamento  de  urna  naciona- 
lidade  e  de  um  povo.  Éle  é  um  dos  condutores  do  pensamento  edu¬ 
cacional  em  seu  meio.  Sua  preparaçâo  deve  ser  alta,  sua  cultura  geral 
e  sua  visáo  do  mundo,  clara». 

Das  atividades  eminentemente  diretivas  e  sociais  que  deve  exer¬ 
cer  decorre,  pois,  a  importancia  das  funçôes  do  Técnico  em  Edu¬ 
caçâo  . 

in.  NÚMERO  DE  PROFISSIONAIS  EM  OCUPAÇÂO 

Atualmente,  no  Rio  Grande  do  Sul,  de  acórdo  com  o  Decreto 
N.°  2020  de  2-1-53  (que  regulamenta  a  funçâo  pública  no  estado), 
há  30  cargos  de  Técnicos  em  Educaçâo  lotado's  no  Centro  de  Pes¬ 
quisas  e  Orientaçâo  Educacionais  e  no  Serviço  de  Orientaçâo  e 
Educaçâo  Especial . 

IV.  NECESSIDADES  DE  TRABALHADORES 

O  número  de  pessoal  exercendo  as  funçôes  de  Técnico  em  Edu¬ 
caçâo  é  ínfimo  em  face  do  volume  de  trabalho'  que  o  setor  educativo 
do  estado  exige.  O  crescente  aumento  da  réde  escolar,  trazendo  ne- 
cessidade  urgente  de  direçâo  técnica  em  múltiplos  campos;  a  cria- 
çâo  de  novos  órgáos  na  Secretaria  de  Educaçâo,  com  problemas  ur¬ 
gentes  a  serem  objetivamente  resolvidos,  abrem  perspectivas  para 
o  aproveitamento  de  pessoal  nestes  ramos  de  trabalho.  Por  outro 
lado,  a  situaçâo  presente  de  contençâo  das  despesas  públicas  impede 
a  criaçâo  de  novos  cargos,  aínda  que  os  órgáos  que  utilizam  as  ati¬ 
vidades  déste  técnico  o  tenha  solicitado.  Superada  a  presente  crise 
financeira  é  de  esperar-se  que  as  exigéncias  do  ensino  levem  à  opor- 
tunizaçâo  de  aproveitamento  de  grande  número  de  pessoas  nesta 
especialidade. 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


67 


V.  DEVERES 


A)  Atividades  específicas. 

Dois  órgáos  da  Secretaria  de  Educaçâo  prevêem,  na  sua  orga- 
nizaçâo,  atividades  que  seráo  realizadas  por  Técnicos  em  Educaçâo: 
o  Centro  de  Pesquisas  e  Orientaçâo  educacionais  e  o  Serviço  de  Orien- 
taçâo  e  Educaçâo  Especial.  As  atividades  déstes  técnicos  estáo  defi¬ 
nidas  por  lei  e  sáo  delimitadas: 

a)  No  Centro  de  Pesquisas  e  Orientaçâo  Educacionais  (órgáo 
diretamente  ligado  a  o  Secretário  de  Educaçâo)  e,  cuja  fun- 
çâo  precipua  é  a  realizaçâo  de  estudos  e  investigaçôes  psi¬ 
cológicas,  pedagógicas  e  socials,  destinadas  a  manter  em 
bases  científicas  o  trabalho  escolar)  pelos  Decretos  n.°s  242 
de  13-10-42,  3856  de  11-2-53  e  4207  de  10-10-53  como  sendo: 

- —  Estudar  os  assuntos  e  executar  os  trabalhos  confiados  por 
seu  Diretor. 

—  Submeter  à  aprovaçâo  superior  os  planos. 

—  Traduzir,  adaptar  e  aplicar  testes  psicológicos,  proceder  ao 
tratamento  estatístieo,  instruçôes  metodológicas,  provas,  diag¬ 
nósticos  de  trabalho  útil  ao  ensino. 

Entre  os  trabalhos  e  assuntos  confiados  pelo  Diretor  do  órgáo 
estáo  todos  aquéles  realizados  no  centro  e  que  sáo: 

I  —  Realizar  estudos  e  pesquisas  sobre: 

ia)  O  educando  em  todos  os  aspectos  que  interferem  no  proces- 
so  educativo; 

b)  A  aprendizagem  —  principios  e  leis,  métodos  e  materiais; 

c)  O  meio  escolar  —  instituiçôes,  recreaçâo  e  relaçoes  com  o 
meió  social. 

II  —  Contribuir  para  maior  eficiéncia  da  educaçâo  em  geral 
mediante: 

a)  A  divulgaçâo  de  estudos  e  pesquisas  realizados  no  campo 
educacional,  no  país  e  no  estrangeiro; 

b)  A  elaboraçâo  e  publicaçâo  de  livros  didáticos,  instruçôes  me¬ 
todológicas  e  dó  material  útil  ao  ensino; 

c)  A  manutençâo  de  urna  biblioteca  pedagógica  para  uso  de 
prof  essores  e  estudantes  de  educaçâo; 

d)  A  publicaçâo  anual  do  Boletim  do  Centro. 

e)  A  apresentaçâo  de  sugestoes  sobre  livros  didáticos  a  serem 
publicados,  sempre  que  solicitados  por  seus  autores. 


68 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


III  —  Empreender  atividades  de  orientaçâo,  através: 

a)  Da  assistência  técnico  pedagógica  às  escolas,  exercidas  di- 
retamente,  na  Capital,  e  através  das  Delegacias  Regionais 
do  Ensino,  quanto  às  unidades  do  interior  do  Estado; 

b)  Da  preparaçâo  de  cursos  de  férias  e  outro's  de  especializa- 
çâo  e  aperfeiçoamento,  destinados  ao  magistério; 

c)  Da  organizaçâo,  do  ponto  de  vista  técnico,  de  cursos  pro- 
postos  pelas  Superintendéncias,  cabendo-lhe,  neste  caso,  in¬ 
dicar  os  prof  essores,  os  coordenadores  ou  diretores; 

d)  Da  indicaçâo  de  material  didático  para  uso  de  professôres  e 
alunos  ; 

e)  Da  elaboraçâo  de  programas,  planos  de  trabalho',  comuni¬ 
cados,  circulares  e  instruçoes; 

f)  Da  organizaçâo  de  bibliografia  para  professôres  e  alunos. 

IV  —  Elaborar  medidas  para: 

a)  Organizaçâo  das  classes; 

b)  Orientaçâo  educacional; 

c)  Aferiçâo  do  rendimento  da  aprendizagem. 

V  —  Colaborar  na  soluçâo  de  problemas  relativos  à  orientaçâo 
educacional  encaminhados  ao  órgáo  por  orientadores  educacionais, 
diretores  ou  professôres  de  estabelecimentos  de  ensino: 

a)  Opinando  sobre  a  orientaçâo  educacional  mais  conveniente 
em  cada  caso,  com  fundamento  em  estudos  realizados  sobre 
a  personalidade  do  educando  e  suas  aptidoes  especiáis; 

b)  Investigando  as  possíveis  causas  de  desajustamentos  indi¬ 
viduáis  ocorridos  no  meio'  escolar  e  estabelecendo  a  tera¬ 
péutica  pedagógica  adequada. 

B)  No  Serviço  de  Orientaçâo  e  Educaçâo  Especial  (cuja  fina- 
lidade  é  atender  a  crianças  e  adolescentes  nos  casos  em  que  as  es¬ 
colas  commis  do  Estado  nao  tiverem  recursos  para  a  soluçâo  satis- 
fatória)  pelo'  regimentó  interno  do  órgáo,  onde  se  estabeleee  com¬ 
petir  ao  Técnico  em  Educaçâo: 

a)  Aplicar  e  corrigir  provas  pedagógicas. 

b)  Reunir  os  dados  para  urna  interpretaçâo  pedagógica  dos 
casos. 

c)  Elaborar  planos  individuáis  de  orientaçâo  pedagógica  para 
os  casos  estudados. 

d)  Orientar  e  supervisionar  o  trabalho’  didático  das  instituiçôes 
complementares  (Escolas  Especiáis  e  Classes  Especiáis). 

d.  Fazer  aconselhamentos. 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


69 


Compete-lhe,  ainda,  atribuiçoes  comuns  a  todos  os  funcionários 
técnicos  do  órgáo: 

a)  Lecionar  nos  cursos  organizados  pelo  Serviço. 

b)  Promover  reunioes  de  pais  e  professôres  com  fins  de  orien¬ 
taçâo. 

c)  Realizar  palestras  para  as  quais  forem  designados. 

d)  Cooperar  na  realizaçâo  de  pesquisas  que  interessem  ao  Ser¬ 
viço. 

e)  Participar  das  reunioes  de  estudos  para  o  aperfeiçoamento 
do  pessoal. 

f)  Participar  dos  seminários  de  estudo  de  casos. 

B)  Befiniçao  da  ociipaçâo. 

De  acôrdo  corn  a  Lei  n.°  2020  de  2-1-53,  que  classifica  os  cargos 
do  serviço  público  civil,  a  funçâo'  desempenhada  pelo  Técnico  de 
Educaçâo  está  definida  como  um  serviço  de  Educaçâo  e  classificada 
no  grupo  de  Pesquisas  e  Orientaçâo  Educacional. 

Conforme  a  opiniâo  dos  que  labutam  nesta  atividade,  o  Técnico 
em  Educaçâo  desempenha  várias  funçoes,  tais  como: 

—  Pesquisa:  estudo  e  experimentaçâo  de  novos  processos  didà- 
ticos,  detecçâo  das  causas  de  insucesso  escolar,  inovaçâo  de 
métodos  de  ensino  mais  atualizados. 

—  Didâtica:  ensino  de  novas  técnicas,  aperfeiçoamento'  dos  co- 
nhecimentos  teóricos  e  práticos  dos  professôres. 

—  Administrativa:  plane j amento  de  currículos,  programas  e  ati- 
vidades. 

—  Orientadora:  resposta  a  consultas  de  professôres,  diretores  e 
outros  sobre  problemas  educativos. 

—  Supervisera:  contrôle  dos  resultados  do  rendimento  escolar, 
aferiçâo  da  eficiencia  dos  professôres,  diretores  de  escolas, 
etc. 

Nestes  têrmos,  podemos  dizer  que  o  Técnico  em  Educaçâo  tem 
uma  atividade  que  reúne  as  funçoes  de  professor,  pesquisador  e  líder 
• —  nas  quais  deve  buscar  científicamente  meios  para  melhorar  e 
conduzir  os  recursos  educativos  de  sua  comunidade,  orientar  e  en- 
sinar  novos  recursos  didáticos,  modificar  processos  antiquados,  con¬ 
vencer  elementos  recalcitrantes  para  o  uso  de  melhores  métodos, 
formar  a  mentalidade  educacional  dos  dirigentes  e  responsáveis  pela 
comunidade  familiar,  escolar  e  social. 

Professiogràficamente,  a  atividade  de  Técnico'  em  Educaçâo  pode 
ser  classificada  (conforme  orientaçâo  de  Mira  y  Lopez)  como  um 
trabalho  abstrato  verbal,  variável,  perceptivo-reacional,  que  requer 
uma  personalidade  equilibrada,  corn  inteligência  superior,  atitude 


70 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


humanista,  tendencia  auto-crítica  observadora,  bom  desenvolvimen- 
to  da  sociabilidade,  boa  memoria  de  dados  e  informagóes,  boa  capa- 
cidade  de  expressao  e  persuasâo. 

VI.  QUALIFICAÇÔES 

1.  O  éditai  de  concurso  da  Divisâo  de  Seleçâo  e  Aperfeigoa- 
mento  do  Departamento  de  Servigós  Públicos  do  Estado,  baseado  na 
regulamentaçâo  da  funçâo  pública  instituida  nos  Decretos  n.°s:  920 
de  27-12-49,  1751  de  22-2-52  e  2020  de  2-1-53,  expressa  as  seguintes 
condigóes: 

—  Nacionalidade:  ser  brasileiro,  nato  ou  naturalizado. 

—  Sexo:  ambos. 

—  Idade:  mínima  de  21  e  máxima  de  40  incompletos  (nao  estáo 
su  jeitos  a  limite  de  idade  os  ocupantes  de  cargos  públicos, 
efetivos). 

—  Comprovaçao  de  grau  de  cultura  correspondente  ao  2.°  ciclo 
seeundário. 

—  Comprovaçâo  de  cumprimento'  das  obrigaçôes  militares. 

—  Comprovaçâo  de  estar  em  gozo  dos  direitos  políticos. 

—  Comprovaçâo  de  boa  conduta  civil  e  privada. 

—  Comprovaçâo  de  boa  saúde. 

2.  A  opiniáo  dos  técnicos  em  exercício  nos  órgáos  da  Secre¬ 
taria  de  Educaçâo  é  a  de  que  esta  funçâo  deva  ser  exercida  por 
pessoa  que: 


—  Tenha  experiencia  prévia  nos  vários  setores  de  educaçâo. 

—  Tenha  cultura  gérai  e  específica  de  nivel  universitário,  pre¬ 
ferentemente  Bacharelato  em  Pedagogía. 

—  Tenha  realizado  cursos  de  especializaçâo  nos  campos  das  téc¬ 
nicas  metodológicas  educativas  modernas,  de  legislaçâo  e  or- 
ganizaçâo  escolar,  de  filosofía  e  historia  da  educaçâo,  de  fun¬ 
damentos  sociais  da  educaçâo,  de  biología  e  psicología  edu- 
cacionais,  etc. 

—  Domine,  pelo  menos,  dois  idiomas  além  do  pátrio,  entre  os 
quais  inglés,  francés,  espanhol  e  alemáo. 

VII.  PREPARAÇÂO 

A)  Instruçâo  gérai. 

De  acôrdo  com  o  éditai  de  concurso,  já  citado,  exige-se  apenas 
curso  de  nivel  correspondente  ao  2.°  ciclo,  sem  especificaçâo  do  tipo 
de  preparaçâo.  No  entanto,  o  mediano  bom  senso  leva  a  considerar 
que  urna  pessoa  corn  os  conhecimentos  gérais  dados  num  estabele- 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


71 


cimento  de  cultura  propedéutica  nao  está  capacitado  para  éste  tra- 
balho.  E’  preciso  que  tenha  realizado  urna  formaçào  eminentemen¬ 
te  pedagógica  como  a  que  se  proporciona  ñas  escolas  normáis  (gi- 
násio  e  normal)  para  que  tenha  o  mínimo  «back-ground»  cultural 
para  realizar  sua  tarefa  com  possibilidade  de  sucesso. 

A  tendência  atual  e  a  opiniáo  das  pessoas  que  exercem  o  cargo 
encarecem  como  desejável  urna  formaçào  mais  ampia,  de  nivel  uni- 
versitário,  preferentemente  Bacharelato  de  Pedagogía,  completada 
corn  especializaçôes  em  vários  campos  educativos.  Entre  estas  po¬ 
demos  citar  os  cursos  oferecidos  pelo  Instituto  Nacional  de  Estudos 
Pedagógicos  (Estatística  Educacional,  Orientaçâo  Educacional,  Su- 
pervisáo  Escolar,  etc.),  pelo  Instituto  de  Educaçâo  de  Porto  Alegre 
(Administraçâo  e  lsgislaçâo  Escolar,  Supervisáo  de  Ensino,  Especia- 
lizaçao  em  classes  de  Jardim  de  Infáncia,  l.°  ano,  etc.)  e  de  vários 
tipos  de  bolsas  de  estudos  em  países  de  alto  nivel  educacional,  onde 
podem  ser  realizados  estudos,  observaçôes  e  comparaçôes  entre  o 
nosso  e  os  sistemas  educacional  estrangeiros. 

B)  Treinamento  especial. 

Nao  existe  um  curso  específico  para  a  formaçào  de  técnicos  em 
educaçâo  que  preve  ja  todos  os  aspectos  da  tarefa  que  cabe  a  éste 
profissional.  No  entanto,  as  Faculdades  de  Filosofía,  o  Instituto  de 
Educaçâo  e  outros  centros  educativos,  nos  seus  currículos,  incluem 
atividades  práticas  como  parte  integrante  do  programa  de  formaçào 
de  seus  alunos.  Náo  nos  consta,  pórém,  que  haja  um  centro  de  trei¬ 
namento  para  tal  funçâo. 

C)  Experiencia. 

Os  órgáos  da  Secretaria  de  Eduacoçâo,  que  utilizam  o  trabalho 
do  Técnico  em  Educaçâo,  dâo  preferéncia  exclusiva  a  pessoal  que: 

—  Além  de  formaçào  teórica,  tenha  experiência  didática  em 
qualquer  setor  educativo  (pré-primário,  primário,  secundá- 
rio,  normal  ou  superior)  de,  pelo  menos,  5  anos. 

- —  Tenha  labutado  em  funçoes  de  direçâo  ou  supervisáo  de  es¬ 
colas,  tais  como:  diretores,  supervisores,  delegados  regionais 
de  ensinó. 

—  Tenham  demonstrado  comprovada  capacidade  de  trabalho, 
cultura  pedagógica  atualizada  demonstrada  na  atuaçâo  do¬ 
cente. 


VIII.  MÉTODOS  DE  INGRESSO 

A  forma  de  ingresso  no  cargo  está  prevista  ñas  leis  que  regu- 
lamentam  os  serviços  públicos  do  Estado  e  consta  de  concursó  de 
títulos  e  provas,  especificados  como  segue: 


72 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


a)  Prova  escrita  que  consta  de  dissertaçâo  e  resoluçâo  de  ques- 
toes  objetivas  sobre  assuntos  educacionais:  Até  100  pontos. 

b)  Pro  va  de  títulos  que  consta  de  pontos  por: 

—  Exercício  efetivo  no  cargo  durante  730  dias  ou  mais:  Até  80 
pontos. 

—  Idem,  inferior  a  730  dias:  Até  70  pontos. 

—  Títulos,  pelos  quais  se  possam  verificar  condiçoes  especí¬ 
ficas  de  capacidade  para  o  exercício  do  cargo:  Até  70  pontos. 

—  Outros  documentos  pelos  quais  se  possam  verificar  condi- 
çoes  de  nivel  cultural  e  comportamento  em  qualquer  setor 
de  atividade:  Até  50  pontos. 

A  pro'va  de  títulos  nao  pode  exceder  de  100  pontos. 

A  aprovaçâo  requer  média  50  em  cada  urna  das  provas  a)  e  b) . 

Atualmente  existem  vários  Técnicos  em  Educaçâo  efetivados  no 
cargo  por  decreto  e  outros,  exercendo  interinamente  a  funçâo.  Em 
1955  o  Departamento  de  Serviço  Público  publicou  éditai  de  abertura 
de  concurso  que  teve  sua  realizaçâo  sustada  em  face  de  protesto 
dos  Técnicos  em  Educaçâo  (interinos  e  efetivos)  nao  concordaren! 
corn  as  condiçoes  dos  mesmos,  isto  é,  nao  haver  exigêneia  de  for- 
macáo  didática  específica. 

IX.  PERÍODO  ANTES  DE  ADQUIRIR  COMPLETA  CAPACIDADE 

PROFISSIONAL 

Para  o  exercício  da  funçâo,  nâo  há  período  de  treino,  mas  é 
lógico  que  os  técnicos  com  mador  número  de  anos  de  experiência  e 
mais  estudos  estáo  melhor  capacitados  para  o  desempenho  de  suas 
atividades. 


X.  PROMOCA  O  E  A  VAN  Ç  AMENTO 

A  funçâo  de  Técnico  em  Educaçâo  efetua-se  dentro  de  cargos  iso¬ 
lados,  nâo  constituindo  carreira. 

XI.  OCUPAÇÔES  AFINS  A  QUE  O  TRABAD  110  PODE  CONDUZIR 

O  Técnico  em  Educaçâo  pode  ser  designado  para  qualquer  ati¬ 
vidade  de  chefia  de  órgáos  técnicos  e  administrativos  da  Secretaria 
de  Educaçâo.  O  critério  estabelecido  pela  maioria  dos  Secretários 
de  Educaçâo  tem  sido  o  de  utilizar  o  trabalho  dos  Técnicos  em  Edu¬ 
caçâo,  com  vasta  experiência  e  atuaçâo  marcante,  nas  atividades  de 
chefia  de  órgáos  como:  O  Centro  de  Pesquisas  e  Orientaçâo  Educa¬ 
cionais,  Serviço  de  Orientaçâo  e  Educaçâo  Especial,  Superintendên- 
cias  de  Ensino',  etc.  Tôdas  estas  sâo  funçoes  de  comissâo  e  con- 
fiança. 


r 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


73 


XII.  VANTAGENS 

O  Técnico  em  Educaçâo  goza  de  todas  as  vantagens  atribuidas 
ao  funcionalismo  público  e  mais  as  decorrentes  de  seu  cargo,  ou 
sejam:  salário,  gratificaçôes,  diárias,  ajudas  de  custo  e  outras. 

—  Salário:  O  cargo,  quanto  ao  salário,  está  classificado  no  pa- 
dráo  7.°  (último)  da  tabela  de  vencimentos,  correspondendo  a  Cr$ 
10.000,00  (Dez  mil  cruzeiros).  Trienalmente  há  um  avanço  automᬠ
tico  de  Cr$  1.000,00  (Um  mil  cruzeiros).  Éste  salário  está  sujeito 
aos  seguintes  descontos: 

—  5%:  contribuiçâo  ao  Instituto  de  Previdéncia  do  Estado. 

- —  2%:  de  acórdo  com  a  Lei  n.°  3096  de  31-12-58  (aumento  dos 
inativos). 

—  Tantos  dias  de  serviço  quantas  forem  as  faltas  nao  justifi¬ 
cadas. 

—  Um  têrço  do  salário  diário  por  chegada  após  ou  saída  antes 
da  hora  regulamentar. 

—  Licenças:  Cabe-lhe  o  direito  de  licença,  sem  perda  de  ven¬ 
cimentos: 

—  Para  tratamento  de  saúde  ou  acídente  no  exercício  da  pro- 
fissáo. 

—  Para  tratamento  de  moléstia  de  pessoa  da  familia. 

—  Gratificaçôes:  De  15%  e  25%,  a  partir  da  data  que  completar, 
respectivamente,  15  e  25  anos  de  serviço  efetivo. 

—  Diárias:  Por  deslocamento  da  sede  de  trabalho  em  objeto  de 
serviço. 

—  Ajuda  de  custo:  Por  transferencia  ou  nomeaçâo  para  cargo 
em  comissáo  em  nova  sede,  estado  ou  estrangeiro'. 

Por  tarefa  que  o  obrigue  a  ficar  fora  da  sede  mais  de  30  dias. 

—  Licença  premio:  De  6  meses,  após  10  anos  ininterruptos  de 
trabalho  efetivo. 

—  Aposentadoria:  Com  35  anos  de  serviços  efetivós. 

Por  invalidez  para  o  serviço  público  motivada  por:  moléstia, 
acidentes  ou  agressâo  nao  provocada,  no  exercício  de  suas  funçoes. 

—  Acumuîaçôes:  Como  cargo  técnico'  dá  direito  a  exercer  cumu¬ 
lativamente  funçâo  docente  em  estabelecimento  educacional  de  qual- 
quer  grau,  desde  que  o  sujeito  esteja  habilitado  para  tal,  provada  a 
compatibilidade  de  horários. 

—  Abono  familiar:  Por  filhos  menores  solteiros. 

—  Premios:  Por  autoría  de  trabalhos  considerados  de  intéressé 
público  ou  de  utilidade  para  a  administraçâo. 


74 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


r 


XIII.  HORAS  DE  TRABALHO 

A)  O  técnico  em  Educaçâo  está  sujeito  ao  regime  de  horário 
dos  funcionários  públicos  que,  atualmente,  é  de  6  (seis)  horas,  ex- 
ceto  aos  sábados,  em  que  há  meio  expediente.  O  horário  semanal  é 
de  33  horas. 

B)  Atualmente  estáo  vedados  os  horários  extraordinários  re¬ 
munerados,  no  entanto  a  natureza  da  funçâo  exercida  pelo  Técnico 
em  Educaçâo  exige-lhe  horas  extras  de  estudo  e  pesquisas. 

C)  As  férias  sao  anuais  (30  dias  consecutivos),  desde  que  te- 
nha  preenchido  os  seguintes  requisitos: 

—  Nao  ter  incorrido  em  mais  de  30  faltas  justificadas. 

—  Nâo  ter  fruido  licença  para  tratar  de  interésses  particulares 
por  mais  de  30  dias. 

XIV.  REGULARÎDADE  DO  EMPR&GO 

O  cargo,  como  funçâo  pública,  é  um  emprégo  regular,  nâo  so- 
frendo'  interrupçôes,  nem  estando  sujeito  ao  influxo  dos  ciclos  de 
trabalho. 

XV.  RISCOS  DE  SAÜDE 

Os  riscos  de  saúde  física  e  mental  sáo  relativamente  normáis  a 
qualquer  tipo  de  funçâo  pública  burocrática,  e  estáo  previstas  leis 
asseguradoras  de  direito  a  assistência  e  garantía  contra  invalidez. 
Entre  as  moléstias  consideradas  como  dando  direito  a  aposentado- 
ria  estáo':  tuberculose,  alienando  mental,  neoplasia  maligna,  ceguei- 
ra,  lepra,  mal  de  Addison,  paralisia  e  afecçoes  cardiovasculares  in- 
curáveis. 

Entre  os  meios  assistenciais  a  que  pode  recorrer  está  o  Instituto 
de  Previdencia  do  Estado  (empréstimos  para  caso  de  hospitalizaçâo, 
financiamento  para  construçâo  de  casa),  a  Associaçâo  dos  Funcio¬ 
nários  Públicos  (assistência  médico-dentária,  exames  de  laboratorio, 
raios  x,  etc.)  e  a  Cooperativa  dos  Funcionários  Públicos. 

XVI.  ORGANIZAÇÔES 

Como  funçâo'  pública  o  cargo  nâo  está  na  dependéncia  de  orga- 
nizaçâo  patronal,  mas  diretamente  sujeito  à  legislaçâo  e  adminis- 
traçâo  pública  civil. 

Ao  Técnico  em  Educaçâo,  como  a  qualquer  outro  funcionário 
público,  está  vedado  a  fundaçâo  de  sindicatos.  No  entanto,  cabe- 
lhe  o  direito  de  fundar  associaçôes  para  a  defesa  de  seus  interésses, 
para  fins  beneficentes,  recreativos  e  de  economia  e  cooperativismo. 
Nestes  moldes  há  duas  instituiçôes:  a  Associaçâo  dos  Funcionários 
Públicos  e  a  Cooperativa. 


r 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


75 


XVII.  LUGARES  TÍPICOS  DE  EMPREGAMENTO 

Atualmente,  no  Estado,  é  a  Secretaria  de  Educaçâo  a  única  re- 
partiçâo  pública  que  utiliza  o  trabalho  do  Técnico  em  Educaçâo.  As 
organizaçôes  particulares  (associaçÔes  educativas,  ¡estabelecimentos 
de  nivel  primário,  secundário  e  superior)  estáo  su  jeitos  à  legislaçâo 
oficial,  atendo-se  aos  preceitos  e  orientaçâo  gérai  dos  órgáos  técnicos 
da  organizaçâo  federal  ou  estadual. 

XVÏÎI.  INFORMAÇÔES  SUPLEMENTARES 

Fontes  de  informaçâo  para  maiores  esclarecimentos  podem  ser 
buscadas: 

—  Na  leitura  de: 

—  Leis  e  decretos  referentes  ao  funcionalismo'  público  civil 
do  Estado. 

—  Regimentó  interno  do  Serviço  de  Orientaçâo  e  Educaçâo 
Especial  e  arquivo  de  leis  referentes  ao  Centro  de  Pesqui¬ 
sas  e  Orientaçâo  £¡ducacionais. 

—  Na  consulta  à  Divisâo  de  Seleçâo  e  Aperfeiçoamento  de  Pes- 

soal,  do  Departamento  de  Serviços  Públicos  do  Estado. 

—  Na  entrevista  com  pessoas  que  exercem  ou  exerceram  a  pro- 

fissâo,  entre  as  quais: 

—  Da.  Olga  Acauan  Gayer,  ex-titular  da  Diretoria  Gérai  da 
Secretaria  de  Educaçâo. 

—  Da.  Amnéris  Fortini  Albano,  ex-Superintendnte  do  Ensino 
Normal. 

—  Da.  Ida  Silveira,  diretora  do  Serviço  de  Orientaçâo  e  Edu¬ 
caçâo  Especial. 

—  Da.  Graciema  Pacheco,  catedrática  de  Didática  Gérai  da 
Universidade  Federal  do  Rio  Grande  do  Sul  e  ex-Diretora 
do  Centro  de  Pesquisas  e  Orientaçâo  Educacionais. 


76 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


BIBLIOGRAFIA  : 

1.  Arquivos  Bras'leiros  de  Psicotécnica:  dezembro  de  49,  junho  de  50  e  março 
de  52. 

2.  Manual  de  Orientaçâo  Profissional  —  Mira  y  López. 

3.  Introduçâo  à  Administraçâo  Escolar  —  A.  Carneiro  de  Leño. 

4.  História  da  Educaçâo  —  Bento  Andrade  F.?. 

5.  Noçôes  de  História  da  Educaçâo  —  T.  de  Miranda  Santos. 

6.  História  da  Educaçâo  —  Monroe. 

7.  Noçôes  de  Administraçâo  Escolar  —  T.  Miranda  Santos. 

8.  Educaçâo  Comparada  —  Milton  Rodrigues. 

9.  The  Fundamentals  of  Public  School  Adm'mstration  —  Reeder. 

10.  Enciclopedia  de  la  Educación  Moderna  —  H.  Rivlin. 

11.  Arquivos  históricos  do  Centro  de  Pesquisas  e  Orientaçâo  Educaciona's. 

12.  Regimentó  Interno  do  Serviço  de  Orientaçâo  e  Educaçâo  Especial. 

13.  Diário  Oficial  do  Estado,  de  24-2-55. 

14.  Le's  e  decretos  referentes  ao  funcionalismo  estadual. 


DIONISIO  FUERTES  ÁLVAREZ 

RECONSTITUIÇAO  DUM  ITINERARIO  —  TEMPO  INTERIOR 

Betty  Brogrioli  Borges  Fortes 

—  Irmáo,  nunca  mais  escreverei  comentários.  Éste  é  o  último. 

—  Sim,  o  último  até  que  se  publique  o  meu  novo  livro . . . 

E  assim  foi.  Nâo  escrevi  mais.  Nâo  havia  mais  necessidade  de 
escrever.  Táo'  pouco  havia  coisas  que  me  intéressasse  dizer... 

Naquela  manhá,  há  tantos  dias,  sai  do  gabinete  déle  com  as 
obras  completas  de  San  Juan  de  la  Cruz.  Depois  de  1er  o  místico,  e 
meditá-lo,  compreendi  que  havia,  pelo  contrário,  muito  que  dizer. 
Nos  falávamos  regularmente,  ano  após  ano,  corn  a  regularidade  e 
constáncia  de  um  determinismo,  e  afinal  de  contas,  só  agora  fico 
sabendo  que  nós  falávamos  a  mesma  lingua.  Por  isto  é  que  eu  sem- 
pre  compreendia  o  que  se  passava  na  sua  intelectual  e  interna  quí¬ 
mica  mística.  Dionisio  Fuertes  Alvarez  sempre  recordou  a  minha 
esperança,  pois  que  a  minha  alma  se  completa  nas  próprias  remi- 
niscências.  Éle  nunca  mo  disse,  mas  eu  sabia  qual  era  o  céu  que 
o  tentava. 

Por  isto.  Ambos  renunciávamos  lentamente  aos  luxos  e  as  exor- 
bitáncias  técnico-estilísticas.  Afinal,  o  que  significa  Olimpo  para  o 
Homem  viajante,  senáo  um  ocaso  triste  de  «faunos  senis  e  bacantes 
morías?» 

Para  nós,  a  linguagem  poética,  a  acuidade  poética,  servia  para 
indagar  pela  eternidade  afora: 

« —  Passou  o  Amado  por  aqui? 

Passou  o  meu  Rei  por  estas  bandas?» 

E  caminhávamos,  carmelitas  e  descalcos,  em  espiráis,  pela  senda 
sulcada  de  suor,  de  sangue  e  de  esforços.  Evidentemente  que  fica 
um  pouco  dêste  esfôrço  nas  florestas  que  se  iluminaram.  Há  a  neve 
que  desceu  do  pranto  e  soterrou  nossos  festins  de  formas  esplen¬ 
dentes.  Eis  que  ficamos  humildes  e  mansos  de  coraçâo,  e  caminha- 
mos  tensos  e  doloridos.  Tensos  como  carneiras  em  tambores  fune- 
rários.  Desceu  um  manto  de  neve  e  gelou  o  sangue  dos  homens  de 
repente.  Quando  isto  aconteceu,  Dionsio  Fuertes  Alvarez  me  deu 
um  roteiro  para  que  entrasse  e  me  resguardasse  no  Gástelo.  Despe- 
dimo-nos  e  fomos  cada  um  para  seu  lado. 

Agora  eu  pergunto  que  significado  tem  a  poesía  neste  trabalho 


78 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


imenso?  Salvaguardar  o  próprio  espirito  ameaçado?  Nada,  nâo  fora 
ser  urna  vibraçâo  permanente,  urna  ladainha  constante,  a  encher  o 
coraçâo  infinito  do  espaço.  Micromassagens  a  derreter  pesados  co- 
raçoes  de  gélo.  Poetar  é  cantar  urna  prece  e  adormecer,  guardando 
urna  fé  que  poder  algum  da  terra  deixa  entáo  morrer. 

Sim,  porque  eu  entrei  esta  noite  no  Castelo,  e  éle  veio  me 
receber.  E  foi,  nâo  há  dúvida,  urna  gentileza  do  Rei.  Reconheci  os 
signos  que  éle  semeara  ao  passar.  «Tempo  Interior»  se  revelava, 
e  por  isso  vai  agora  tempo  interior  com  um  ano  de  atraso.  Certas 
experiéncias  resultantes  de  sublimaçâo  em  dimensáo  já  nao  no  psi- 
cológico-subconsci,ente,  mas  ñas  próprias  terceiras  dimensoes  do 
espirito,  somente  podem  ser  integradas  com  o'  próprio  sangue,  com 
a  própria  experiéncia,  com  a  própria  caminhada.  E’  o  sentido  da 
nova  análise  da  realidade  espiritual  do  homern  ainda  com  assentos 
na  psicología  que  táo  bem  está  representando  no  Ocidente  o  Círculo 
Vienense  de  Psicología  Profunda,  dirigido,  atualmente  pelo  Prof. 
Igor  Caruso. 

E  o  laborioso  caminho  da  investigaçâo  analítica,  nâo  podia  ficar, 
como  efetivamente  nâo  ficou  na  Primeira  Porta  freudiana.  O  espi¬ 
rito  avançou,  e  conseguiu  estabelecer  corn  um  esfôrço  inaudito  no 
campo  da  investigacáo  científica  e  aceitar  o  que  estava  perdido  nos 
ocultos  mistérios  das  religioes  e  constituían!  quase-tabus  para  o  es¬ 
crúpulo  ingenuo  infantil  e  mórbido  do  pseudo-intelucismo  do  espirito 
científico.  Entretanto,  o  espirito  caminhando,  fatalmente  encontra 
estas  grandes  barreiras.  Pode  sentar-se  na  Primeira  Porta.  E’  ló¬ 
gico.  Entretanto,  o  «plus»  existe,  é  e  será  objeto  de  investigaçâo, 
ainda  que  o  se  ja  concomitantemente  de  veneraçâo  e  culto,  porque 
sempre,  ao  se  atingir  a  etapa  mística  da  alma,  ela  fatalmente  se  in¬ 
tegrará  nos  limiares  de  sua  Origem,  e  digo  origem,  porque  nesta 
altura  já  o  fim  está  presente,  mas  ainda  como  inatingível  principio'. 

Processa-se  no  espirito  humano  o  fenómeno  de  cruza  onde  o 
espirito  humano  penetra,  e  treme,  arrepiado  da  sua  própria  verdade 
e  presença  desencadeada.  Jung  trouxe-nos  esta  verdade  como  pos- 
sível.  Examinou  a  mística,  os  signos  encontrados  no  Oriente.  (Chi¬ 
na  —  o  segrédo  da  flor  de  ouro...)  E  desde  entâo  a  pesquisa  náo 
parou.  A  mística  medieval  penetra  como  urna  necessidade  de  com- 
pletaçâo  nos  dominios  todos  da  cultura.  O  esfôrço  é  necessário,  e  o' 
resultado  que  Franz  Kafka  expresse  no  «Castelo»:  entrar  ou  náo. 
Como  Santa  Teresa,  entra-se  no  «Castelo»  ou  náo  se  entra.  Entre¬ 
tanto',  para  o  analista,  já  o  castelo  é  signo  claro  e  perfeitamente 
integrado  no  patrimonio  da  completacáo  espiritual.  Assim  sendo,  já 
se  estabelece  a  paragem  transcendental  do  espirito,  além  da  vege- 
taçâo  subconsciente,  imánente  e  completa  em  si,  tanto  que  há  inves¬ 
tigadores  que  náo  sentem  a  necessidade  de  sair  déste  primeiro  painel 
de  investigaçâo.  E’  além,  é  num  painel  mais  anejado  se  bem  que 
extremamente  laborioso,  porque  é  ativo  e  criador,  que  estáo  os  li¬ 
mites  do  poeta-místico  Dionisio  F.  Álvarez  —  Poesía  e  Beleza.  Tan- 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


79 


to,  que  já  a  propria  análise  nesta  nova  dimensáo,  há  de  ser,  e  o 
pode,  e  o  deve,  ativa.  Assim  o  entenderá,  tanto  os  psicólogos  como 
os  guias  da  vida  espiritual. 

Éste  é  o  clima,  e  éste  é  o  itinerário,  cheio  de  ameaças  e  tem¬ 
pestades.  Dionisio  F.  Alvarez,  é  um  dos  viajantes  que  chegaram. 
Vamos  ver  os  sinais  deixados  em  sua  obra  poética. 

Elementos  preparatorios:  A  condiçâo: 

Ninguém  diria  que  da  pedra  dura 
e  no  deserto  que  ninguém  habita 
fosse  nascer  esta  fontana  pura 
que  só  eu  conheço  para  minha  dita. 


Quando  as  rosas  se  inclinam  calcinadas . . . 

(Tempo  Interior  —  p.  19) 

Em  todos  os  que  fazem  reduçoes  espirituais  há  esta  primeira 
solidáo,  nao  tanto  procurada  como  encontrada,  após  as  primeiras 
manobras  purificadoras  em  busca  de  urna  autenticidade  e  pureza  in¬ 
terna. 

Provada  e  aceita  esta  aridez  infinda  e  extremamente  difícil,  se 
esboça  nítidamente  a  presença: 


TU 

Certo  que  nao  sou  eu,  és  Tu  que  pensas, 
tremes  e  cantas,  gemes  e  suspiras, 
que  em  mim,  por  mim  e  para  mim  deliras, 
na  exaltaçâo  de  aspiraçoes  imensas, 

Tu  que  susténs  sensivelmente  tensas 
as  cordas  de  cristal  das  minhas  liras, 

Tu  que  manténs  rubras  em  mim  as  piras  (signo  flamejante 

encontrado  no  Yoga  do  fogo) 
Tu  que  moras  em  mim,  oras  e  incensas. 

Dada  a  primeira  crise,  e  a  grande  experiéncia  interna,  encontra¬ 
se  o  grande  mar  que  deve  ser  atravessado,  a  consciéncia  ativa  Sem¬ 
pra  presente,  com  seus  reclamos  insaciáveis: 

MARES 

Fora  está  o  mar  mutável  e  infinito, 
b  mar  de  sempre,  calmo  ou  assanhado, 
ou  de  espumosa  alvura  rendilhado, 
ou  de  furor  crispando  o  dorso  invito. 


80 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


Dentro,  o  imprevisto  mar  incircunscrito, 
o  de  abismo  insondável  e  insondado, 
enigmático,  escuro,  encapotado, 

>ou  de  perplexo  e  extasiado  hábito. 

Ambos  encerram  já  mil  naufragadas 
quilhas  de  naves  céleres  e  ousadas 
que  afrontaram  o  negro  labirinto. 

Ambos  sao  aguilhoes  do  meu  desojo, 
mas  eu  que  devassei  o  mar  que  vejo, 
devassarei  um  dia  o  mar  que  sinto? 

Que  Deus  se  apiede  dos  homens!  Grande  o  mar.  Pequeñas  as 
embarcaçôes,  que  urna  cultura  velha,  cansada,  nos  dá  as  mais  das 
vézes. 

Esta  é  urna  experiéncia  extremamente  penosa  onde  a  alma  pode 
e  deve  gritar  a  Deus  pedindo  forças.  Momento  em  que  se  revela 
a  indissolúvel  relaçâo  o  Deus-Poder  e  o  Homem-Míngua.  Mas  o 
Homem-Míngua  deve  aceitar,  pois  êsse  momento  há  de  passar  so- 
zinho.  A  graça  está  em  que  êsse  momento  passe. 

E  Dionisio  F.  Álvarez  vai.  Plana  em  plena  beatitude.  Ressuscita  do- 
cemente  no  coraçâo  da  espuma,  iluminado  como  urna  alvorada: 

ÑAU 

Ñau  que  partiste  pela  madrugada 
salpicando  de  pétalas  a  espuma, 


que  já  domaste  as  estaçôes  révoltas, 
e  chegarás  nimbada  pela  gloria 
num  cimanhá  ressuscitado  e  belo. 

(p.  29-30) 

Confirma-se  em  ILUMINAÇÂO,  onde  se  evidencia  a  insuficién- 
cia  de  tudo  o  que  é  transitorio: 

Inda  que  resplandecam  ñas  campiñas 
supérfluas  verduras  mascaradas, 


inda  que  ensaiem  harpas  cristalinas 
notas  de  exaltaçâo  exacerbadas, 


NAO  ENCHE  O  MAR  A  GÔTA  CONSEGUIDA. 

(p.  32) 

Existe  a  visao  presciente  do  fim,  da  meta:  «Montanha  abrupta, 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


81 


vertical,  selada»  (Subida  ao  Monte,  de  Sao  Joáo.  Analogia  de  verti- 
calidade  e  de  ascensáo) . 

Analogia  do  fogo: 

Rubra  fornalha,  sempre  iluminada 
com  sinistros  reflexos  de  braseiro 

(p.  35) 

Alegria  de  urna  descompressáo: 

O’  milagre  da  luz,  da  flor,  do  ninho, 
na  colmeia  da  vida  sem  alentó, 
novos  favos  de  mel  para  o  caminho. 

(p.  40) 

Oh!  essa  poesia  branca  e  precisa  de  Dionisio  F.  Alvarez,  fatal¬ 
mente  faz  o  espirito  orar! 

Como  Tu,  como  Tu,  Deus  inocente, 
a  terra  em  estertores  de  agonia 
sente  sede,  Senhor,  nesta  sombria 
tarde  sem  ar,  sem  fé,  torva  e  silente. 

Urna  sede  total,  urna  envolvente 
sêde  de  exaltaçâo  e  de  harmonia. 

Exato.  Preciso.  Dolorosamente,  angustiosamente  exato.  Preciso. 
O  caminho,  além  do  mais,  é  cansativo  e  longo: 

Um  cansaço  de  andar  e  estar  parado, 
urna  dor  de  saber  que  nao  se  sabe, 
um  antro  subterráneo  em  que  nao  cabe 
o  espirito  do  céu  precipitado. 

(p.  45) 

Há  o  despertar: 

O’  primeiro  contato  com  o  recente 
fogo  sagrado  duma  vida  alada! 

O’  possci  ardente  da  sonhada  esfera! 

Neste  signo  místico  de  alto  valor  e  significaçâo,  o  ocidente  abra- 
ça  o  oriente,  numa  identidade  de  posse  e  de  confirmaçoes  mútuas. 
Entáo  vem: 

UMBRAL 

Vejo-te  já  na  alvura  evanescente 
com  halos  de  ilibada  luz  vestida 


82 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


num  mundo  lirial,  onde  esta  vida 
abandona  figura  e  acídente. 


Vejo- te  chama  silenciosa  e  pura 
translúcida,  no  albor  duma  outra  esfera 
no  alvorecer  de  irrevelada  norma, 

sombra  já  de  tangí vel  criatura, 
fragráncia  que  o  santuário  reverbera 
INCORPÓREA  ASCENSÂO  DE  HUMANA  FORMA. 

Eis  que  respira  já  o  sobrenatural  e  a  posse.  Sente  e  apalpa  em 
verdade  a  sobrenatural  era. 

E  aqui  a  mística  ocidental  dá  um  ponto  sólido  de  repouso  após 
ingente  trabalho  de  aproximaçao  do  objeto.  A  HUMANA  FORMA. 
A  Crística  forma,  ou  a  forma  de  Maria  Máe  de  Jesus.  Exemplo  na 
maneira  de  Grignon  de  Monfort.  Reconstituir  a  personalidade  des- 
feita  (água)  pela  desbastaçâo  investigadora  ou  ascética,  na  forma 
de  Maria,  Máe  de  Jesus. 

¡Muitos  caminhos  chegam  à  fase  líquida,  mas  o  cristáo  nesta 
fase  tem  um  ponto  alto  de  repouso,  o  Cristo.  Ou,  como  expressam 
os  vienenses,  o  Arquetipo  Cristo. 

Já  navega  plenamente  no  mistério.  Agora  vai  por  atraçâo: 

Rasto:  Só  deixarás  um  rasto  luminoso 

de  poeira  estela,  quando  ás  esferas 

—  querubim  exalando  primaveras  (que  imagem  maravilhosa!) 
te  arrebatar  um  éxtase  amoroso. 

Deixarás  um  odor  silencioso, 
de  serena  saudade  de  outras  eras, 

—  espirito  exilado  entre  quimeras  — 
plenitude  do  anelo  impetuoso. 


Já  sei  que  astro  propicio  é  nossa  meta. 

Seguirei  com  ardores  de  cometa 

por  esta  via-láctea  que  deixaste.  (p.  64) 

E  deu-se  a  transmutaçâo  final.  Éste  é  o  momento  culminante  da 
sua  procura  mística 

Hypnos:  Umbral  dos  paços  do  deslumbramento. 


que  se  projeta  na  alma  adormecida. 

Onde  ó  ouro  de  lei?  Onde  a  miragem? 

E’  vida  o  sonho,  ou  será  sonho  a  vida?  (p.  70) 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


83 


Entáo  deu-se  o  milagra: 

Deflagrou  a  invisivel  labareda 
e  alteou  seu  reflexo  no  horizonte, 
de  abismo  a  abismo,  de  barranco  a  monte, 
em  lampejos  de  luz  potente  e  lêda. 


Com  o  universo  em  vibraçâo  de  pira 
ardeu  a  alma  também,  nova  e  absorta, 
e  tudo  foi  urna  inquietude  em  chama. 

Aqui  termina  a  historia  da  sua  trajetória  mística,  de  unido  e  de 
experiência.  Segue-se  a  visáo  já  transmutada  da  realidade. 

Catedral:  Com  a  aurora  despartas  transmutada. . 
observe-se  como  o  espirito  dita  as  palavras  próprias  do  seu  grau  atin¬ 
gido. 

Vesperal:  Treme  o  silêncio  que  a  pairar  flutua 
como  inconsútil  e  velada  tela 

O  clima  de  tensáo  em  que  se  moverá  daqui  por  diante,  expressa-se 
em  Tensáo: 

Um  silêncio  pe  jado  de  amarguras 
encheu  o  peito  do  trigal  maduro. 


(visáo  de  «anima»  no  sentido  Junguiano,  oposto  a  «animus») 
e  palpitou  na  sombra  um  inseguro 
escalar  de  gigantes  ás  alturas 
um  esperar  tremente  e  sem  alentó 
um  olhar  sem  sosségo,  da  amurada, 
um  constante  medir  o  meridiano, 
na  expectativa  que,  alteando  o  vento 
a  praia  se  descubra  ensolarada, 
e  tombe  enfim  o'  plúmbeo  véu  do  arcano 

E  finalmente  o  desafio  e  a  libertacáo: 

Espera: 

Sei  que  a  noite  me  envolve,  me  domina, 
circula  em  minhas  veias,  me  satura, 
ê  meu  pao  e  meu  vinho,  minha  dura 
almofada  e  amarga  medicina, 
mas  sei  que  a  luz  espera,  que  germina 


Sei  que  ao  redor  há  maos,  lábios,  acenos, 

f 

»  •  «  «  •  • 

v 

mas  eu  sou  cegó,  surdo,  incomovível, 
porque  já  apalpo  a  luz,  inda  invisivel, 
e  quem  vive  no  eterno  nao  tem  pressa. 

E  para  todo  o  sempre,  a  poesía  há  de  confinar  com  urna  forma 
de  renúncia  e  de  ascese  espiritual. 


FIXAÇÂO  DE  DUNAS 

Irinâo  Juvêncio, 

Para  quem  percorre  a  costa  rio-grandense  imagina-se  estar  num 
deserto  de  regiâo  ùrnida.  Nâo  é  um  reg  sahariano'.  Além  do  mais,, 
se  distingue  por  sua  drenagem  exorréica  e  nâo  possui  oueds.  Carac¬ 
teriza -se  pela  desigual  distribu  içâo  e  extrema  variabilidad  e  vege¬ 
tativa. 

Nâo  é  uma  simples  terra  de  tránsito,  mas  há  urna  intensa  vida 
económica  residente  na  pecuária  e  no  cultivo  do  arroz  e  da  cebóla. 
E’  um  oasis  plantado  na  restinga  de  Pernambuco.  As  tr adicionáis 
tamareíras  saharianas  sao  substituidas  pelos  gerivás  e  butiázeíros. 
Caracteriza-se  ainda  pela  ausencia  de  sebkhas  e  chotis.  A  planicie 
a  perder  de  vista,  contudo,  é  uma  perfeita  paisagem  desértica. 

Os  areiais  que  se  espalham  ao  longo  da  orla  litoránea  tomam 
aspectos  e  larguras  diversas  conforme  a  regíáo  em  que  se  locali¬ 
zan!.  As  areias  tomam  coloracoes  variadas,  passando  da  escala  cro¬ 
mática  branco-clara  a  amarelo-escuro .  Influem  neste  pormenor  a 
idade  de  cada  especie  e  a  oxidaçâo  que  suportaran!.  Quanto  à  es¬ 
pecie  sob  o  ponto  de  vísta  de  sua  formaçâo,,  podemos  distinguir 
très  tipos:  l.°  Barkhane,  duna  em  crescente  com  convexídade  do 
lado  do  vento.  2.°  Síf  simples  (siouf  no  plural),  duna  em  S  e  com 
cristas  bem  pronunciadas.  3.°  Agrupamentü  dos  siouf  em  cordoes, 
bracos,  maciços  e  cadeias. 

Do  ponto  de  vísta  de  sua  evoluçâo'  encontramos  ao  longo  da 
costa  río-grandense:  l.°  Mar  de  areias  que  sao  as  dunas  baixas  e 
inorganizadas  cuja  orlentacao  varia  após  cada  ventanía  mais  ou 
menos  forte  e  persistente.  Localizam-se  no  estiráncio.  Aquí  a  pa- 
vimentaçâo  das  praias  com  valvas  de  moluscos  e  sua  posiçâo  para 
baixo  nos  assinala  um  predominio  de  sedimentaçâo  geológica.  2.° 
Os  nebkas,  montículos  de  areia  cornados  com  tufos  de  vegetaçâo.  3.° 
A  duna  propriamente  dita,  cuja  altura  varia  conforme  a  latitude. 
Em  geral,  no  nosso  Estado,  náo  ultrapassam  10  ms.  4.°  Dunas  adel- 
gaçadas,  existentes  em  regioes  em  que  a  açào  dos  ventos  é  bas¬ 
tante  mutável  nao  permitindo  grande  ajuntamento  de  areias  num 
só  ponto,  ou  ainda  assinalando  a  fase  de  exterminio  pela  açâo  ero¬ 
siva.  5.°  Páleo-dunas  ou  árqueo-dunas,  dunas  fossilizadas  já  bastante 
interiorizadas  e  recobertas  de  ténue  ou  densa  vegetaçâo  xeromorfa. 
6.°  Dunas  rejuvenescidas,  provenientes  de  páleo-dunas  ressuscitadas 
pelo  desmatamento,  cultura  e  pastagem  intensiva.  Reiniciam  a  fase 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


85 


migratoria  após  tal  intervençâo.  De  mortas  passam  a  ser  vivas  (Conf. 
clichés:  1  e  2). 

Do  ponto  de  vista  da  direçâo  encontram-se  dunas  que  seguem 
os  quadrantes  SE,  SW,  NE  e  NW,  em  especial,  em  intima  conexâo 
corn  a  direçâo  dos  ventos.  Acham-se  freqüentemente  dunas  interio¬ 
rizadas,  paralelas  a  outras  de  que  estâo  separadas  por  gargantas  que 
tomam  direçoes,  às  vêzes,  em  contrário  aos  ventos  predominantes. 
Tal  fato  se  liga  ao  enfunilamento  das  correntes  aéreas  através  das 
gargantas  imprimindo  um  roteiro  dispar  às  dunas.  Tém  urna  decli- 
vidade  suave  do  lado'  do  vento  e  a  pique  do  lado  oposto.  Ñas  horas 
de  ventanía  suas  cristas  fumegam. 

Quanto  à  direçâo  dos  bracos  das  dunas  apresentam-se  duas  teo¬ 
rías:  Id  Podem  ser  criados  pela  erosáo  eolia.  2d  Podem  ser  resultan¬ 
tes  da  acumulaçâo  de  ventos  de  duas  direçoes  diferentes. 

Nao  escapa  ao  observador  arguto  a  linha  de  separaçâo  dunar. 
Na  base,  observa-se  o  típico  aleb  sahariano  (cordoes  de  areia  verme- 
lha)  sobrepostos  de  camadas  arouq  (areias  brancas) .  Entre  ambas 
náo  há  urna  verdadeira  separaçâo,  em  que  camadas  paralelas,  entre¬ 
cruzadas,  obliquas,  erosionadas  e  exumadas  se  entrechocam  numa 
grande  barafunda. 

Estas  dunas  podem  ter  profundidades  bastante  variadas.  Em  tor¬ 
res  e  adjacéncias  acham-se  isoladas  e  sem  grande  penetraçâo  pelo 
hinterland.  Éste  fato  pode  ligar-se  à  proximidade  da  Serra  que  náo 
permite  urna  expansáo'  eficiente  e  de  grandes  proporçoes.  Já}  entre 
Torres  e  Tramandaí,  a  faixa  se  alarga  um  pouco,  mas  náo  constituí 
sérios  entraves  à  vida  das  populaçôes.  Apenas  obstaculizam  um  tanto 
a  vida  balneária  zonal.  De  Tramandaí  para  o  Quintâo  sáo  um  pouco 
mais  largas.  Nestes  trechos  encontram-se  em  atividade  serviços  lo¬ 
cáis  de  fixaçâo  dunar.  Déste  ponto  em  diante  as  dunas  tomam  aos 
poucos  um  aspecto  um  pouco  mais  adelgaçado  até  um  pouco  ao  sul 
de  Bojuru.  O  restante  trecho  até  os  molhes  de  Rio  Grande  já  apre¬ 
senta  dunas  desérticas  em  que  as  alturas  e  a  profundidade  de  sua 
extensáo  sao  muito  maio'res.  O  trecho  de  Rio  Grande  até  a  barra  do 
arroio  Xuí  apresenta  diversas  variantes,  ora  altas,  ora  baixas  com 
rnaior  ou  menor  interiorizaçâo. 

Feita  esta  peroraçâo  esquemática  queremos  entrar  no  ponto  ne- 
vrálgico  da  questáo  de  que  ora  nos  ocupamos,  a  fixaçâo  das  dunas. 
Antes  de  tudo,  devemos  frisar  que  a  fixaçâo  dunar  se  processa  pelos 
métodos  natural  e  artificial.  O  primeiro  déstes  métodos  está  em  de¬ 
senvolvimiento  désde  milénios.  Em  perdidos  tempos  do  pleistoceno 
e  holoceno  quando  a  colmatagem  ia  tomando  conta  dos  baixios  pra- 
ieiros,  também  a  vegetaçâo  halófila,  posteriormente  o  manguezal,  a 
subxerófila,  a  das  matas  miúdas  corn  predominância  das  palmáceas 
e  a  palustre  recobriram  a  extensa  regiâo  litoránea  rio-grandense. 
Um  trabalho  lento  e  constante  formou  o  solo  que  possibilitou  éste 
desenvolvimiento  vegetativo.  Podemos,  portanto,  dividir  a  cobertura 
arbustiva  e  vegetativa  litoránea  em  5  tipos  principáis:  l.°  Algas  na 


86 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


zona  das  ressacas.  2.°  Vegetaçâo  praieira  psamófita  reduzida  e  ra- 
quitica.  3.°  Fo'rmaçôes  lacustres  em  que  se  misturam  a  halófita  e  a 
náo-halófita.  4.°  Pántanos  litorais  do  lado  das  lagunas  e  do  lado 
marítimo  com  vegetaçâo  propria  em  cada  setor.  5.°  Formaçâo  de  res¬ 
tinga  subxeróñla  e  formaçâo  de  matinhas  campestres  incluindo'  zo¬ 
nas  'em  que  predominam  as  palmáceas  (butiàzeiros  e  gerivâs). 

Em  1953,  cf.  o'  Pe.  Rambo,  conheciam-se  1072  fanerógamos  que  se 
desenvolvem  na  orla  litorânea.  Esteados  em  A.  J.  Sampaio  podemos 
verificar  a  possibilidade  do  desenvolvimento  vegetativo  na  restinga: 
«E’  claro  que  a  composiçâo  do  solo  influí  muito'  para  o  viço  da  vege¬ 
taçâo,  mas  o  estado  físico,  o  húmus  e  a  umidade  parecem  ter  maior 
influência.» 

Estas  associaçôes  arbustivas  foram  aos  poucos  e  corn  grande  per- 
sistência  tomando  conta  da  grande  restinga  de  Pernambuco  e  do 
Albardâo  desde  as  fases  incipientes  da  colmatagem  das  áreas  con¬ 
quistadas  ao  mar.  Deu-se  urna  verdadeira  enxurrada  de  formaçoes 
vegetativas  higrófilas,  xerófilas  halófilas  e  hidrófilas  ou  aquáticas. 
Náo  há  um  verdadeiro  têrmo  de  separaçâo.  Misturam-se  e  auxiliam- 
se  mútuamente  no  embate  da  sobrevivencia. 

Os  páleo-cómoros  de  areia  interiorizados  diversos  quilómetros  se 
encontram  recobertos,  na  generalidade,  por  urna  vegetaçâo  mais  po¬ 
bre,  como  cactáceas,  espinheiros  e  maceguinhas  campestres.  Com  o 
desaparecimento  desta  cobertura  protetora  éles  reiniciam  a  fase  iti¬ 
nerante  em  parte  ou  no  todo.  (Conf.  cliché,  3).  Na  opiníáo  de  A. 
R.  Lamego  o  poder  fixativo'  da  flora  desapareceu  na  zona  da  pla¬ 
nicie  interna  do  Albardâo.  Em  conseqüéncia  déste  fato  as  dunas  mar- 
cham  atualmente  corn  mais  veeméncia  para  o  interior  avassalando 
zonas  de  boas  pastagens.  Nâo  houve  mudança  do  solo',  permanece  o 
mesmo  tipo  de  areia,  apenas  estacionou  a  expansáo  fitogeográfica 
que  nâo  mais  conseguiu  galgar  o  cómoro,  dominá-ló  e  fixá-lo.  Estáo 
ai  vegetáis  que  desciam  do  interior  em  marcha  sobre  o  mar  que 
se  encontram  quais  vanguardas  isolados  ostentando  troncos  vigoro¬ 
sos,  hóje  com  urna  ramagem  entesada  e  em  lenta  fase  de  extinçâo. 
A  éste  respeito  Alberto  Sampaio  declara:  «A  diferenciaçâo  mais  re¬ 
cente  dos  climas  teria  provocado  o  aparecimento  de  tipos  novos, 
adaptados  a  condiçoes  mais  secas,  de  um  lado,  mais  frías  de  outro.» 
E’  ó  ciclo  morfobiótico  das  dunas  corn  séria  intromissâo  climática. 
Em  seu  «Curso  de  Botánica,  Alberto  Sampaio  apresenta  4  biótipos 
das  associaçoes  florísticas  do  cómoro:  «l.°  Biótipo  graminóide,  na 
rampa  da  praia.  2.°  Biótipo  herbáceo.  3.°  Biótipo  crassicante  repre¬ 
sentado  por  cactáceas.  4.Ô  Biótipo  lenhoso',  as  árvores  da  restinga 
até  o  interior.»  Esta  sucessâo  nâo  se  precisa  em  todas  as  partes.  Há 
interpenetraçoes. 

A  fixaçâo  dunar  artificial  restrínge-se  a  certas  áreas.  Vamos 
encontrá-la  em  Capáo  da  Canoa,  Tramandaí  e  Pínhal  mui  esparsa- 
mente.  Tais  trabalhos,  nessas  áreas,  sáo  recentes.  Na  generalidade, 
consiste  em  anteparos  e  taipas  de  juncos  ou  colmos  de  milho  que 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


87 


sao  fixos  nas  cristas  das  dunas  para  impedir  o  avanço  das  areias. 
Outra  modalidade  é  ainda,  nessa  área,  a  plantaçâo  de  determinados 
vegetáis  xerófilos  e  halófilos  de  radiculaçâo  intensa  que  possa  en¬ 
frentar  a  mesologia  adversa  e  vegetar  sobre  ós  cômoros  ardentes. 
Em  parte,  as  mudas  sao  plantadas  pelo  Serviço  de  Proteçâo  e  Fixa- 
cáo  das  Dunas  e}  em  parte,  pelos  particulares  que  recebem  gratui¬ 
tamente  as  mudas  daquele  Serviço.  A  açâo  dos  particulares  restrin- 
ge-se  a  gramear  e  arborizar  a  própria  propriedade.  Ao  passo  que 
a  supervisan  do  SFD  se  restringe  ás  zonas  adjacentes  aos  balneários. 
Além  do  mais  nao  é  urna  açâo  constante  para  subjugar  o  avanço  das 
areias.  Podemos  aquilatar  por  ai  que  nesta  zona  Nordeste  e  Central 
do  litoral  rio-grendense  o  SFD  tem  apenas  a  nobre  finalidade  de 
proteçâo  dos  balneários  e  náo  propiamente  a  fixaçâo  definitiva. 

Na  praia  de  S.  José  do  Norte,  fronteiriço  à  séde  municipal,  e 
na  praia  do  Rio  Grande,  dos  molhes  ao  Cassino,  vamos  encontrar 
de  fato  urna  perfeita  organizaçâo  do  SFD.  Apesar  de  náo  ser  muito 
antiga  sua  fundaçâo,  já  funcionava  ai  em  fase  experimental  quando 
a  Compagnie  Française  du  Port  de  1908  a  1915  construiu  os  molhes 
de  Rio  Grande.  Posteriormente,  tendo  sido  incorporados  à  Uniâo  a 
obra  dos  molhes  e  canal  e  ao'  Govêrno  Estadual  as  obras  do  porto 
de  Rio  Grande,  aquêle  SFD  também  passou  ao  Govêrno  Estadual 
que  nâo  o  vitalizou  corn  suficiência.  Apenas  um  par  de  anos  para 
esta  data  tomou  uma  verdadeira  estrutura.  Ho  je  é  subordinado  à 
Secçâo  de  Dragagem.  Consta  de  dois  setores:  o  Viveiro  da  Barra  e 
o  Viveiro  de  S.  José  do  Norte.  As  antigas  instalacóes  existentes 
junto  ao  Porto  de  Rio  Grande  foram  transferidas  para  a  Barra  em 
1955.  A  Sede  está  na  Barra. 

A’  direita  da  estaçâo  do  «Trenzinho  do  Amor»,  como  é  apelidado 
em  Rio  Grande  o  trem  Rio  Grande-Molhes,  encontra-se  o  Viveiro  da 
Barra  ou  4 J  Secçâo.  Encontramos  ai  mudas  de  cedros-marítimos, 
acácia,  marítima,  lomba-verde,  eucalitos,  etc.  Sua  área  é  de  108m 
sobre  a  linha  férrea,  232m70  do  lado  leste  e  283m45  do  lado  oeste. 
Dispunha  de  15.000  mudas  de  eucalitos  e  18.500  de  acácia,  em  agosto 
de  1955.  Constantes  invasoes  e  estragos  causados  pelos  turistas  obri- 
gou  a  direçâo  do  SFD  a  destacar  um  policiamento  de  proteçâo.  O 
setor  da  4.-  Secçâo  abrange  a  margena  oeste  do  Canal  do  Norte  e 
da  orla  marítima  entre  a  raiz  dos  molhes  e  a  praia  do  Cassino. 

O  Viveiro  de  S.  José  do  Norte  ou  5.-  Secçâo  plantou  até  agosto 
de  1955,  45.114  acácias  trinervadas,  replantou  18.814  e  transplantou 
16.852  e  construiu  1.650m  de  tapume  para  atacar  as  areias.  Havia 
naquela  data  30.000  mudas  em  latas  e  200.000  nos  canteiros.  Depois 
de  uma  área  de  1.650m.  Localiza-se  no  final  da  Avenida  que  parte 
do  porto  local. 

As  funçôes  do  SFD  podem-se  resumir  nos  itens  que  seguem:  l.° 
Semear,  transplantar  e  fazer  mudas.  2.°  Fazer  caixas  para  as  mudas. 
3.°  Preparar  o  terreno  pela  lavra  ou  adubagem.  4.°  Plantar  e  replan¬ 
tar.  5.°  Fazer  cercas  ou  tapumes.  6.°  Manter  vigiláncia  sobre  plan- 


88 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


taçoes.  7.°  Estudar  plantas  fixadoras.  8.°  Conservaçao  do  material. 
9.°  Executar  obras  correlatas. 

Após  sérias  experiências  sobre  variados  tipos  de  plantas  fixa¬ 
doras  chegou  a  um  resultado’  satisf  atório .  Entre  os  estudiosos  do 
assunto  podemos  alinhar  como  membres  destacados  Corthell,  Caland, 
Bicalho  e  muitos  outros  investigadores.  Hoje,  usam-se  corn  pleno 
sucesso  os  espécimens  infra  relacionados: 

A.  Na  fixaçâo:  l.°  Lcmba-verde  (tessaria  absinthoides),  planta 
que  cresce  ereta,  emite  raizes  horizontais  que  se  ramificam,  nâo  se 
desenvolvendo  em  terrenos  alagados.  Farta  folhagem  no  tôpo  de  um 
caule:  esguio  em  vara.  Fôlhas  estreitas  e  lanceoladas.  Plantado  por 
meio  de  estacas  de  cêrca  de  50cm.  Atinge  2m50  a  3m  de  altura.  Usada 
em  terrenos  baixos  por  requerer  boa  umidade  para  seu  desenvolvi¬ 
miento.  Espraia  as  raizes  superficialmente  e  délas  brotam  novos  re- 
bentos,  bem  longe  da  raiz  principal  ou  da  planta-máe.  Assim,  seu 
crescimento  rápido,  em  po’uco  tempo  cobre  grandes  áreas,  supor¬ 
tando  areia  e  vento.  Seria  a  vegetacáo  indicada  para  estas  imensas 
paragens  inóspitas.  Apesar  de  satisf azer  plenamente  os  requisitos 
desta  regiáo,  seu  cultivo  foi  abandonado  por  serem  seus  brotos  co- 
biçados  pelo  gado.  Somente  po’derá  ser  utilizado  em  áreas  sem  pas- 
toreio. 

2. °  Cedro-marítimo  (Tamarix  Galica),  arbustiva  e  ornamental. 
Desenvolve-se  nas  areias  e  alagados.  Multiplica-se  por  estacas.  De- 
senvolvimento  lento.  E’  resistente,  sobria  e  de  fácil  adaptaçâo  a 
quaisquer  condiçoes  do  solo.  E’  planta  euro'péia  e  introduzida  no 
Rio  Grande  por  embarcadlos,  por  volta  de  1860.  Bicalho  provocou 
sua  difusâo  e  expansâo.  Lança  raizes  em  forma  de  pivot  que  alean - 
eam  boas  profundidades.  E’  usado'  com  grande  éxito  em  ambos  vi- 
veiros.  Batalhador  invicto  contra  a  furia  avassaladora  das  areias. 
Nécessita  apenas  um  pequeño  amparo  em  sua  juventude  contra  as 
pragas  que  procuram  extirpá-lo. 

3. °  Acácía  Trinervis  (Acacia  longifol'ia)  (Conf.  cliché,  4).  Intro¬ 
duzida  do  Uruguai  onde  está  sendo  empregada  corn  grandes  resul¬ 
tados  há  mais  tempo.  Porte  regular,  boa  copada  com  4  a  6m.  Serve 
de  anteparo  contra  o  vento.  E’  a  planta  que  está  sendo  mais  em¬ 
pregada  atualmente.  Desenvolve-se  fácilmente  ñas  areias.  Radícula- 
çâo  densa,  de  grande  penetrabilidade  e  dístensao  lateral  do  manto 
radicular.  Resumindo  as  vantagens  da  adocáo  desta  planta,  por  ex- 
celéncia  para  as  regióes  xerófilas  e  empregada  para  combaten  a  ero- 
sao  superficial,  podemos  atribuir-Ihe  os  atributos  seguintes:  1.  Ele¬ 
vada  produçâo  de  sementes  ou  propágulos.  2.  Alto  poder  germina¬ 
tivo.  3.  Alta  vitalid'ade  geral.  4.  Sistema  radicular  forte  e  disperso. 
5.  Densa  cobertura  do  solo.  6.  Assenhoreamento  rápido  do  terreno. 
7.  Desenvolvimiento  geral  rápido.  8.  Cobertura  permanente  da  área 
ocupada.  9.  Resisténcia  ás  fortes  insolaçoes.  10.  Resísténcia  ao  vento. 
11.  Resisténcia  ao  soterramiento  pelo  pó. 

B  No  Florestamento.  —  Náo  basta  fixar  as  areias,  mas  precisa- 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


89 


se  completar  a  obra  pelo  florestamento  para  impedir  futuros  reiní- 
cios  dos  avanços  dunares.  Ao  arquitetar  este  planejamento  apoiamo- 
nos  na  abalizada  palavra  de  Rawitscher:  «A  falta  de  fertilidade  nâo 
impede  o  ref lorestamento .  Para  salvar  os  solos  e  reequilibrar  as  pre- 
cipitaçoes  o  único  remedio  parece-nos  consistir  na  arborizaçâo  dos 
campos.»  Dentre  os  tipos  mais  empregados  citam-se  em  1.*  plana: 

a)  Os  eucalitos  em  capóes  densos  e  fechados  para  madeira  ou  em 
capo'netes  isolados  servindo  de  abrigo  à  pecuária.  Das  500  espécies 
determinadas  estáo  em  uso  grande  número  délas,  b)  Pinheiro  marí¬ 
timo,  árvore  tradicional  na  Gasconha,  Landes  e  regioes  de  inundaçoes 
arenáreas.  Esta  conifera  foi  introduzida  entre  nos  pela  Compagnie 
Française  du  Port,  c)  Adamos,  em  trechos  miúdos,  para  sombra  e 
lenha. 

C.  Na  Ornamentaçâo.  —  Aqui  as  espécies  variam  com  o'  gôsto 
das  pessoas.  Já  se  restringe  mais  à  açâo  dos  particulares  no  enfei- 
tar  a  fachada  e  adjacências  dos  terrenos.  Já  na  ornamentaçâo  pú¬ 
blica  de  alamêdas,  praças,  jardins,  logradouros  públicos,  notamos  o 
cinamomo,  o'  flamboyant,  o  jacarandá,  a  timbaúva,  o  coque iro  e 
outros. 

O  método  de  fixaçâo  das  dunas  mais  em  uso  é  o  de  Alexandre 
Míroli  que  resumimos  nos  itens: 

a)  Arrasar  a  crista  do  medáo,  fazendo-a  plana  a  fim  de  ate¬ 
nuar  a  açâo  do  vento.  O  Comoro'  assim  náo  «fumega»,  fenómeno  que 
se  observa  na  crista  da  duna  em  dias  de  vento  intenso  em  que  o 
transporte  de  areia  é  muito  grande.  Éste  aplainamento  impede  e 
mesmo  anula  a  açâo  eolia  e  favorece  as  vegetaçôes  dunicolares. 

b)  Plantar  sobre  o  Comoro  arrasado,  estacas  de  álamo'  italiano, 
eqüidistante  de  lm.  Podem-se  empregar  também  outras  madeiras. 

c)  Podar  as  árvores  nos  tres  primeiros  anos,  para  que  o  tronco 
suba  ereto,  elevando-se  mais,  para  melhor  aproveitamento  indus¬ 
trial  da  árvore,  no  futuro. 

Míroli  experimentou  seu  método  em  1S06  em  Córdoba,  na  Argen¬ 
tina,  em  dunas  de  10  a  15  m.  com  resultados  positivos. 

Além  do  mais,  sáo  usados  com  éxito  os  renques  de  árvores 
para  impedir  a  açâo  desagregadora  dos  ventos  no  transporte  das 
areias.  Constituem  os  quebra- ventos,  de  emprégo  muito  comum  nos 
países  de  ventos  dominantes  e  nefastos  ás  culturas.  Além  do  mais, 
poderâo  servir  de  incitamento  ao  combate  as  vo'ssorocas.  Tais  filas 
externas  ou  de  barlavento  sáo  em  uso  também  na  proteçâo  aos  vivei- 
ros,  tanto  para  defendé-los  das  ardéncias  solares  como  das  fortes 
rajadas  de  vento  que  ressecam  solo  e  desenraízam  as  tenras  planti- 
nhas.  Empregam-se  corn  mais  vantagem  as  espécies  folhosas  com¬ 
pactas  e  de  pouca  filtragem  das  correntes  aéreas,  tais  dentrû  as  co¬ 
niferas  os  cipretes.  Outros  tipos  de  copas  mais  largas  e  abertas  sáo 
plantados  corn  maiores  espaçamentos.  Na  fase  do  plantío  usam-se 
jacàzinho's  ou  latinhas  para  conservar  a  umidade  e  manter  em  torno 
do  raizame  urna  térra  fofa  e  fértil.  Na  fase  do  crescimento  e  do  de- 


9a 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


senvolvimento  nao  se  deve  desbastar  o  arvoredo  como  se  costuma 
fazer  corn  outras  especies  arbóreas  e  em  outros  climas  e  solos.  Os 
claros,  no  caso  presente,  sonriente  poderiam  ser  um  auxiliar  para  fo¬ 
mentar  a  erosâo  e  o  avanço  arenáreo.  Na  época  do  corte  terá  que 
se  agir  com  inteligencia,  derrubandó  carreiras  em  faixas  intercaladas 
para  ter  sempre  urna  cobertura  vegetativa.  Quando  a  primeira  der- 
rubada  estiver  desenvolvida  poder-se-á  fazer  o  corte  das  outras  car¬ 
reiras  intermediárias.  E  assim  por  diante.  Em  zonas  mais  interio¬ 
rizadas  far-se-á  o  florestamento  de  especies  lenhosas  e  de  indus- 
trializaçâo. 

Dentre  as  vantagens  que  oíerecem  as  culturas  de  cobertura  as- 
sinalam-se: 

1.  Reduznn  o'  deflúvio,  e  assim,  conservam  a  umídade. 

2.  Impedem  a  erosâo  desmedida  do  solo. 

3.  Melhoram  as  condiçoes  físicas  do  solo,  pelo  incremento  no 
teor  de  materias  orgánicas. 

4.  Impedem  a  lixiviaçâo  de  elementos  nutritivos  díspo'níveis. 

5.  Enterradas,  originam  ácidos  orgánicos  ou  outros  compostosv 
que  contribuem  para  a  libertaçâo  de  elementos  nutritivos 
minerais. 

A  seguir  historiaremos,  aínda  que  em  leves  traços,  a  atuaçâo 
e  fases  por  que  passou  o  SFD.  No  decreto  n.°  5.979  de  18-4-1906 
aprovando  o  contrato  com  Elmer  Lawrence  Corthell  e  assinado  em 
12-9-1906  para  a  construçâo  da  Barra  e  Porto  do  Rió  Grande,  cons- 
tava  um  item  «fazer  e  conservar,  na  costa  leste  da  embocadura  do 
Canal  Norte,  as  plantaçoes  necessárias  para  evitar  que  as  areias 
vindas  pela  costa,  se  lancem  no  canal  marítimo.» 

Nos  escritos  legados  por  Pieter  Caland  nota-se  a  mesma  ínsis- 
téneia  em  se  plantar  árvores  nos  dois  lados  do  Canal  para  deter  o 
avanço  das  areias  e  impedir  o  entulhamento  do  canal. 

Em  1891  existia  um  serviço  de  fixaçâo  das  areias  nos  cómoros 
a  SO  e  NE  da  Barra.  Experimentaram-se  entáo  muítos  tipos  de  plan¬ 
tas  com  altas  e  baixas  nos  resultados. 

A  introduçâo  do  cedro  marítimo  foi  difícil.  O  meio  hostil  nao 
permitía  seu  desenvolvimento .  Ja  em  1860  na  5d  Secçâo  havia  plan¬ 
taçoes  de  cedro.  De  inicio  for  am  plantadas  de  galho  cerca  de  40.000 
mudas  numa  área  de  265.000  m2. 

A  lomba -verde  foi  experimentada  desde  1893.  Seguir  am-se  vários 
fracassos.  De  inicio  plantavam-na  em  zonas  baixas,  alagadas  perió¬ 
dicamente,  e  de  areias  compactas.  Os  resultados  eram  mesquinhos. 
Corn  a  mudança  de  tática,  corrigindo  erros  anteriores,  localizando  as 
plantaçoes  em  terrenos  altos  e  de  areias  movediças  úmídas  resul- 
taram  éxitos  compensadores.  ET  a  planta  sahariana  do  Rio  Grande 
do  SuL  Sua  denomînaçao  deriva-se  da  ecología  em  que  se  encontrar 
Crescia  com  grande  exuberancia  nos  espigoes  de  urna  lomba,  ao 
sul  da  barra,  e  por  isso,  seu  epíteto  popular  «lomba -verde».  E*  au- 
tóctone. 


1  —  No  dominio  das  du¬ 
nas  adelgazadas  ergue-se 
o  farol  da  Solidan.  Re- 
giáo  despovoada.  No  1.? 
plano  tufos  de  vegetaçâo 
praieira. 


2  —  Vegetaçâo  nimia  de- 
pressáo  do  terreno  em 
Capáo  Comprido,  reco- 
brindo  completamente 
antigas  dunas.  No  fun¬ 
do  a  lagoa  do  Peixe. 


3  —  Formaçôes  palmᬠ
ceas  (butiázeiros)  que  se 
estendem  ao  sul  de  Pal¬ 
mares  donde  a  denomi- 
naçâo  daqueïe  acampa¬ 
mento  humano.  Apresen- 
tam  troncos  robustos  ao 
passo  que  a  copa  é  ente¬ 
sada,  sinal  evidente  du- 
ma  mudanza  climática. 


4  —  Acacia  marítima  os¬ 
tentando  seu  íarto  raiza¬ 
nte  táo  propicio  à  fixaçâo 
dos  cômoros  de  areia, 
Sâo  José  do  Norte. 


5  —  No  I.?  plano  a  acacia 
marítima  no  assenborea- 
ünerto  dunar.  No  2.9,  ta- 
pume  para  fixaçâo  ten- 
do  a  cavaleiro  urna  plan¬ 
tado  de  encantos.  Arre¬ 
dores  de  Sao  José  do 
Norte. 


G  —  Influencia  das  lesta- 
das  sobre  a  vegetaçâo, 
era  Soîidâo.  No  1.9  plano 
cobertura  graminácea  em 
sua  fase  incipiente. 


Nota  —  Todas  as  fotos 
aquí  apresentadas  sao 
obra  do  Ir.  Juvéncio. 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


91 


Metódicamente  foi  iniciado  o  SFD  em  outubro  de  1919.  Já  em 
1920  foi  começada  a  retençâo  das  areias  junto  ao  mar  e  no  Canal 
do  Norte  no  enraizamento  do  molhe  oeste.  Ao  mesmo  tempo  princi- 
pia-se  o  trabalho  de  fixaçâo  no  lado  leste  do  Canal  do  Norte,  junto 
ao  enraizamento  do  molhe  e  na  zona  da  2d  Secçâo  (perto  do  Saco 
da  Mangueira). 

Com  trabalhos  metódicos  e  persistentes  havia-se  dominado  a  fase 
itinerante  arenárea  na  5.-  Secçâo. 

Por  volta  de  1922,  atacam-se  as  construçoes  das  anti- dunas,  ao 
sul  e  norte  da  Barra  para  deter  a  invasáo  das  marés  altas  e  das 
areias. 

Em  1943,  em  plena  guerra,  com  o  flm  de  proteger  a  estrada  do 
Petrónio  (desde  o  Cocuruto  até  um  quartel  provisorio  num  capao 
de  aucalito  da  5d  Secçao  próximo  à  praia),  onde  se  instalaram  pegas 
de  eucalito  da  5d  Secçâo  próximo  à  praia),  onde  se  instalaram  pegas 
Inicia-se  éste  trabalho. 

Criado  o  Departamento  Estadual  de  Portos,  Rios  e  Canais,  pela 
Lei  1.561  de  1-10-1951,  foi  aprovado  pelo  Decreto  3.085  de  26-7-1952 
o  seu  Regulamento  com  a  atribuiçâo  anexa  de  «executar  os  SFD.» 

Sua  fôlha  de  serviços,  apesar  do  mínimo  restrito  de  operários 
é  elevado.  As  plantaçoes  junto  ao  molhe  oeste-Cassino  sâo  antigas. 
Dos  6.200  ms.  de  f rente  corn  150  a  200  ms.  de  fundo  (zona  de  loca- 
lizaçâo  dos  cômoros)  os  primeiros  5.000  ms.  sâo  ocupados  por  50.000 
pés  de  cedro  marítimo  de  uns  25  a  35  anos;  no  trecho  restante  de 
1.200  ms.  há  uns  50.000  pés  de  acácia  trinervis  ou  longifolia  de  6 
a  8  anos.  Sáo  dunas  semi-fixas.  Notam-se  apenas  pequeñas  modi- 
ficaçoes  itinerantes  das  cristas  sobre  a  mesma  faixa,  sem  haver 
no  vos  avanços  para  a  zona  do  interior  que  é  um  brejal  ocupado 
■por  juncos. 

Na  2.-  Secçâo,  a  uns  700  ms.  da  ponte  do  Saco  da  Mangueira 
eomeça  um  mato  de  eucalitos  e  pinheiros  marítimos.  Sâo'  100.000 
pés  de  25  a  30  anos  com  urna  extensáo  de  6.000  ms.  por  150  ms.  de 
largura.  Do  outro  lado  dos  trilhos  do  «Trenzinho  do  Amor»  há  urna 
extensáo  de  dunas  semi-fixadas  por  cedros  marítimos.  Há  pequeños 
cômoros  de  cá  e  de  lá  a  serem  fixados.  Essas  dunas  entre  a  4.*  Secçâo 
Velha  e  Nova  se  movern  na  direçâo  leste-oeste  com  83  ms.  anuais. 
-Na  beirada  do  litoral  do  Canal  se  colocaram  grandes  quantidades  de 
pedras  para  fixar  o  leito  da  estrada  de  ferro,  impedir  novas  forma- 
çôes  de  dunas  com  as  areias  projetadas  pelas  águas  do  canal  e  im¬ 
pedir  a  erosáo  lateral  pelas  águas  fluviais.  FormaçÔes  arenícolas, 
aqui  e  acolá,  realizaram  bom  trabalho  de  fixaçâo  natural. 

Na  5.*  Secçâo  (molhe  leste)  desde  1953  a  1955  o  Comoro  de  areia 
avançou  50  ms.  enchendo  a  linha  com  areia  e  ameaçando  as  casas. 
Em  diversos  pontos  as  areias  estâo  avançando.  A  velocidade  de  des- 
locamento  das  mesmas  é  igual  a  167  ms.  por  ano.  Construíram-se 
anti-dunas  que  as  retiveram. 

Os  medoes  do  lado  leste,  como  no  oeste,  progridem  na  direçâo 


92 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


NE-SO  ou  L-O  e  as  areias  de  leste  sâo  um  grave  perigo  para  o 
Canal  do  Norte.  As  dunas  errantes  sa  estendem  de  S.  José  do  Norte 

. _  Cocuruto  e  5.*  Secçâo.  Nesta  margem  do  Canal  em  dias  de  fortes 

lestadas  ou  nordestadas  a  linha  férrea  fica  coberta  numa  extensâo  de 
7  kms.  pelas  areias. 

Em  S.  José  do  Norte  duas  anti- dunas,  nos  fundos  do  atual  viveiro 
de  considerável  extensâo  estâo  sendo  fixados  com  o  plantío  de  acá- 
cia  trinervis.  O  viveiro  desde  1943  contém  as  dunas  que  ameaçavam 
devorar  a  cidade.  Há  pequeños  bosques  de  pinheiro  marítimo,  de 
acácia,  de  eucalitos  junto  à  estrada  construida  pelo  Exército  durante 
a  guerra.  A  duna  que  ameaçava  a  igreja  e  a  Prefeitura  foi  vencida. 
Os  cômoros  fixos  envolveram  um  eucalital  até  7  ms.  de  altura. 

Num  período  de  20  a  25  anos,  na  frente1  entre  a  5d  Cecçâo  e  a 
Ponta  dos  Pescadores,  houve  sensivel  deposiçâo'  de  areias  e  vasas,  fi- 
cando  em  seco  um  antigo  trapiche.  Aínda  as  areias  invadiram  a  li¬ 
nha  férrea  5.-  Secçâo-Cocuruto. 

Para  proteger  o  canal  deve-se  lançar  mao  da  anti-duna.  Hagen 
lançou  a  anti-duna  de  maneira  técnica  e  metódica  para  deter  a  duna. 

A  contra-duna  é  o  meio  para  fornecer  às  raízes  das  plantas 
posibilidades  para  o  ataque  (Conf.  cliché,  5).  Faz-se  urna  cêrca  de 
chamico  e  vîmes,  suficientemente  forte  para  que  o  vento  nâo  a 
derrube,  mas  ao  mesmo  tempo  filtrável  para  deixar  passar  as  areias. 
Estas  se  fixam  em  ambos  os  lados,  formam  baluartes,  enterram  cer¬ 
cas.  De-pois  ergue-se  no  cimo  desta  cumiada  novo  tapume,  o  quai 
nâo  demora  a  submergir-se  como  a  anterior.  Continua-se  o  mesmo 
processo  até  que  as  areias  impossibilitadas  de  transpor  a  crista  se 
fixem  nas  ladeiras.  Está  vencida  a  duna.  Iniciada  entâo  a  fase  da 
vegetaçâo. 

A  açâo  do  medâo  nâo  dominado  sería  um  perigo  quadrupulo: 
paisagística  e  esfacelamento  económico  da  regiâo  atingida, 
ruina  das  instalaçoes  humanas,  subversâo  climática,  modificaçâo 

Os  materials  empregados  sâo  bastante  variados  conforme  a  me- 
sologia.  Tenho  visto  o  uso  de  moiróes  de  álamo,  eucalíto,  estacas  de 
pinho,  maricà,  etc.  ligados  por  3  ou  4  fios  de  arame.  Enfiam  neste 
aramado  capim  de  junco,  faxina,  haste  de  milho,  sapé,  grama,  paus, 
etc.  Em  alguns  tratos,  como  S.  José  do  Norte,  na  base  desta  cêrca 
plantam  gravatás  do  mato.  Êstes  trabalhos  sao  realizados  em  pe¬ 
ríodos  sêcos. 

O  replantio  das  sementeiras  para  latas  e  para  a  fixaçâo'  do  solo 
é  feita  sômente  no  período  úmido.  Procuram  para  esta  f inalidade 
as  baixadas  úmidas  e  abrigadas. 

A  proteçâo  contra  a  duna  é  urna  luta  de  muitos  povos.  Os  ho¬ 
landeses,  cu  jo  pais  é  dos  mais  castigados  pelo  mar  e  areias  vence- 
ram-nas  corn  os  pinheiros,  plantas  rasteiras  e  outros  processes.  Pa¬ 
ra  impedir  o  constante  progresse  e  invasâo  praieira  das  areias  os 
engenheiros  holandeses  construirán!  diques  sobre  a  linha-  da  maré- 
alta.  Êsses  parapeitos  ou  anteparos,  cuidados  por  turmas  de  conser- 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


93 


vaçâo,  servem  de  parachoque  em  favor  da  vegetaçâo  que  fixou  os 
morrotes  de  areias  movéis.  Essa  trincheira  artificial  denomina-se 
«duna  litoral.»  Já  220  kms.  das  costas  francesas  e  toda  costa  holan¬ 
desa  e  belga  é  defendida  por  ela. 

A  ante-duna  Molhes-Cassino  tem  as  características:  1.  Alinha- 
mento  regular,  esposando  a  direçâo'  da  costa.  2.  Situaçâo  longitudi¬ 
nal  fora  do  alcance  das  ondas  que  poderiam  danificá-la  e  nao  tanto 
afastada,  portanto,  nâo  fugindo.  à  sua  finalidade  de  proteger  a  pro¬ 
pria  praia.  3.  Linha  do  coroamento  aproximadamente  horizontal. 

Na  5d  Secçâo  deve-se  lançar  urna  anti-duna  para  a  fixaçâo  das 
dunas  praieiras  e  errantes. 

Na  costa  do  Rio  Grande  do  Sul  os  ventos  NE  e  SE  têm  freqüén- 
cia  de  34%  e  17%  respectivamente,  conforme  os  dados  de  1933  a  1942 
e  o  transporte  da  areia  corn  direçâo  NE -SO  e  E-O 

Do  lado  da  lagoa  dos  Patos,  desde  S.  José  do  Norte  até  Bojuru 
há  urna  verdadeira  cadeia  de  cómoros  prestes  a  penetrar  ñas  águas 
da  lagoa  (Conf.  cliché,  6).  Grandes  tratos  da  mesma  já  possuem 
atualmente  baixios  enormes  que  tendem  a  estrangular  a  navegaçâo' 
interior.  Verdadeiros  pontais  quais  enormes  pinças,  construidos  pela 
colmatagem  das  areias  e  dos  sedimentos  fluviais,  avançam  para  o 
centro  da  lagoa  e  obrigam  os  poderes  públicos  a  manter  constantes 
obras  de  dragagem.  As  ilhas  fronteiriças  de  Rio  Grande  também 
sao  completamente  dominadas  na  sua  parte  central  pelos  medoes 
arenáreos.  Tais  fatos  nao  se  acentuavam  tanto  em  tempos  idos.  Faz- 
se  mister  um  trabalho  de  conjunto  e  de  envergadura  para  recon¬ 
quistar  estes  terrenos  de  primeira  gema  com  risco  de  ver  maiores  tre¬ 
chos  engolidos  pelo  avanço  lento  e  seguro  do  elemento  desértico. 
Sámente  um  trabalho  planejado  e  executado  com  tino  e  com  as  téc¬ 
nicas  modernas  poderá  salvar  vastas  zonas,  como  a  do  Estreito  que  já 
foi  o  celeiro  de  Rio  Grande,  prestes  a  desaparecerem  para  a  economía 
eoletiva. 


BIBLIOGRAFIA 

Planicie  litorânea,  J.  J.  Bigardía  —  Bol.  Geo.  out.  1947  n.°  55;  Rio 
Grande,  Fortunato  Pimentel;  O  Rio  Grande  do  Sul,  W.  H.  Harnisch; 
O  homem  e  a  restinga,  A.  R.  Lamego;  Relatório  do'  SFD,  J.  Cavalcan- 
te  Fo.;  A  fisionomía  do  RGS,  Pe.  Rambo;  Les  aspects  du  Sahara, 
La  Nature  n.°  2.785  maio  1928;  Le  Sahara  Français,  Robert-Capot- 
Rey;  O  aspecto  fitogeográfico  atual  do  Paraná,  R.  Maack  1953,  Ma¬ 
nual  de  conservaçâo  do  solo,  TC  284;  Consideraçoes  sobre  Mimosa 
púdica  no  combate  à  erosáo  superficial,  A.  F.  Coimbra  F.  A.  Mag- 
nanini;  Campo  ou  mato,  Zygmunt  Wieliczka  1953. 


BIBLIOGRAFIA 


Ricciotti  (Giuseppe)  —  Pablo  Ai  óstol  —  Biografía 
—  Introducción  crítica  —  Traduçâo  do  italiano  por  Xavier 
Zurbini.  550  páginas.  Editorial  Conmar  —  Madrid,  1950, 

Ricciotti  profundo  conhecedor  do  mundo  palestínense,  do  mundo 
árabe-oriental,  escreve  urna  verdadeira  biografía  de  Sao  Paulo.  Ve¬ 
mos  o  Santo  pregando  aos  judeus,  aos  pagaos,  aos  antioquenhos,  aos 
gregos,  aos  romanos,  aos  hispánicos.  E’  o  apóstolo  das  gentes.  O 
autor  nos  leva  pelos  difíceis  caminhós  das  viagens  apostólicas  pau¬ 
linas.  Na  companhia  de  Paulo  conhecemos  povos  e  civilizaçoes  orien¬ 
tais.  O  trabalho  de  Ricciotti  é  o  trabalho  científico  do  verdadeiro 
historiador  e  do  exegeta  atilado.  Documentos  antigos  sáo  vistos  a- 
ravés  de  acurada  crítica  e  só  admitidos  quando  reconhecídamente 
irrefutáveis .  Além  do  estudo  da  vida,  trabalho  e  soflámen  tos  de 
Paulo,  Ricciotti  nos  leva  ao  estudo  do  epistolário  paulino.  Estudo 
sério  dos  textos  através  dos  pergaminhos  gregos,  sirios  e  latinos. 

Numa  palavra,  o  livro  de  Pablo'  Apóstol  é  um  grande  livro  que 
nos  dá  a  conhecer  a  grande  vida  do  Grande  Apóstolo. 

O  estudo  de  Sao  Paulo  se  torna  cada  vez  mais  necessário  em 
nossos  dias  pois  queremos  arquitetar  um  mundo  melhor  e  esta 
obra  só  é  póssível  imitando  a  Cristo,  vívertdo  como  Cristo,  vívendo 
como  Paulo. 


A.  Kriekemans  —  Préparation  au  mariage  et  à  la  famille  —  1957 


Casterman  —  Tournai  —  Paris, 

Livro  traduzido  do  flamengû  para  o  francés  por  Cécile  Seresia 
—  218  páginas, 

Conhecemos  pessoalmente  o  Prof.  Albert  Kriekemans,  da  Univer- 
sidade  de  Lovaina,  que  estêve  entre  nós  no  lembrado  curso  de  Psi¬ 
cología  em  agosto  de  1957.  Agora  visita-nos  corn  um  livro  que  nos 
instruí  sobre  o  casamento  e  a  vida  da  familia.  Profunda  psicología 
do  sexo  e  do  amor.  Páginas  seguras  de  orientaçâo  para  a  nossa 
juventude  e  nossos  lares. 

O  livro  tem  dois  grandes  capítulos.  O  primeiro  capítulo  —  in- 
titula-se:  La  préparation  au  Mariage.  Divide-se  em  subcapítulos  que 
só  o  seu  enunciado'  nos  dá  idéia  clara  da  materia:  Une  compréhension. 


PONT.  UNIV.  CAT.  DO  R.  G.  S. 


95 


de  la  psychologie  des  sexes.  Une  éducation  sexuelle  sérieuse.  Une 
juste  notion  et  une  expérience  conséquente  de  l’amour  dans  le  ma¬ 
riage.  Un  choix  et  des  rapports  judicieux.  Capítulo  II:  L’éducation 
fonctionnelle  par  la  famille  et  le  structure  familiale.  No  segundo 
capítulo  encontram-se  subtítulos  como:  «L’entente  conjugale  ou  le 
mariage  parfait  et  inparfait.  La  tâche  du  père.  La  tâche  de  la  mère. 
Les  rélations  entre  parents  et  enfants.  Amis  et  amies.  Hôtes.  Do¬ 
mestiques. 

O  livro  de  Kriekemans  nos  traz,  outrossim,  urna  rica  bibliografía 
sobre  assuntos  de  vida  familiar. 

É  um  livro  rico  de  doutrina,  encanto  para  o  leitor,  formador  do 
coraçâo  e  da  vida  da  juventude  que  deseja  construir  um  lar  segundo 
o  coraçâo  de  Deus. 

J.  E.  C. 


PONTIFICIA  UNIVERSIDADE  CATÓLICA 
DO  RIO  GRANDE  DO  SUL 
Porto  Alegre 

ENTIDADE  MANTENEDORA 

Uniâo  Sul  Brasileira  de  Educaçâo  e  Ensino  (U.S.B.E.E.) 

Irmâos  Ma ristas 

ADM I N I STRACÂO  GERAL 

_» 

Chanceler 

Dom  Alfredo  Vicente  Scherer,  Arceb:spo  de  Porto  Alegre 

Reitor 

Prof.  Irmâo  José  Otâo 

Vice-Reitor 

Prof.  Manoel  Coelho  Parreira 

Secretario  Gérai 

Irmâo  Elvo  Clemente 

Conselho  Universitario 

Prof.  Irmâo  José  Otâo 

Prof.  Manoel  Coelho  Parreira 

Prof.  Francisco  da  Silva  Juruena 

Mons.  Alberto  Etges 

Prof.  Antonio  César  Alves 

Prof.  Ivo  Wolff 

Prof.  Irmâo  Faustino  Joâo 

Prof.  Balthazar  Gama  Barbosa 

Prof.  Wilson  Tupinambá  da  Costa 

Prof.a  Elsa  Helm 

Académico  Milton  Roa 

Ccnselho  Superior 

Prof.  Irmâo  José  Otâo  —  Reitor 

Prof.  Irmâo  Faustino  Joâo  —  Representante  da  U.S.B.E.E. 
Prof.  Irmâo  Leoncio  José  —  Representante  da  U.S.B.E.E. 
Prof.  Irmâo  Liberato  —  Representante  da  U.S.B.E.E. 

Mons.  Alberto  Etges  —  Representante  do  Chanceler. 

DIRETORES  DAS  UNIDADES  UNIVERSITARIAS  EM  1957 

1  —  Faculdade  de  Ciencias  Políticas  e  Económicas:  Prof.  Dr. 

Francisco  da  Silva  Juruena. 

2  —  Faculdade  de  Filosofía,  Ciencias  e  Letras:  Prof.  Ivo 

Wolff. 

3  —  Faculdade  de  Direito:  Prof.  Dr.  Balthazar  Gama  Barbosa. 

4  —  Faculdade  de  Odontología:  Prof.  Wilson  Tupinambá  da 

Costa 

5  —  Escola  de  Servico  Social:  Prof.a  Elsa  Helm 

6  —  Instituto  de  Psicología:  Prof.  Irmâo  Hugo  Danilo. 


PONTIFICIA  UNIVERSIDÀDE  CATÓLICA 
DO  RIO  GRANDE  DO  SUL 
Porto  Alegre 

Equiparada  pelo  Decreto  n.°  25.794  de  9  de  novcmbro  de  1948 

FUNDADA  E  MANTIDA  PELOS  IRMÁOS  MARISTAS 

A  Pontificia  Universidade  Católica  do  R.G.S.  compreende: 

—  INSTITUTOS  UNIVERSITARIOS 

1  —  Faculdade  de  Ciéncias  Políticas  e  Económicas  - — 

—  Fundada  em  1931 

2  —  Faculdade  de  Filosofía,  Ciéncias  e  Letras  - — - 

Fundada  em  1 940 

3  —  Faculdade  de  Direito  —  Fundada  em  1946 

4  —  Faculdade  de  Odontología  —  Fundada  em  1953 

5  —  Escola  de  Serviço  Social  —  Fundada  em  1945 

—  INSTITUTOS  COMPLEMENTARES 

1  —  Instituto  de  Psicología  - —  Fundado  em  1953 

2  —  Centro  de  Pesquisas  Económicas  —  Fundado 

em  1954 

3  —  Curso  de  Orientacóo  Educacional  —  Fundado  em 

1958 


.